A segunda noite do 40º Festival de Cinema de Gramado, neste sábado (11), recebeu os dois primeiros competidores ao Kikito de curta-metragem brasileiro, além de Artigas, La Redota - que concorre ao prêmio estrangeiro -, e Super Nada, da categoria de longa-metragem nacional.
O curta Linear, de Amir Admoni, é um retrato da capital paulistana. Com recursos de animação, o diretor usou um homem minúsculo para protagonizar a trama. Vestido com uma roupa parecida com a dos garis, o personagem é responsável por traçar a linha branca que divide as faixas de trânsito da metrópole. Sem ser notado pelas pessoas que o rodeiam, ele tem um impulso anárquico - e quase artístico - ao espalhar a tinta em vários sentidos, causando um grande acidente de trânsito.
Para retratar o drama do aborto, em A Triste História de Kid-Punhetinha, os diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade escolheram o recurso preto e branco. Na história, Victor e Verônica estudam na mesma classe. A menina, que nunca beijou ninguém, é apaixonada por ele. Um dia, por pressão dos amigos, o rapaz faz sexo com ela. Dois meses depois, no silêncio e na angústia, os dois vão a uma clínica de aborto.
O primeiro longa-metragem estrangeiro traz uma visão do líder libertário do Uruguai José Artigas. Radicado no Brasil há anos, o diretor Cesar Charlone se identificou como um "cidadão uruguaio, torcedor do Peñarol", mas que aprendeu cinema em terras brasileiras. Antes da exibição do filme, ele comentou que contou com o apoio de vários historiadores para dar forma à história do revolucionário José Artigas, focando-se mais nas questões cinematográficas.
Artigas, La Redota, começa em 1884, quando o famoso pintor uruguaio Juan Manuel Blanes é encarregado pelo ditador do país a retratar o líder do exército popular, organizado no interior do Uruguai. Para resgatar o espírito do exército artiguista, Blanes dispõe de um caderno de desenhos feito em 1811 por Guzmán Larra, espião espanhol que havia sido contratado para assassinar Artigas. Na época, Larra esteve no acampamento em Ayuí e vivenciou os anseios dos 8 mil seguidores do libertário.
O filme faz parte de uma série de longas-metragens que uma TV espanhola está produzindo sobre libertadores da América, "que queriam a América unida", explicou Charlone. Segundo o cineasta, todos os envolvidos na produção participaram ativamente: "é o filme de um condutor conduzido", brincou, ao frisar que o longa foi feito "com muito idealismo artiguista".
O segundo concorrente ao Kikito de longa-metragem brasileiro, por sua vez, abordou dramas psicológicos, usando como plano de fundo a capital paulista. Super Nada, de Rubens Rewald e Rossana Foglia é ambientado em lugares como a Baixa Augusta e o Viaduto Costa e Silva (o Minhocão), e escancara a desordem emocional da metrópole.
Vivido por Marat Descartes, o protagonista Guto é um ator que sonha em engatar sua carreira. Ele faz vários testes, frequenta aulas de expressão corporal e se exercita. Seu ídolo, o velho e decadente humorista Zeca - encarnado por Jair Rodrigues - um dia cruza o seu caminho. Entre doses de conhaque no centro da cidade, os dois acabam entrelaçando seus dramas pessoais.