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Sexta, 9 de maio de 2025

Exibição de 'O cavalo de Turim', de Bela Tarr, faz sucesso no festival de NY

O Cavalo de Turim é destaque no NYFF e será mostrado no Festival do Rio

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O cavalo de Turim, estranho como todos os trabalhos do cineasta húngaro, começa com uma introdução de Tarr que resume o teor da história: “Em Turim, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche sai pela porta do número seis da Via Carlo Alberto. Não muito  longe dele, o cocheiro de um tílburi está tendo tentando tocar um cavalo teimoso, perde a paciência e começa a chicotear  o animal. Nietzsche desce a escada, põe  fim a essa cena brutal e, aos prantos, abraça o pescoço do cavalo”

Após esse intróito, o filme desenvolve uma longa e repetitiva  narrativa em torno do cocheiro, de sua filha e do seu cavalo. O novo trabalho de Tarr  – mostrado numa lotada sessão prévia para a imprensa na 49ª edição do Festival de Nova York – traz todas as marcas do seu estilo inimitável, incluindo  o preto e branco, quase nenhum diálogo e atores que trabalham em tons sempre acima ou abaixo do natural. 

Assim, como seus filmes anteriores – O homem de Londres e Satantango, este um épico de 7 horas sobre a vida conturbada de uma família rural  – Tarr aborda os dramas existenciais do homem moderno de forma única e fascinante.

Os filmes do cultuado cineasta e seu universo cinematográfico único,  não se referem ao mundo dos seus personagens ou às tramas vividas por eles, eles tratam, acima de tudo, das histórias do seu próprio mundo muito pessoal. 

No texto de apresentação, Tarr explica a origem do seu filme,  que reflete sobre a vida e, principalmente como as coisas vão mal no mundo de hoje: “Tudo partiu de uma ideia que eu tenho há tempos, desde os anos 60 em Budapeste, quando eu li sobre Nietzsche. Mas não queria  dar uma solução ou indicar para onde as pessoas devem ir e sim mostrar como vemos o mundo. A velha questão é sobre o que estamos fazendo aqui”, afirma.  

Esses e outros aspectos estão fortemente presentes no filme, principalmente as questões da dor e como lidamos com ela. “Não se pode expressar a alma sem dor. Acredito profundamente que a audiência identificará a dor, o mundo está repleto dela. Mas para fazer o filme, nós também sofremos. O ponto principal do filme é a vida”, ressalta.

Tarr trabalha sempre com a mesma equipe que inclui, entre outros, a co-diretora Agnes Hranitzky, o fotógrafo Fred Kelemen e o compositor Mihály. “Já estive pensando muito nas razões de trabalharmos há tantos anos juntos. Acho que é porque não precisamos discutir, debater pontos das filmagens; enfim, é pegar a câmera e filmar”, resume.

O Cavalo de Turim – que deu a Tarr o Prêmio do Júri em Berlim –  integra também a programação do próximo Festival do Rio (06 a 18.10) e, como ele tem declarado,  pode ser o último filme que realiza.