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Terça, 13 de maio de 2025

Fotógrafo Marcos Hermes volta às origens ao lançar livro com mais de 300 imagens de músicos

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“De Sarcófago a Carla Perez”, ele brinca. A diversidade musical do país se reflete nas lentes de Marcos Hermes. Aos 44 anos de vida e impressionantes 29 de carreira, um dos fotógrafos mais importantes da música brasileira contemporânea agrega estilos em toda essa amplitude em seu primeiro livro – que lança hoje, em sua cidade natal, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

No Rio de Janeiro, o lançamento será em setembro, com a distribuição para as livrarias, mas “Brasilerô”, publicado de forma independente, já está à venda pelo site do fotógrafo (www.marcoshermes.com/shop). 

Do axé ao death metal, ele reúne mais de 300 fotografias, inclusive inéditas, feitas em shows, sessões para capas de discos e para promoções de festivais, entre outras, com uma seleção que vai de Reginaldo Rossi  à família Caymmi, de Pavilhão 9 a Baby do Brasil, passando por Caetano e Gil. 

Com um currículo que inclui megashows internacionais do quilate de Paul McCartney, Rolling Stones e Bob Dylan, por que o fotógrafo optou por fazer seu livro exclusivamente com músicos brasileiros?

“Depois de um tempo fazendo uma infinidade de shows de gente tão diferente, comecei a perceber que estava documentando uma época muito especial, em que a diversidade e as misturas estavam sendo respeitadas e aproveitadas por artistas de estilos antagônicos”, avalia Hermes, que, no Rock in Rio, fotografa o Palco Sunset, especial para encontros inusitados como o do Sepultura com Zé Ramalho. Ali, ele também começa a  trabalhar com vídeos e outras linguagens do audiovisual.

Baterista desde a adolescência, Marcos Hermes chegou à fotografia pela música, e deve um bocado disso ao Centro de Nova Iguaçu, onde cresceu. “Comecei como músico e cresci em um bairro onde havia muitos colecionadores de discos, principalmente do metal da década de 1980. Isso me ajudou a conhecer as bandas não só pelo som, mas também pela imagem delas e, consequentemente, a ter ideias visuais”, lembra ele, que, na época, passou a usar locações de sua cidade natal, como a Serra do Vulcão, para clicar bandas como Strong Wind, da cena local de heavy metal.

A estreia profissional foi  em alto estilo, ao fotografar o primeiro show do Metallica no Rio de Janeiro, com meros 15 anos, em 1989. “Passei a fazer fanzines e a frequentar o Circo Voador. Acabei conseguindo me credenciar, para cobrir a coletiva e, depois, o show do Metallica no Maracanãzinho, pelo programa ‘Guitarras’, da Fluminense FM. Depois, passei a colaborar para a MadHouse, uma revista argentina de metal”, lembra.

Entre os primórdios e a especialização em imagens musicais, houve o fotojornalismo, “minha formação técnica”, com passagens pela “Jornal de Hoje”, de Nova Iguaçu, e a sucursal de “O Dia” na Baixada Fluminense, de 1993 a 1998.

A consolidação veio no ano seguinte, quando, após fazer o Curso Abril de Jornalismo, ele se mudou para São Paulo, onde fotografava para as revistas da editora e capas de discos. Logo, passou a trabalhar somente com música, a partir de duas parcerias que duram até hoje, com Ney Matogrosso e Cássia Eller (1962-2001) – ela, por meio do filho, Chicão, desde a infância com a mãe até a carreira musical, já com o nome artístico Chico Chico. Ele elogia a relação direta do fotógrafo na música. “Até por ser músico também, é sensível para isso”, ressalta o cantor e compositor. “Além disso, é um parceiro. Depois que me lancei na música, o convite partiu dele mesmo. Sempre tem boas ideias”.

