Ubirajara Loureiro, Jornal do Brasil
DA REDAÇÃO - A crise financeira internacional mudou o perfil das exportações brasileiras. A participação dos bens manufaturados e industrializados diminuiu, enquanto os produtos básicos ganharam mais importância nas vendas externas. A fatia de produtos básicos na pauta de exportações subiu de 31,3% em setembro do ano passado antes da crise para 40,8% em junho. No mesmo período, os bens industrializados perderam peso de 60% para 51%.
No começo desta inversão, especialistas diziam que seria um processo temporário. Mas por hora não há sinais de que o Brasil venderá mais bens finais e menos commodities, de acordo com especialistas. Motivo: a China está tomando o lugar dos países que vendiam bens finais antes da crise. A prova são as vendas acentuadas de commodities para os chineses, que não param de comprar matérias-primas para transformá-las em bens finais destinados aos países que compravam do Brasil e outras economias que passam pelo mesmo processo de primarização das exportações .
A parcela de matérias-primas nas exportações brasileiras aumentou de 35,31% no primeiro semestre de 2008 para 42% no mesmo período de 2009. Ao mesmo tempo, caíam de 62% para 55,9% o produto de mercadorias industrializadas, e de 48,5% para 43,3% o volume de dólares obtido com a venda de manufaturas no exterior.
A mudanças, apresentadas nas estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ocorrem paralelamente a uma lenta recuperação nos preços das matérias primas, mas sua crescente participação na pauta de exportação deixa preocupados especialistas da área, como o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o economista José Augusto de Castro e o embaixador Jório Dauster, ex-presidente da Vale e atual presidente do conselho de administração da Brasil Ecodiesel.
Castro explica que a queda de 22,83% no volume das exportações na comparação do primeiro semestre de 2009 com o de 2008, apenas acompanhou, e em ritmo menor, a redução no fluxo mundial de comércio, ainda não completamente mensurada, mas que já é estimada em torno de 30%.
Queda certa
Mesmo levando em conta a retomada das compras pela China no mercado mundial nos últimos meses, o economista avalia como fruto de especulação a alta das cotações das matérias primas, que se verifica mais recentemente: +105% no cobre, +26% no algodão, +23% no café em grão e +11% na soja, além de um incremento superior a 100% no preço internacional do petróleo, que passou de US$ 30 para US$ 73 em algumas semanas. Isto apesar de não haver correspondência entre preço e demanda, que, no caso do petróleo, só no ano que vem terá um ínfimo aumento (500 mil barris/dia para um fornecimento atual de 50 milhões de barris/dia, segundo Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).
O aumento, mesmo artificial, de acordo com a análise de Castro, não prejudica o Brasil que, mesmo dependendo de cotações internacionais fixadas em bolsas de dos Estados Unidos, é grande exportador de quase todas as commodities agrícolas e de algumas metálicas. E beneficia-se da alta circunstancial de cotações. O problema é que, no entender, a alta não é sustentável:
Os produtos deixaram de ser commodities para serem manipulados como ativos financeiros em bolsas de mercadorias. Os volumes negociados a futuro estão muito alavancados, são bem superiores aos da produção física. A qualquer momento, os preços vão cair, por falta de demanda e quando for forçosa a realização de lucros pelos especuladores afirma Castro.
O vice-presidente da AEB exclui desse quadro a situação peculiar do açúcar: houve uma quebra de safra na Índia, que, de maior exportador mundial passou a importador, deixando a liderança com o Brasil.
O resultado é que o produto, na forma refinada, do rol dos industrializados manufaturados, foi um dos poucos que teve aumento de exportação no primeiro semestre deste ano, mais 23,18% em receita, para US$ 971 milhões, mesmo com um aumento de apenas 10,35% em volume e alta de 67% nas cotações; na lista dos semimanufaturados, a receita em dólar da exportação brasileira do açúcar em bruto cresceu 71,79% , para US$ 2,2 bilhões, com um volume 50% maior e alta de 67% na cotação internacional.
Outro caso de alta na pauta brasileira, segundo Castro, é a soja: a exportação aumentou 27,26% no primeiro semestre; em tonelagem, aumentou mais, em 40,2% e as cotações tiveram valorização de 11% nas últimas semanas.
A AEB mantém a previsão de que o ano de 2009 deverá fechar com uma queda da ordem de 20% nas exportações, mas prevê uma melhoria estatística pelo menos em novembro e dezembro, pois as bases de comparação são fracas em razão da quebradeira financeira.
Colaborou Sabrina Lorenzi