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BRASÍLIA - A crise nos mercados financeiros internacionais gerou alguns efeitos positivos para a economia brasileira, mas o governo continua acompanhando de perto os desdobramentos do cenário externo, e não descarta a adoção de novas medidas para garantir o bom funcionamento do mercado nacional, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quinta-feira.
Em entrevista a correspondentes estrangeiros na sede do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro, Mantega afirmou que a crise dos mercados financeiros internacionais fez com que o dólar atingisse um patamar mais adequado em relação ao real e diminuiu a preocupação do governo com o comportamento da inflação.
- Ele (câmbio) estava muito defasado e o real excessivamente valorizado, (e) agora... acho que o real não está mais tão valorizado e ele está mais adequado às condições e expressa melhor as condições da economia brasileira, disse ele a jornalistas.
O ministro acredita que com o câmbio mais valorizado as exportações vão aumentar em valor e as importações tendem a diminuir, minimizando os impactos sobre o déficit em conta corrente.
Outro efeito positivo, segundo o ministro, foi sobre a inflação.
Na avaliação do ministro, a crise afetou os preços das commodities, que vinham subindo fortemente e carregando consigo os índices de preços.
Com a desaceleração destes preços, Mantega acredita que a preocupação com o comportamento dos índices inflacionários, tanto no Brasil, quanto no resto do mundo, diminuiu.
Desde abril, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu início a um ciclo de aperto da taxa básica de juro no país para tentar trazer a inflação de volta ao centro da meta já em 2009.
O governo definiu para 2008, 2009 e 2010 uma meta de inflação de 4,5 por cento, com margem de variação de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a política de metas, acumula nos últimos 12 meses até agosto uma alta de 6,17 por cento.
A taxa básica de juro, a Selic, está atualmente em 13,75 por cento. Analistas acreditam que o ritmo de alta do juro deve ser moderado pelo BC a partir da próxima reunião do Copom, em outubro.
Mesmo insistindo que a economia brasileira segue forte, apesar dos abalos internacionais, o ministro disse que o governo não descarta a possibilidade de adotar novas medidas que garantam a liquidez do mercado de crédito no país, mas ponderou que o governo não tem nenhum pacote em estudo.
- O governo está atento e vigilante para os problemas que vão se criar. Se faltar crédito e liquidez tomaremos as medidas, disse ele, acrescentando que o pacote de resgate proposto pelo Tesouro dos EUA pode reconstituir as linhas de crédito no mundo.
- Se vai haver mais medidas ou não, vai depender da necessidade. Estamos atentos para ver se há um ponto de estrangulamento na economia brasileira.
Na quarta-feira, o Banco Central anunciou alterações "pontuais" nas regras dos recolhimentos compulsórios exigidos dos bancos, o que liberou cerca de 13 bilhões de reais ao sistema, dando assim mais fôlego ao mercado de crédito.
PODER AOS EMERGENTES
Mantega avaliou ainda que a crise internacional e a desvalorização do dólar nos últimos meses evidenciam que a moeda norte-americana - não é mais a mesma.
- (O dólar) é uma moeda quase fraca em relação a várias outras moedas, como euro, real e rublo. Em breve, deveremos ter uma outra arquitetura monetária internacional, disse ele ao cobrar um maior poder de 2decisão dos emergentes na economia global.
O ministro acrescentou que em outubro irá reforçar em uma reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) o pedido para que o Brasil ingresse no G7.
- Um novo mundo poderá surgir das cinzas dessa crise internacional e os emergenmtes terão mais voz.