Os grandes bancos brasileiros estão negociando com a Odebrecht uma recuperação extrajudicial do conglomerado, disse nesta terça-feira o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari.
"Estamos preparados para todos os cenários, mas estamos negociando a possibilidade de recuperação extrajudicial", disse Lazari a jornalistas, após palestra no Ciab, evento anual de tecnologia do setor bancário.
A afirmação indica alternativas que a holding dona da OEC, maior empreiteira do país, e da Braskem pode estar buscando juntamente com seus principais credores para evitar uma batalha na justiça que poderia ser a maior recuperação judicial da história no Brasil.
Uma fonte familiarizada com a Odebrecht confirmou que a companhia está negociando a possibilidade de recuperação extrajudicial com os bancos.
Com cerca de 70 bilhões de reais em dívidas, a Odebrecht tenta evitar ir pelo mesmo caminho de sua subsidiária do agronegócio, a Atvos, que no final de maio pediu recuperação judicial após uma investidora norte-americana, a Lone Star, ter conseguido na Justiça uma ordem de bloqueio do caixa da companhia.
Além da recuperação da Atvos, empresa cujo controle chegou a ser oferecida pela Odebrecht para os bancos como contrapartida a um pedido de repactuação de dívidas, outro revés recente nas conversas foi a desistência da LyondellBasell, na semana passada, de comprar o controle da Braskem. Ativos da petroquímica também tinham sido oferecidos pela Odebrecht para facilitar as conversas com credores.
A recuperação judicial, que protege empresas de terem dívidas executadas por credores e ser levada a uma falência, também é um caminho que os bancos procuram evitar, uma vez que isso coloca os credores numa fila para receber seus empréstimos de volta, junto com funcionários, governo, fornecedores, entre outros.
A operadora de telecomunicações Oi protagonizou em 2016 o maior pedido de recuperação judicial do país, com dívidas de 65 bilhões de reais. Em seu plano de recuperação, a empresa propôs corte de até 70 por cento no valor que devia a credores.
Desde que se viu atingida pela combinação de recessão profunda no país com os efeito da operação Lava Jato, da qual foi um dos principais alvos, a Odebrecht viu as receitas minguarem e as dívidas se amontoarem.
Desde então, os bancos começaram a gradualmente provisionar recursos para possíveis perdas com calotes da companhia, enquanto negociavam maiores garantias como condição para alongar vencimentos. Segundo executivos de bancos, em pelo menos dois deles os créditos contra a Odebrecht já são tratadas como recuperação de dívida.
Embora a nomenclatura seja parecida, a recuperação extrajudicial tem um andamento totalmente distinto, com credores e tomador em geral acertando um alongamento de prazo para pagamento das dívidas, mas sem um desconto.
Foi essa a solução encontrada para a Ocyan, ex-Odebrecht Óleo e Gás, subsidiária da Odebrecht cuja situação financeira era uma das mais agudas devido à crise conjunta da Petrobras e de todo o setor de óleo e gás.
Aluisio Alves - Reuters
A maior dívida corporativa privada do país
(Gilberto Menezes Côrtes)
O Grupo Odebrecht, incluindo as empresas controladas pela holding Construtora Norberto Odebrecht, como a petroquímica Braskem, a Odebrecht Engenharia e Construções, a Ocyan (na área de petróleo&gás, incluindo o estaleiro Paraguaçu-BA), a Odebrecht Transport e a ORs (Odebrecht Realizações Imobiliárias) e a Atvos, que pediu recuperação judicial há duas semanas, deve quase R$ 90 bilhões. É a maior dívida corporativa privada do Brasil.
Só ao BNDES as dívidas somadas do grupo CNO passam de R$ 40 bilhões. O Banco do Brasil é credor de pouco mais de R$ 9 bilhões. A Caixa Econômica Federal tem créditos de R$ 7 bilhões.
Bradesco e Itaú têm cada um cerca de R$ 4,5 bilhões financiados com garantia de ações da Braskem, assim como o BNDES, em parte. O Santander tem créditos em torno de R$ 3 bilhões e o Banco Votorantim, do qual o BB tem 49% do capital, é credor de cerca de R$ 1 bilhão.
Mercado já desconta o impacto
Há ainda dívidas de debêntures e bônus internacionais lançados junto a investidores no Brasil e no exterior. Foi um protesto de investidor internacional que precipitou o pedido de recuperação judicial da Atvos, empresa agroindustrial, produtora de açúcar e álcool. Os papéis estão sendo negociados no exterior com deágio acima de 92% do valor de face, antecipando a eventual recuperação judicial.
A recuperação judicial do grupo CNO pode resultar em pesados prejuízos para os bancos. Mas a verdade é que a maioria já baixou provisões para enfrentar o problema. O fracasso na venda da Braskem para a holandesa LyondellBasell, cujas negociações foram encerradas semana passada, após 18 meses de tratativas, assuta o sistema financeiro. Alguns bancos, fiando-se nas garantias das ações da Braskem, não tinha completado a baixa de provisões.