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BRASILÍA - Mesmo atravessando uma crise econômica, o Brasil terá um expressivo crescimento na concessão de crédito imobiliário este ano, no que depender do principal banco de fomento imobiliário nacional, a Caixa Econômica Federal. Responsável por 70% dos empréstimos feitos para a compra da casa própria no País, a Caixa vai irrigar o mercado com R$ 35 bilhões neste ano, ante os R$ 23 bilhões de 2008, um crescimento de 52%.
Boa parte desse avanço será de responsabilidade do programa "Minha Casa, Minha Vida", lançado pelo governo em março e em fase de consolidação dentro do banco. De acordo com a superintendente nacional de Habitação da Caixa, Bernadete Coury, o programa já tem 1.355 projetos em análise pelo banco (mais da metade já aprovados), que irão contemplar cerca de 1 milhão de moradias no Brasil. Bernadete não crê que haja riscos de essa política de concessão de crédito em larga escala venha a contaminar o banco com um índice alto de inadimplência.
"Temos cerca de 2% de inadimplência dentro de uma base de 2 milhões de contratos. É um índice bem baixo, o que prova a qualidade de nossa política de concessão. Não há esse risco", afirma a superintendente, que deu a seguinte entrevista ao Terra.
Terra - Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o programa "Minha Casa, Minha Vida agora vai". Ficou implícito que isso inclui maior empenho da Caixa na concessão de crédito?
Bernadete Coury - A expressão "agora vai" significa que chegamos ao ponto de maturação do programa. Recebemos 1.355 propostas de empresas da construção civil sendo 573 com a documentação já completa, que passou pelas etapas burocráticas e está pronto para virar algo concreto. Até o fim deste ano serão 400 mil unidades. Para tudo isso é preciso crédito e nesse ponto estamos preparados.
Terra - A concessão de crédito é hoje ainda mais prioritária para a Caixa do que num passado recente?
Bernadete - Sim, a Caixa tem crescido muito nesse quesito. Até 13 de agosto concedemos os mesmos R$ 23 bilhões que emprestamos ao longo de todo o ano de 2008, tudo com recursos da poupança e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Se levarmos em conta que o segundo semestre tem maior velocidade na contratação de crédito, nos próximos quatro meses até o fim do ano deveremos emprestar ao menos mais R$ 12 bilhões, o que nos levará a R$ 35 bilhões em 2009, um recorde.
Terra - Apesar da crise mundial, o governo deixou claro que quer ver os bancos estatais atuando de forma agressiva na concessão de crédito, até para pressionar os bancos privados neste sentido. É uma estratégia que pode trazer problemas futuros de inadimplência?
Bernadete - Não, porque os critérios para emprestar não foram afrouxados. Estamos com um índice de inadimplência de 2% dentro de uma carteira de 2 milhões de contratos. É um patamar baixo, o menor dos últimos 24 meses. E como não houve mudança nos critérios, esse nível deve se manter.
Terra - Acredita que os bancos privados vão ser obrigados a acompanhar os bancos públicos nesse sentido?
Bernadete - O papel da Caixa é o de indutor de crédito imobiliário. Não podemos obrigar os bancos privados a fazer isso ou aquilo, mas nossas taxas hoje são as mais competitivas do mercado, e quem não quiser perder mercado vai ter de se mexer.
Terra - Há espaço para redução dos patamares de custos do crédito imobiliário para o tomador em níveis como os encontrados em países mais ricos?
Bernadete - Há ainda algum espaço para se ganhar, principalmente na administração dos contratos, na burocracia que os envolve. Precisamos buscar avanços tecnológicos que façam baratear esses custos. Assinaturas digitais e certidões eletrônicas são exemplos de como a internet pode ajudar a reduzir custos que acabam recaindo sobre o tomador de crédito.
Terra - Mas o spread (diferença entre o quanto o banco paga para captar dinheiro e o quanto ele cobra do tomador) no Brasil ainda é alto. Dá para baixá-lo?
Bernadete - Creio que estamos no nível de spread mínimo. Conseguimos reduções importantes nos últimos tempos baixando os custos dos seguros atrelados aos empréstimos. Reduzimos as taxas de maneira significativa com isso, mas acho difícil ir abaixo do que oferecemos hoje.
Terra - Qual é o sistema de concessão de crédito imobiliário mais próximo do perfeito? O Brasil tem chances de chegar a ele?
Bernadete - Espanha e Estados Unidos possuem sistemas que são referência. O espanhol em sua legislação avançada e o americano na facilidade de concessão, por exemplo, mas a crise mostrou que esses países estavam mais vulneráveis do que nós no assunto crédito imobiliário. Apesar de nosso sistema não ser tão avançado e simples, mostrou-se mais seguro nesse momento. E há espaço para melhorar.