Fernanda Prates, Jornal do Brasil
RIO - Velha conhecida dos atletas, a pubalgia há tempos ganhou status de inimiga dos atletas. A última vítima amaldiçoada foi um dos maiores ídolos do futebol mundial. Em uma matéria do jornal espanhol Marca, o meia Kaká, do Real Madrid, declarou que terá que se tratar "por toda a vida" para evitar o reaparecimento da doença que chegou a afastá-lo dos campos por 42 dias. O prognóstico, no entanto, não é tão sombrio. Embora dolorosa, a pubalgia pode ser mantida sob controle e não é o fim do mundo para os atletas. Ao contrário de décadas atrás. No passado, muitos esportistas tiveram a carreira interrompida ou prejudicada por desconhecerem a doença e seu tratamento.
Apesar do nome esquisito, a pubalgia é uma doença bem comum entre praticantes de esporte, especialmente corredores, tenistas e jogadores de futebol. Junção dos termos pub (púbis) + algia (dor), o mal é basicamente uma dor no púbis - especificamente nas regiões da bacia e do baixo abdome, podendo irradiar para locais próximos, como a virilha. A dor ataca justamente nos momentos críticos da prática esportiva: a hora de correr ou chutar, por exemplo.
Marcelo Saragiotto, ortopedista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, explica que a pubalgia é um processo inflamatório que atinge principalmente a sínfise púbica - uma articulação que se localiza entre os ossos púbicos. De acordo com José Luiz Runco, médico do Flamengo e da Seleção Brasileira, a causa mais comum para o incômodo é o desequilíbrio muscular na região - principalmente entre os músculos adutores e do abdome.
O tal desequilíbrio pode ter alguns motivos, como o baixo fortalecimento dos músculos adutores, do abdômen e dos glúteos. Às vezes, o problema é natural: até mesmo uma pequena diferença entre o tamanho das pernas pode aumentar a probabilidade de lesões.
Isso, no entanto, não significa que Kaká deixa os gramados. Segundo Runco, o atleta pode conviver - e levar sua vida profissional - muito bem com a doença, desde que faça o tratamento adequado.
- O tratamento, a princípio, é repouso. Depois, entra a fisioterapia para aliviar a dor e o reequilíbrio muscular - explica o médico Saragiotto. - Se a terapia não estiver surtindo efeito, utiliza-se tratamento cirúrgico, mas em geral não é necessário.
Tanto é que os médicos do Real Madrid, clube do brasileiro, garantem que, apesar do cuidado constante, o craque voltará a ser como antes . Aliás, o Brasil já pode respirar aliviado: o jogador declarou que a condição não será problema para a Copa do Mundo.
Porém, apesar da pubalgia não significar necessariamente o fim da carreira dos atletas, prevenir é sempre melhor do que remediar. Runco ressalta que algumas medidas podem evitar muita dor-de-cabeça para os atletas. Uma delas é o famigerado alongamento, tantas vezes subestimado - principalmente por amadores. Além disso, é necessário tomar cuidado com a sobrecarga, "coordenando bem os trabalhos e o treinamento físico dos atletas".
Mas cuidado: nem toda dor na região púbica é necessariamente pubalgia. Tanto que, para diagnosticar a doença, os especialistas precisam fazer o chamado "diagnóstico diferencial", para descartar patologias como a prostatite e a hérnia inguinal - quando parte do intestino delgado "escapa" por alguma lesão na parede abdominal. Para se certificar, são necessários alguns exames:
- Normalmente, é feito o diagnóstico clínico, pelo exame físico - explica Runco. - Também são realizados exames de imagem, como a ressonância magnética.
Juninho Pernambucano sofreu com a lesão em 2000
A bruxa do púbis está solta no mundo do futebol. Hoje mesmo, o Vasco enfrenta o Resende sem o atacante reserva Rafael Coelho, que, com uma lesão na região, será submetido a uma ressonância magnética e foi sacado do banco.
Casos como o de Kaká e Coelho não são raros. Pelo contrário: os vários jogos seguidos - muitas vezes sem tempo suficiente para descansar e fazer treinamentos físicos adequados - fazem com que jogadores de futebol sejam muito vulneráveis a males como a pubalgia. Segundo especialistas, até o excesso de abdominais realizado pelos jogadores pode gerar um desequilíbrio muscular que, combinado com um programa inadequado de alongamento, pode funcionar como uma verdadeira bomba-relógio para o corpo.
Um exemplo é o de Juninho Pernambucano, que teve que operar uma lesão no local quando atuava pelo Vasco, em 2000. Ainda no cruzmaltino, um exemplo mais recente é o do zagueiro Titi, que teve que ficar cerca de um mês e meio afastado dos campos se recuperando da pubalgia.
Em 2009, o atacante Kléber também deixou de disputar várias partidas pelo Cruzeiro em função da doença. Após alguns jogos "no sacrifício", ele optou pela intervenção cirúrgica para tratar do problema
Em 2007, o apoiador Morais, hoje no Corinthians, chegou a usar ondas de choque contra o problema.