Quinto país em extensão territorial, recursos naturais e população de 209 milhões de habitantes, o Brasil já está entre as 10 maiores economias do mundo e está cotado – tanto nas projeções para 2010 como para 2050 – a ocupar o lugar que é seu: o 5º posto também no ranking dos maiores PIBs do mundo. A lista, que faz jus à combinação de território e população, põe a China (que hoje tem 1,3 bilhões de habitantes e o 2º PIB do mundo, atrás dos Estados Unidos), na liderança, seguido da Índia, que também tem hoje 1,3 bilhões de habitantes, com os EUA caindo para o 3º posto.
O fato decorre dos altos índices de crescimento econômico de China e Índia (respectivamente na faixa de 6% e 7% ao ano), contra 2,5% a 3% dos EUA. Mas e o Brasil, como é que fica apenas em 5º lugar, ultrapassado pela Indonésia, um país formado por 17 mil ilhas dispostas na linha do Equador, hoje a 4ª maior população do mundo, com 270 milhões de habitantes?
O balanço do comércio mundial de 2018, divulgado hoje pela Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra como o Brasil está mal na fita. Mesmo sendo o 8º PIB do Mundo (a confirmar se não vamos perder o posto) o Brasil figura apenas em 27º lugar entre os exportadores do mundo e em apenas 28º posto entre as nações importadoras. Trata-se de uma demonstração do baixíssimo índice de abertura economia brasileira.
Não vale comparar o Brasil com a dinâmica Cingapura, um país insular de apenas 5,5 milhões de habitantes (menor que os 6,6 milhões de habitantes do município do Rio de Janeiro) situada na península da Malásia, que é uma das economias mais abertas do mundo, incluindo algumas zonas de Processamento de Exportação em seu pequeno território. Em 2018, Cingapura estava em 15º lugar nas exportações, com US$ 413 bilhões, sendo US$ 209 de produtos domésticos e US$ 203 bilhões de produtos reprocessados nas ZPEs. Nas importações, o país era o 16º, com US$ 371 bilhões importados, dos quais US$ 167 bilhões destinados às ZPEs.
O Brasil exportou US$ 240 bilhões, com crescimento de 10%, mas ficou com apenas 1,2% do comércio mundial. Mas importações, o país era apenas o 28º, com compras de US$ 189 bilhões, um aumento de 20% sobre 2017, mas com participação de apenas 0,9% no comércio mundial.
Em 1985, quando fui cobrir a reunião do Fundo Monetário Internacional na Coreia do Sul, o Brasil tinha os mesmos 1,2% das exportações mundiais e a pequena Coreia, que hoje tem 51,5 milhões de habitantes, um pouco mais que os 45,5 milhões de habitantes de Sã Paulo, representava 0,5% das exportações mundiais. Sabe quanto exporta a Coreia hoje? US$ 605 bilhões, mais de duas vezes e meia o total do Brasil, equivalendo a 3,1% das exportações mundiais.
Pois é, a Coreia ocupa o 6º posto nas exportações mundiais. Só perde, pela ordem, para China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Holanda (está inflada pelas exportações de petróleo concentradas no porto de Roterdã, que é o grande entreposto distribuidor para a União Europeia. Está à frente da França e Canadá.
E por que houve o grande salto da Coreia do Sul, enquanto o Brasil ficou no mesmo ponto? A razão está na composição da pauta de exportação da Coreia – produtos de alta tecnologia, a começar por semicondutores eletrônicos, telas planas e celulares (o país é a terra da LG e da Samsung), além de automóveis que lideram a lista dos top 10. Os produtos de alta tecnologia da Coreia decorrem da bem sucedida revolução educacional do país nos anos 60, o ano da reconstrução do país, após o fim da guerra, em 1953.
A massa de cérebros formados nas escolas (o país, junto com a Finlândia domina Olimpíadas escolares de matemática) foi usada no projeto de up grade da indústria do país, sob a liderança das empreiteiras bancadas pelos EUA na reconstrução do Sul, que era eminentemente agrícola, enquanto o Norte era industrial (a reforma agrária também foi aplicada nos anos 60). Enquanto isso, no Brasil, as empreiteiras fizeram um projeto de escalada industrial em setores pouco dinâmicos a Odebrecht, por exemplo, verticalizou a atuação na petroquímica, com a Braskem, à venda há oito meses.
Sem a multiplicação regular de cérebros para acompanhar a modernização da economia, com baixa articulação entre as universidades e as empresas líderes do país, o Brasil se contentou em exportar produtos primários (minerais e petróleo) e agrícolas. Os poucos manufaturados exportados são de filiais de montadoras internacionais ou de aviões da Embraer (até 2018 uma companhia com controle de investidores estrangeiros que importavam mais de 65% dos componentes dos aviões, até a venda de 80% do controle à Boeing). Poucos ganhos no comércio e nos royalties e direitos autorais e pipelines.
Para chegar ao 5º posto desenhado pelas empresas de consultoria em 2030 ou 2050, não basta apenas a reforma da Previdência recuperar o espaço de crescimento da economia brasileira. Muitas reformas terão de ser feitas e a abertura comercial é indispensável. Antes cedo do que nunca, o tema tem de ser tratado.
Antes, terá de superar Austrália, Tailândia, sim, a pequena Tailândia exporta bem mais que o Brasil (US$ 252 bilhões), a Malásia (US$ 247 milhões) e até mesmo o pequeno Vietnam, com vendas de US$ 246 bilhões no ano passado. Um detalha que poucos sabem, o Vietnam, que abriu sua economia depois de vencer os Estados Unidos na guerra dos anos 60 e começo dos ano 70, teve investimentos maciços do Banco Mundial para reconstruir o país e abrir sua economia (hoje em qualquer loja da Zara é comum ver-se uma roupa made in Vietnam), se tornou o terceiro maior produtor de café do mundo (é o maior exportador do café robusta, ou conilon, que o Brasil produz no Espírito Santo). Menos mal que se o café do Vietnam entrar na China ou na Índia, abrirá caminho para os café arábicas do Brasil ou da Colômbia fazerem o blend nas torrefações de café: parte conilon, parte dos cafés arábicas mais finos. Mas ainda na pauta de produtos sem tecnologia.