Monique Cardoso, Jornal do Brasil
RIO - Paisagista, arquiteto, pintor. Em agosto do ano que vem comemora-se o centenário do homem que desenhou os mais bonitos jardins do Rio. As homenagens, no entanto, já começaram. Desde o dia 12, Burle Marx (1909-1994) é lembrado em exposição retrospectiva no Paço Imperial.
O lado familiar não ficou esquecido com o lançamento do livro de arte À mesa com Burle Marx, assinado pelas arquitetas Cecília Modesto e Claudia Pinheiro, que recupera, com imagens de dar água na boca, 60 receitas que o artista servia nos memoráveis almoços que deu, ao longo de quatro décadas, em seu sítio, em Pedra de Guaratiba.
O leitor pode escolher uma das 20 capas à disposição, que reproduzem as toalhas de mesa que ele fazia questão de pintar para servir seus convidados.
Burle Marx era um homem que sabia viver. O que ele mais gostava era celebrar a vida descreve Claudia.
Sua obra será muito revisitada agora, mas quisemos mostrar como ele era na intimidade, um homem multifacetado.
Cozinheiro oficial
Com a ajuda de Cleofas Cesar, companheiro do arquiteto e seu cozinheiro oficial, a dupla reuniu mil e um ingredientes e refez as receitas, passo a passo.
Foram atrás das toalhas que ele pintava e, não raro, distribuía aos amigos e convidados dos almoços. À mesa, no sítio, já sentaram nomes como a artista botânica inglesa Margareth Mee, a cantora Mercedes Sosa, o ex-presidente de Portugal Mario Soares, o pintor Alfredo Volpi, o arquiteto Le Courbusier e Lucio Costa e os poetas Pablo Neruda e Vinicius de Moraes.
Cecília, que trabalhou com Burle Marx por 20 anos, é filha do arquiteto Hélio Modesto e participou dos almoços praticamente desde que nasceu. Claudia também já foi convidada.
Havia almoços quase todo sábado. Para poder receber, ele era capaz de vender um quadro. As pessoas chegavam por volta das 11h, meio-dia. A cozinha virava a sala de estar lembra Cecília.
Depois, ele ia para o piano tocar e cantar árias de ópera. Amava Wagner.
O arquiteto Haruyoshi Ono, hoje à frente do escritório Burle Marx, freqüentou o sítio desde 1965, quando foi contratado pelo paisagista que encheu de verde o Parque do Flamengo.
No começo, me sentia acanhado de estar ao lado daquelas pessoas, arquitetos que conhecia dos livros. Mas ele nos deixava à vontade narra Haru, como é conhecido.
No início, quando só ele cozinhava, me oferecia para cortar alho, cebola, descascar batatas.
Haru diz que o objetivo de Burle Marx era fazer com que os convidados começassem a comer com os olhos:
O que me chamava mais a atenção era o capricho com que ele decorava os pratos, com mil cores e uma inventividade enorme. Não era difícil ele reunir 100 pessoas lá.