'Não é meu papel construir maioria para o governo', diz presidente de comissão da Previdência

Ramos faz parte do grupo de descontentes com a gestão Bolsonaro

Por THIAGO RESENDE E ANGELA BOLDRINI

Marcelo Ramos

O presidente da comissão especial que analisa a reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), afirmou que não atuará como articulador da proposta. "Ter maioria não é tarefa minha", afirmou à reportagem nesta quinta-feira (25).

Ramos faz parte do grupo de descontentes com o governo. Seu partido, o PR, é um dos que mais tem feito críticas à articulação da gestão Jair Bolsonaro. Apesar disso, diz que sua responsabilidade com a Previdência supera antipatias.

O presidente alfinetou o PSL, que teria criado clima ruim na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) com seus discursos. "Não vai caber a mim aconselhar quem é líder do governo no Congresso, ou quem é da bancada do presidente, mas eu acho que eles têm que refletir que mais importante do que tentar ter razão ou falar para as redes sociais é ter a proposta aprovada", afirmou.

 

Pergunta - Na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o presidente, Felipe Francischini (PSL-PR), teve papel fundamental na articulação política a favor da reforma. O sr. assumirá uma função semelhante?

Marcelo Ramos - Me parece que na comissão especial há um consenso maior. Não em torno do governo, mas em torno da proposta. Eu não faço nada pelo governo. Eu não ajudei a aprovar a reforma na CCJ pelo governo. Eu ajudei pelo Brasil. Não posso e não é meu papel constituir maioria para o governo. O meu papel é criar um ambiente para que a proposta chegue a ser votada.

P - O PR já se posicionou contra o endurecimento das regras de aposentadorias para professores. O sr. acha que esse tema vai ser excluído da proposta?

MR - Talvez na comissão especial, não. Mas no plenário, sim. Eu acho difícil que o governo tenha mais de 346 votos no plenário. Sem os votos do PR, essa questão dos professores deve cair. Hoje a maioria da Casa não é oposição nem governo. A maioria da Casa são os independentes. Isso é muito bom para a democracia.

P - Qual a sua previsão de data para que a PEC seja votada?

MR - Eu não tive tempo para preparar um calendário. Eu ainda vou fazer o plano de trabalho.

P - Se o governo pedir para acelerar a votação, isso será possível?

MR - O problema é que o governo tem que mandar o pedido de votação e mandar os votos também. Eu só coloco para votar quando tiver certeza que [a PEC] não vai ser derrotada. Eu tenho responsabilidade com o país.

P - A oposição deve atuar para obstruir e atrasar a votação. Como o sr. vai conduzir os trabalhos?

MR - Eu conversei com eles e falei que eu vou permitir todos as obstruções do regimento, mas não vou permitir a quebra da autoridade e não vou permitir que coloquem a votação da matéria em risco. Ela será votada. Não estou dizendo que ela será aprovada, porque ter maioria não é tarefa minha.

P - Na CCJ incomodou o centrão que o PSL estava alongando a discussão. O sr. pretende dialogar para evitar essa "obstrução governista"?

MR - Eu acho que o problema menor é que o tempo que eles falam, o maior é que eles criam um ambiente ruim dentro da comissão. Não vai caber a mim aconselhar quem é líder do governo no Congresso, ou quem é da bancada do presidente, mas eu acho que eles têm que refletir que mais importante do que tentar ter razão ou falar para as redes sociais é ter a proposta aprovada. Tem que ter bom senso.

P - Como construir maioria? A comissão é mais pró-reforma?

MR - Quem tem maioria hoje é o centro, não é o PT nem o PSL. São os partidos independentes que vão aprovar ou não a reforma. A comissão é esmagadoramente pró-reforma, o problema é que reforma da Previdência é um tema em que todo mundo é a favor até que tenha proposta.

P - Capitalização sai com certeza ou o governo pode negociar?

MR - O Bolsonaro já disse que pode tirar! Quando ele disse que podia tirar, ele tirou. Até porque não pode um presidente que mandou a proposta ser o bonzinho que tinha e nós que recebemos sermos os maus que vamos colocar. Não existe isso.