O colapso do Banco Espírito Santo (BES), de Portugal, parecia ter todos os ingredientes para um desastre econômico, analisou o The New York Times em reportagem publicada nesta terça-feira (5). Com pouco aviso, um governo de um dos países mais fracos financeiramente da Europa foi subitamente confrontado com um resgate de bilhões de euros para a entidade. E a crise atingiu durante um período de incerteza aguda na Europa provocada por tensões europeias envolvendo a Ucrânia.
No entanto, os mercados financeiros estavam estranhamente calmos na última segunda-feira (4) após o resgate do banco pelas autoridades portuguesas. Os principais índices de ações na Europa variaram pouco e o índice primário em Portugal aumentou cerca de 1%.
Por enquanto, os investidores não parecem acreditar que o caso Banco Espírito Santo é sintomático ou que demonstre um problema mais amplo na zona euro, analisando o colapso como um caso isolado. Nicholas Spiro, diretor da Spiro Sovereign Strategy, uma consultoria em Londres comenta que "se esse tipo de coisa tinha acontecido antes de julho de 2012 Portugal teria ido para baixo em chamas."
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A reação do mercado ao plano de resgate poderia ser um presságio ruim, mas mostrou que a Europa não está vulnerável. Em outubro, o Banco Central Europeu vai divulgar os resultados de sua exaustiva análise da saúde financeira dos bancos mais importantes da região. A revisão poderá expor outros credores que, como o Banco Espírito Santo, têm problemas graves.
Os analistas, porém, lembram que o resgate foi feito pelo estado, justamente o que os líderes da Europa vem tentando evitar. Países como a Itália, que também tem uma economia fraca e muitos bancos em dificuldades, não têm esses recursos disponíveis, lembram os analistas, dizendo que se o país é muito fraco e o problema muito grande esse tipo de atitude fica inviável.
Ninguém sabe quantos outros bancos doentes existem e os investidores e banqueiros centrais estão nervosos sobre o que acontecerá se outros credores falharem ou exigirem grandes injeções de dinheiro para sobreviver. O colapso em junho de um banco na Bulgária, que é, na União Europeia, mas não da zona do euro, aumentou as preocupações que os problemas ainda se escondem no sistema financeiro da região quase seis anos após a crise financeira que preocupou todo o mundo.
Na semana passada, o Banco de Portugal, o BC do país e Banco Espírito Santo expressaram confiança de que o banco poderia levantar o capital que precisava de investidores privados, em vez de dinheiro público. Porém, o plano de resgate acabou sendo montado com dinheiro público. A velocidade do resgate mostrou que a máquina às vezes rangente de governo europeu poderia mover-se rapidamente em uma crise.
Segundo o plano, as empresas saudáveis ??do Banco Espírito Santo, assim como os funcionários, serão transferidos para um novo banco, que vai continuar a servir os clientes, como de costume. Maus empréstimos do banco e outros problemas permanecem na entidade legal existente.
No espírito das novas regras da União Europeia destinadas a proteger os contribuintes de falências de bancos, acionistas do Banco Espírito Santo e os chamados detentores de obrigações subordinadas - aqueles que concordaram em assumir mais riscos em troca de um retorno maior - terão reivindicações somente na parte chamado “banco ruim”. Como resultado, eles vão suportar a maior parte do custo e podem perder todo o seu investimento.
Há probabilidade de haver muitas perguntas nas próximas semanas sobre o porquê de os reguladores e auditores falharam em reconhecer a gravidade dos problemas do Banco Espírito Santo, até que fosse tarde demais. Ainda recentemente, em maio, o banco foi capaz de vender os investidores € 1 bilhão em novas ações, que, desde então, perdeu 80% do seu valor.
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