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Sábado, 10 de maio de 2025

Banda americana Spyro Gyra, ponto alto do festival de Rio das Ostras

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Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil

RIO DAS OSTRAS - Rio das Ostras fez jus a seu nome. Caiu tanta chuva sobre os fãs de jazz e blues, que lotaram a cidade para conferir a sétima edição do festival de música, que terminou neste domingo, que as ruas pareciam mesmo caudalosos rios. Nada que abalasse a perseverança do público, que, munido de guarda-chuvas e capas de plástico, não arredou o pé nas apresentações de nenhuma das atrações castigadas pelos temporais no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival. O aguaceiro começou na quinta e só parou no sábado, com noite brindada pelo show da banda americana Spyro Gyra. A apresentação lavou a alma (sem trocadilhos) dos presentes, na maior lotação dos sete anos de evento. A emoção era dividida pelos próprios músicos do grupo de jazz fusion, que antes de enfrentarem o mar de gente (sem trocadilhos, de novo) se apresentaram, na sexta-feira, no Posto 8, no Arpoador.

Tocar em pequenos clubes gera uma intimidade maior com a plateia e a qualidade do som costuma ser melhor, mas a energia de subir no palco e só ver milhares de cabeças à sua frente é uma emoção indescritível vibrava Scott Ambush, ainda suado e carregando seu inseparável contrabaixo no camarim.

Terceira caipirinha da noite em mãos, Julio Fernandes, guitarrista do Spyro Gyra, comemorava. No palco, era o que mais sorria. Nem parecia que executava intrincados arranjos instrumentais.

Somos uma família. Amigos íntimos mesmo. É uma parceria que vai muito além do palco conta. Essa intimidade se reflete nas apresentações. Quando tocamos, nem pensamos mais, é só olhar um no olho do outro que sai naturalmente.

O Spyro Gyra não vinha ao Brasil desde 1987, quanto integrou o elenco do extinto Free Jazz Festival. O sucesso em Rio das Ostras promete aumentar a assiduidade por aqui.

Quero vir todo ano tocar na frente deste oceano imenso garantia o tecladista e cofundador da banda Tom Schuman. Não sei porque demoramos tanto para voltar ao Brasil. Não sou eu quem teria a melhor resposta para isso. Meu trabalho é tocar e não marcar os shows. Vou rever isso com nosso agente.

Mar de guarda-chuvas

A primeira noite do evento, quarta-feira passada, se deu sob um inspirador céu estrelado. Logo no dia seguinte, o gaitista Jefferson Gonçalves inaugurou o aguaceiro. Pego de surpresa, o público corria para se abrigar nos bares e lojinhas que rodeavam a Cidade do Jazz, ao redor da praia de Costazul. Mesmo de longe, mantiveram-se animados, cantando e batendo o pé ao ritmo do blues. No terceiro dia, sexta-feira, mais água. Dessa vez, prevenidos, todos levaram suas proteções e um mar de guarda-chuvas se aglomerou na frente dos palcos na Lagoa de Iriry, para assistir aos americanos do The Bad Plus, e na praia da Tartaruga, para a apresentação do tecladista Jason Miles e seu tributo a Miles Davis.

Venho aqui desde a primeira edição do festival e nunca vi tanta água declarou o publicitário Paulo Gatti, 40 anos, que atravessou os 170 quilômetros que separam o balneário na Região dos Lagos do Rio para conferir o evento.

Estar presente em todas as edições era, inclusive, motivo de orgulho. Quem não tivesse testemunhado qualquer uma das seis anteriores, reunindo nomes como John Mayall, Egberto Gismonti, John Scofield e Mike Stern, não desfrutava do mesmo status entre os amigos.

Testemunhei o grande crescimento do festival de jazz e blues. Depois, tive a sorte de conseguir vir morar e trabalhar aqui, na Petrobras. Nunca faltarei ao evento - celebrava o técnico de segurança Eduardo Vianna, 38 anos.

Curiosamente, um dos músicos mais aplaudidos no festival não estava escalado oficialmente para se apresentar, mas surpreendeu tanto o público quanto os veteranos instrumentistas que por lá passaram. O virtuoso baixista Michael David, o Pipoquinha, de apenas 13 anos, desceu de Fortaleza, no Ceará, para assistir às apresentações. Revelado no Domingão do Faustão, acabou chamado ao palco e mostrou que sabe tocar como gente grande.

Esse pivete é um monstro avaliou o gaitista Jefferson Gonçalves, com quem Pipoquinha desceu o dedo no braço de seu instrumento de seis cordas, feito sob encomenda e que levou já prevendo uma brecha para mostrar seu talento. Nunca vi alguém tão jovem tocar tanto.

Presente do ídolo

O consagrado baixista Arthur Maia, da banda de Gilberto Gil, ficou tão impressionado com ele, em uma passagem do ex-ministro por Fortaleza, que o presenteou com um instrumento.

Fiquei honrado: ele é o meu maior ídolo vivo conta Pipoquinha. Ganhei um baixo fretless (sem trastes), que é mais difícil de se tocar, mas que passei a dominar.

Cursando a sexta série e praticamente um mestre nos estudos de seu instrumento, Pipoquinha aprendeu as primeiras notas com o pai, o também baixista Elisvan Silva, conhecido no meio musical de Fortaleza como Pipoca. Através de aulas particulares, vídeos e com a ajuda de um dom nato, evoluiu ao ponto de já iniciar uma carreira solo, à frente de um quinteto de jazz instrumental na cidade.

A gente já toca bastante por lá, e este ano quero entrar em estúdio para gravar as músicas do grupo, que eu mesmo componho adianta o garoto.

Leandro Souto Maior viajou a convite da organização do festival