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Brasil avalia novas exportações de trigo e governo não intervirá

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REUTERS

SÃO PAULO - Produtores de trigo do Brasil estão fazendo contas e procurando os melhores preços para realizar novas exportações, com o objetivo de forçar os moinhos locais a elevarem suas ofertas de compra, disseram fontes do setor. Na quarta-feira, a Reuters informou que o Rio Grande do Sul, o segundo produtor de trigo do Brasil, já negociou cerca de 250 mil toneladas para exportação. Agora são agricultores do Paraná, líder na produção nacional, que estudam formas de vender o cereal para o exterior.

As movimentações ocorrem no momento de altas recordes de preços no mercado e de baixa oferta no mundo e no Brasil, um país que, ironicamente, tem importado cerca de 70 por cento de suas necessidades. Mesmo assim, moinhos locais ainda resistem a pagar preços maiores.

- Estamos fazendo um monte de contas para exportar. Depende da distância, da qualidade... Tem mercado, estamos procurando preços melhores - disse o gerente técnico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Flávio Turra.

Paraná e Rio Grande do Sul devem produzir juntos neste ano mais de 90 por cento das 3,8 milhões de toneladas que o Brasil espera colher. A diferença é que paranaenses, com safra de 1,9 milhão, colhem um cereal duro, com boa demanda para panificação, e os gaúchos produzem um grão "soft", menos valorizado.

- O produtor vai preferir a exportação para forçar os preços a chegarem próximos da paridade de importação - disse ele, observando que os moinhos querem pagar menos do que pagariam para importar o cereal.

A paridade de importação está se aproximando dos 700 reais por tonelada, os produtores do Paraná estão pedindo 650-670 reais, e os moinhos oferecem no máximo 640. O problema, no entanto, é que atualmente não há trigo nem registros de exportação disponíveis na Argentina, o tradicional fornecedor do Brasil, e comprar o produto dos Estados Unidos ou Canadá é proibitivo por causa das elevadas cotações. Os futuros de Chicago tiveram recordes históricos nesta quinta .

Com os moinhos fora do mercado, a negociação do trigo do Paraná, onde a colheita já atinge 60 por cento da safra estimada, está atrasada. Segundo a Ocepar, apenas 25 por cento da produção está comercializada. Apesar do trigo mais caro e da possibilidade dos moinhos repassarem os custos para os preços da farinha, o governo informou que não espera intervir no mercado impondo restrições às exportações, como já fizeram vários países, como a própria Argentina, para diminuir riscos de inflação.

- O mercado é livre. Deixa exportar - disse o diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos.

- Ontem recebi uma ligação do pessoal da Ocepar dizendo que o mercado tinha dado uma parada, que a paridade de importação do trigo estava chegando na faixa de 700 reais, e que o produtor tentava vender a 650 e não estava conseguindo.

Com exportações, o Brasil consumindo até dezembro 2 milhões de toneladas e uma queda prevista nas importações nos próximos meses, na avaliação do presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, é provável que os preços do trigo no Paraná subam para 750 reais em novembro, antes da chegada da safra argentina.

- A partir de 15 de dezembro é outro cenário - acrescentou ele, que prevê a reabertura das exportações após as eleições presidenciais na Argentina no final de outubro.

Segundo Pih, que compra trigo argentino em sua maioria, em algum momento as indústrias nacionais elevarão as ofertas de preços pelo grão, mas a farinha também deverá ser reajustada. Em relação a 2006, a cotação do saco de 50 kg em São Paulo já subiu, em média, quase 40 por cento, para 56,35 reais.