Para a corrupção e o maior assalto na história da Petrobras existirem, uma peça era fundamental para o esquema funcionar: um banco para receber e lavar os recursos, e o Credit Suisse foi um dos principais bancos receptadores dos bilhões de dólares roubados pelas quadrilhas que quase destruíram a estatal brasileira, de acordo com acusação formal do governo suíço contra o banco de seu próprio país, conforme apurou o JB .
No entanto, Sergio Moro, durante todo o processo da Lava Jato, surpreendia a todos por jamais ter pedido a prisão preventiva ou, mesmo depoimento coercitivo de quem possui todas as informações de como o banco suíço captava os recursos dos marginais que assaltaram a Petrobras e, sobretudo o nome dos depositantes: Antonio Quintella, ex-presidente do Credit Suisse no Brasil, que conhecia, à época, todos os brasileiros que fizeram depósitos com dinheiro roubado da estatal.
No Brasil, o Coaf rastreia qualquer saque acima de R$ 50 mil, enquanto bilhões de dólares roubados da Petrobras foram remetidos ilegalmente para fora do país, sem que os dirigentes dos bancos estrangeiros que captavam os recursos fossem, sequer, chamados para dar explicações, mesmo quando vários países da Europa e Estados Unidos puniam, processavam e condenavam o Credit Suisse.
O esquema do banco funcionava assim: vários gerentes captadores vinham diretamente da Suiça ao Brasil para abrir contas e receber os depósitos dos membros das quadrilhas que assaltavam a Petrobras. Antonio Quintella, na qualidade de presidente do Banco no Brasil, sabia de todo o esquema e o nome dos bandidos/depositantes. Mesmo depois de comprovado o envolvimento do banco na receptação do dinheiro roubado, Quintella ainda não foi preso, nem chamado para depor. Segundo fontes do Ministério Público as investigações ainda continuam .
Desconsiderando o envolvimento e condenação do Credit Suisse em fraudes nos Estados Unidos, e a decisão do governo suíço, por meio da Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço (FINMA), que acusou, oficialmente, a instituição de ter sido conivente com brasileiros que tinham conta na instituição - cujos recursos eram originários de corrupção na Petrobras e até mesmo cartolas da Fifa -, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffolli, representando a maior instituição do Judiciário brasileiro, compareceu a evento promovido pelo banco, em São Paulo, na quarta-feira.
No total, a Operação Lava Jato identificou 38 contas no Credit Suisse. O operador Júlio Camargo, entregou, em delação premiada à Justiça Federal, os extratos bancários de suas contas na Suíça, de onde saíram US$ 10 milhões para Renato Duque, o ex-diretor da Petrobras e amigo de Antonio Quintella, condenado e preso em Curitiba. Umas das contas era no Credit Suisse.
O lobista Jorge Luz, um dos operadores do PMDB, também usava o Credit Suisse para lavar o dinheiro de corrupção na Petrobras. Ele entregou ao então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, os nomes dos beneficiários dos repasses que fez de sua conta no banco suíço.
Também operador do PMDB, Mario Miranda, confessou seus crimes de corrupção e deixou à disposição da Justiça US$ 7,2 milhões, frutos, segundo sua confissão, de práticas ilícitas em contratos com a Petrobras. O dinheiro estava depositado no Credit Suisse.
A FINMA encomendou uma investigação que mostrou o comportamento do Credit Suisse entre 2006 e 2016. Um processo contra o banco foi aberto em 2017, diante das semelhanças que as autoridades encontraram entre a Petrobras e dirigentes da Fifa, dentre eles os ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira e José Maria Marin, que foi condenado por corrupção e está preso nos Estados Unidos.
A conclusão do processo foi de que o banco “infringiu suas obrigações de supervisionar o combate à lavagem de dinheiro em todos os três casos”. Mas nenhum desses fatos foram motivos para impedir a presença do presidente do STF, ministro Dias Toffolli, em seminário do banco suíço, em São Paulo.
Credit Suisse é investigado por diversos países europeus
As acusações de crime de lavagem de dinheiro contra o Credit Suisse não param nas condenações e nas multas bilionárias nos Estados Unidos e na Suíça. O banco está sendo investigado pelo mesmo motivo em vários países europeus. Na Holanda, promotores acusam o banco de lavagem de dinheiro e evasão fiscal e foram desencadeadas ações sobre dezenas de milhares de contas suspeitas em cinco países.
As buscas coordenadas começaram ano passado em Holanda, Inglaterra, Alemanha, França e, também, na Austrália. As ações estão sendo coordenadas pelo Departamento Holandês para a acusação de crimes financeiros – FIOD. O Credit Suisse declarou que as autoridades locais visitaram seus escritórios em Amsterdã, Londres e Paris “sobre questões fiscais de clientes” e que estava cooperando.
No Brasil tudo é diferente: enquanto o banco é condenado e investigado no mundo todo, aqui atua como receptador de dinheiro roubado da Petrobras e o Banco Central do Brasil e as autoridades judiciais ainda não tomaram nenhuma medida punitiva e nenhuma multa por suas ações criminais em território e jurisdição brasileira, como aconteceu nos Estados Unidos, onde o banco recebeu multa de US$ 5 bilhões por fraudes no mercado americano.
No Brasil, o banco convida e o Presidente do STF, a maior autoridade judicial do país, aceita fazer palestra e falar para centenas de clientes do banco condenado e investigado por fraudes e lavagem de dinheiro ao redor do mundo.
Filho de Sérgio Machado foi diretor do banco no Brasil
Sérgio Firmeza Machado, filho do ex-presidente da Transpetro, tal como o pai, teve de fazer delação premiada na Justiça brasileira. Serginho, como era conhecido no mercado até se mudar para Londres e aplicar centenas de milhões de dólares obtidos em operações fraudulentas pelo pai, foi diretor e responsável pela área, de “operações estruturadas” do Credit Suisse no Brasil, a mesmo denominação que tinha a Odebrecht para o departamento de propinas .
No Brasil, Credit Suisse é sócio do fundo Canvas
Um dos principais acionistas do Fundo Canvas, que tem o banco suíço com 20% das cotas, é Antonio Quintella, ex presidente do Credit Suisse no Brasil e nas Bahamas. Criado em 2012, o fundo é especializado na compra de créditos podres, conhecido como “distressed assets”. Quintella traz em seu currículo a operação mais escandalosa da história do mercado de capitais brasileiro, a abertura de capital da Agrenco, coordenada pelo Credit Suisse – e que levou seus controladores à prisão por fraude e transformou o dinheiro dos investidores em pó. Além de Quintella, o Fundo Canvas tem como diretor financeiro é Rafael Fritsch, que ficou conhecido no mercado financeiro por ter causado pesado prejuízo a um ex-presidente do BNDES. Rafael é filho de Winston Fritsch, ex-presidente da corretora Lemann Brothers, protagonista do maior tombo no mercado financeiro da história dos Estados Unidos. No Brasil, Winston se aventurou no mercado de petróleo e foi presidente da Petra, empresa que deixou rombo bilionário após operação fracassada de prospecção.
O Fundo Canvas e o Credit Suisse captaram, rencetemente, US$ 450 milhões da PJT – Park Hill Group, empresa financeira americana com sede em Nova Iorque. Em 2016 a PJT foi processada pelo bilionário americano Louis Bacon. Motivo: o diretor da PJT, Andrew Carpersen, foi condenado por engendrar uma “pirâmide” dentro da empresa lesando centenas de clientes. O total desviado soma cerca de US$ 38 milhões. Processado em Nova Iorque, foi condenado a quatro anos de prisão. Ele deve ser solto somente em 2020.