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Terça, 27 de maio de 2025

Crítica: 'L'appolonide, os amores da casa de tolerância'

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O novo filme de Bertrand Bonello (de Tirésias) nos apresenta o mundo da prostituição numa casa de tolerância entre o final do século XIX e o começo do XX. A inovação acontece pelo fato de vermos, através dos olhos das doze mulheres que vivem na casa, como se sentem em relação ao trabalho que executam e como é a convivência entre elas mesmas e os burgueses carentes a quem atendem diariamente. Percebemos logo que há muito mais naquele lugar do que simplesmente mulheres em busca de um salário.

O dia a dia no casarão elegante pode ser muitas vezes sombrio e solitário, mas ao mesmo tempo familiar e acolhedor. Com a chegada de uma nova companheira de trabalho, por exemplo, uma das mulheres a instrui dizendo que, ali, todas elas se ajudam e são amigas, e que quem não estiver de acordo, não será mais bem-vinda.

Sob vestidos finos e caros - representando muito bem, aliás, a vestimenta da burguesia abastada da época - escondem-se segredos de amor e ódio. Há personagens que se apaixonam (mulheres e homens) por seus amantes no prostíbulo, e há quem tenha passado a detestar o ofício, como é o caso da extraordinária personagem que teve seu rosto dilacerado no formato de um eterno sorriso, atrocidade feita por um de seus antigos clientes.

O filme é uma grande homenagem a essas mulheres - e, no fundo, a todas elas, prostitutas ou não. Na busca por liberdade e independência, elas escolheram, sim, submeter-se aos desejos daqueles homens com dinheiro sobrando e carinho faltando, sem necessariamente perder as esperanças de encontrar o verdadeiro amor e de ter uma vida mais justa: não muito distante do que acontecia, à época, também com as moças de família, que viam seus maridos saírem todas as noites em busca do que, segundo a sociedade, não poderiam proporcionar, elas mesmas, a eles.

Cotação: *** (Ótimo)