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Quinta, 22 de maio de 2025

Artistas ruivos se unem para conta história do grupo em peça

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Hugo Cals, JB Online

RIO - Depois de passar a infância ganhando apelidos como "Pimentinha", "Água de salsicha", "Catapora", "Ferrugem","Grampola", "Arroto de Fanta", "Bozo", "Fofão", entre outros, o ator ruivo Pedro Monteiro passou a trabalhar em alguns comerciais para TV, onde sempre interpretava personagens "nerds".

Em uma dessas campanhas, feita para uma pizzaria, Pedro ouviu do diretor que o personagem do namorado da garota no quadro publicitário seria o ator negro e não ele. Monteiro então teve a idéia de juntar todos esses episódios em que seu semblante ruivo foi vítima de piada em um espetáculo teatral que soa como um desabafo bem-humorado. Em Os ruivos - Uma História de Excluídos na sociedade, que Pedro assina o texto (com Leonardo Neves) e atua, o ator se junta a outros profissionais que tem como característica em comum o tom vermelho de barbas e cabelos.

Com estréia marcada para a próxima quinta-feira, dia 30, no espaço cultural Sérgio Porto, no Humaitá, a peça joga luz em uma minoria excluída que diferente de negros e índios, que possuem cotas em universidades ou reservas ambientais, não possuem direitos especiais. Antes do espetáculo, o público também tem a chance de assistir ao espétaculo Mais Um, escrito pelo dramaturgo paulistano Cássio Pires.

As duas peças teatrais fazem parte do projeto Porto Carioca, que até janeiro irá mostrar novos talentos das artes cênicas do Rio. Em tom de comédia, Os ruivos... alerta para a extinção da raça ruiva, já que segundo estudos científicos as pessoas de cabelos vermelhos, que atualmente representam 1% da população mundial, deixarão de existir no planeta por volta de 2060.

- Mas primeiro nós vamos ter que morrer, e segundo se os ruivos começarem a se relacionar acho que teremos salvação - afirma Monteiro.

Através de histórias, imagens e relatos, o espetáculo tem como objetivo mostrar como é ser ruivo e viver em um país tropical. Ao lado do atores Dida Camero, Cirillo Luna e Lilly Grandmasson, Pedro quer desarticular rótulos, como o do ruivo "nerd", que segundo o ator data desde a antigüidade.

- Acho por que é uma coisa que já vem de muito tempo que ruivos são os mais quietos e mais tímidos. Curioso que, por outro lado, as ruivas são chamadas de fogosas, mulheres em chamas, prostitutas. No século 13 na França um dos reis malditos, Felipe o belo, decretou por edital que todas as prostitutas fossem obrigadas a pintar o cabelo de vermelho, olha que loucura.

Em um país onde os ruivos são vistos como "gringos" que não sabem sambar, Monteiro convoca todos aqueles que já sofreram por seus pêlos avermelhados para se unirem para reinvindicar medidas incomuns, mas que com certeza melhorariam suas vidas, como: protetor solar com FPS maior que 60, direito à meia entrada em dermatologistas, isenção no imposto de renda para aqueles que têm mais de 283 sardas no rosto, seguro de carro grátis para os que têm 60% do corpo coberto por pêlos vermelhos e uma lei que obrigue o governo federal a aumentar a taxa de natalidade de crianças ruivas no país. Obviamente, os ruivos que não fazem parte do elenco também estão convocados para o espetáculo, mesmo que na platéia: todos aqueles que possuem cabelos vermelhos pagam meia-entrada, sem ser preciso comprovar a idade ou a situação estudantil, basta apenas ser uma dessas pessoas que provavelmente já foi chamada de "russo" por algum alheio na rua.

Nos planos de Monteiro, o universo dos ruivos não fica restrito apenas ao palco do teatro. Em parceria com um dos produtores do espetáculo, Cavi Borges, da Cavídeo Produções, o ator está rodando o documentário Movimento vermelho - O filme dos ruivos, que tem data de lançamento marcada para o ano que vem nos cinemas cariocas, e deve combinar trechos do espetáculo com entrevistas com ruivos e não-ruivos.

- No documentário iremos entrevistar pessoas ruivas e não ruivas que sempre quiseram ter os cabelos avermelhado e depois vamos editar com pedaços da peça. Realidade e ficção - resumiu Monteiro.

Serviço

Os Ruivos - Uma História de Excluídos na sociedade

Espaço Cultural Sérgio Porto (Rua Humaitá, 163)

Quintas-feiras (30 de outubro e 6, 13 e 20 de novembro), às 21h30

R$ 20 (estudantes, maiores de 65 anos, funcionários municipais e ruivos pagam meia entrada).