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Quarta, 7 de maio de 2025

Dois livros contam a história da família Buarque de Hollanda

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Duílio Gomes, JB Online

RIO - Se você imagina que exista apenas uma dúzia de pessoas com o sobrenome Buarque de Hollanda ligadas à lexicografia, política, literatura e música, e está de pé, sente-se.

Eles se contam aos milhares, pela recente pesquisa do engenheiro que também assina o sobrenome da família Bartolomeu Buarque de Holanda, no caso, com apenas um L.

O autor, graduado em ciências econômicas e membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, lançou, pela Casa da Palavra, dois livros sobre o assunto, com capa de Victor Burton: um ensaio histórico-genealógico com caudalosas 1.168 páginas e um romance girando também em torno da família, o que obrigou a editora carioca a acondicioná-los em uma caixa.

O ensaio Buarque: uma família brasileira não é, claro, para ser lido de forma tradicional, mas para ser consultado, como uma lista telefônica. Com a qual, aliás, se parece em termos de prenomes e sobrenomes enfileirados de forma infindável.

A família Buarque de Hollanda veio do país europeu que lhe empresta o nome e se instalou, inicialmente, em Pernambuco e Alagoas.

Bartolomeu, para compor seu trabalho, pesquisou durante 20 anos em livros de casamento, batismo e óbito de igrejas e em montanhas de testamentos, inventários e escrituras de cartórios.

Complementou a busca com visitas a arquivos particulares, universidades, bibliotecas e instituições de pesquisas aqui e no exterior.

As dificuldades encontradas explica o autor foram muitas... Em viagem a Portugal, em 1990, tive a oportunidade de consultar o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o Arquivo Histórico Ultramarino, o Arquivo Distrital do Faro, a Biblioteca Nacional de Lisboa, a Biblioteca Pública de Évora, a Biblioteca de Ajuda e a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, o que me possibilitou confrontar documentos e certidões de antepassados portugueses .

O autor reconhece que recolher o passado e registrar a sua memória é um árduo ofício.

O resultado é uma árvore genealógica como não existe igual em qualquer outra família tradicional no país, com os seus entroncamentos os mais diversos (Cavalcanti de Albuquerque, Sarmento, Vasconcelos, Bandeira de Melo, Barros Pimentel, Acioly etc ), incluindo um capitão de cavalaria das tropas holandesas durante a invasão de Pernambuco, ligado à Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais do Brasil.

Os casamentos consangüíneos, comuns no Brasil de séculos atrás, não foram exceção entre os Buarque de Hollanda. O próprio bisavô do autor, Amaro Pereira Buarque de Macedo Lima, casou-se com sua sobrinha Maria Josefina Buarque Acioly Lins.

Para estreitar ainda mais esses laços , segundo um irônico Bartolomeu, casamentos entre primos abundam na família, havendo mesmo o caso de um deles ter casado quase todas as filhas com seus irmãos.

Em determinado trecho do livro, o autor se debruça sobre a presença dos holandeses no Brasil do século 17 e sua ligação com a indústria agroaçucareira.

Quem merece destaque neste capítulo é Calabar, um hábil e inteligente estrategista português que mudou de bandeira e levou os holandeses a uma série de vitórias.

Calabar acreditava que eles eram a melhor solução para o Brasil, em termos de inventividade e recursos técnicos. Sua morte foi semelhante a de Tiradentes enforcado, esquartejado e acusado de traição. Os portugueses não eram lá muito criativos quando tinham de sacrificar seus inimigos no Brasil Colônia.

Fascinado pelo tema, Chico Buarque e Guy Guerra montaram o musical Calabar: o elogio da traição, um dos grandes sucessos de sua carreira, censurado durante a ditadura militar.

Chico Buarque, aliás, é figura de proa neste ensaio genealógico, quando surge ao lado do dicionarista Aurélio Buarque de Hollanda; do seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, e de suas irmãs cantoras, destacando-se, aí, Miúcha.

As fotos de Chico com sua família estão no fim do livro, quando se mostram documentos do século 17, cartas de família e certidões de casamento e batismo.

Quanto ao romance, estranhamente leva o mesmo título do ensaio. O autor preferiu também adotar uma técnica pouco comum ao gênero, o de intertítulos dentro dos capítulos.

Mas a forma explosiva com que inicia o romance é o seu grande trunfo um padre engravida uma mocinha nas Alagoas de três séculos atrás e provoca um escândalo de enormes proporções no país.

Estava nascendo ali, de forma teatral, a família Buarque de Hollanda.