Sobre Cássia Eller, Marcos Hermes diz: “Ela foi um cometa que passou na minha vida. No palco, era aquele furacão; na vida privada, uma pessoa reservada, que gostava de estar sempre com o Chico, com a Eugênia [sua companheira] e os amigos dela – que são amigos uns dos outros até hoje. Por ter registrado a sua vida particular, hoje, me sinto com grande responsabilidade de cuidar da imagem dela”, afirma Marcos Hermes, que conheceu a cantora ao registrar as sessões do DVD ao vivo “Com você… meu mundo ficaria completo”, gravado em 1999 e lançado em 2000, a partir de um especial da MTV baseado no álbum de mesmo nome, com sucessos como “O segundo sol” e “Meu mundo ficaria completo (com você)”.

Também em 1999, a partir da turnê do álbum “Olhos de farol”, no Canecão, surgiu a parceria com Ney Matogrosso, com quem trabalha até hoje. 

Sobre Ney, Marcos Hermes comenta: “Ele é o nosso camaleão, se reinventa a cada disco que grava– e escolhe quem são os profissionais que vão estar com ele. Cuida da direção, da produção dos figurinos, da iluminação”. 

A respeito de Marcos Hermes, o cantor diz que “é uma pessoa criativa, que inventa ideias: “Quando fiz o ‘Atento aos sinais’ [de 2013], a capa foi uma coisa que ele inventou. Ele me chamou e disse: ‘Fiz uma brincadeira aqui, mas acho que você não vai querer’. E eu quis. Na imagem, não era eu, parecia uma entidade”, brinca o cantor, que, em 2009, chegou a gravar uma música, “Dentro de você” com o Cabaret, banda puxada para o glam rock em que o fotógrafo tocava bateria. 

Ney, aliás, ilustra a capa de “Brasilerô”, em uma imagem na qual o fotógrafo joga com os contrastes de luz e sombra na frente do cantor, ressaltando sua imagem com o fundo escuro.

As técnicas de fotografia ocupam parte do livro de estreia  de  Marcos Hermes, que resume: “Tem muita diversidade de técnica para fotografar música, seja em shows ou em locações, com utilização de fontes de luz diferentes – natural, artificial. Procuro explicar parte de como faço meu trabalho e, assim, orientar os leitores também”, conta ele, que, para lançar “Brasilerô” sem editora, abriu um crowdfunding para custear a produção com pré-venda. “Também tive apoio da Shure, fabricante de microfones, e da Leograf – gráfica que me deu um bom desconto. Fiz questão de editar um livro de qualidade técnica, inspirado nas publicações da Taschen”, afirma, referindo-se à editora alemã especializada em livros de arte. 

Marcos Hermes também ganhou, de músicos clicados por ele, textos  para cada um dos seis temas do livro: “Encontros” foram descritos por Zé Ricardo, músico e produtor do Palco Sunset do Rock in Rio. “Tem uns encontros totalmente únicos... Hebe Camargo com Daniel, Caetano com Jair Rodrigues”, exemplifica.   

A cantora Sandy apresenta o capítulo “Eles e eu”, de retratos, enquanto o guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, escreveu sobre o tema “Shows”. Chico Chico falou da mãe, Cássia Eller; e Zeca Baleiro, de Ney Matogrosso. Por fim, o tema “Daqui para frente” ficou a cargo de Chico César, “que se mistura com todo mundo”, conta Hermes, que ainda surpreendeu alguns músicos com fotos inéditas que eles desconheciam. 

“Nos Paralamas, nós sempre trabalhamos com o Maurício Valladares, que é nosso fotógrafo oficial. Então, nem sabíamos das fotos que o Marcos Hermes veio nos mostrar quando pediu autorização para incluí-las no livro”, ressalta o baterista João Barone.

Elas flagram os Paralamas do Sucesso cerca de um ano antes do acidente de ultraleve em que Herbert Vianna perdeu a mulher e ficou paraplégico, com o legionário Dado Villa-Lobos reforçando a banda na segunda guitarra. O jornalista Pedro Só assina o prefácio. “Ficamos felizes de sermos incluídos em um livro tão bacana, de um fotógrafo que sabe estar na hora certa no lugar certo”, elogia Barone. 

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SERVIÇO

BRASILEIRÔ – Lançamento do livro

Reserva Gastronomia. Rua Doutor Barros Junior, 862 - Centro de Nova Iguaçu. Vendas no 

site www.marcoshermes.com/shop, a R$ 179.