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Segunda, 5 de maio de 2025

Saiba por que 'O dublê do diabo' é um dos grandes esperados do festival

Filme participou do festival de Sundance 2011 e do Festival de Berlim

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Muitos ditadores, líderes de Estado e terroristas conhecidos se utilizaram da “contratação” de sósias com o objetivo de se protegerem de atentados. A técnica utilizada por Saddam Hussein, Kadhafi e Osama Bin Laden já estampou páginas de jornais por todo o mundo e não configura exatamente uma novidade para a maioria das pessoas. Porém, apresentar uma dessas histórias a fundo, revelando seus detalhes, foi o que rendeu ao filme O dublê do diabo a seleção para o festival de Sundance 2011 e para a mostra Panorama do Festival de Berlim.

O longa-metragem é uma adaptação do livro lançado por Latif Yahia, um oficial do exército iraquiano que durante a década de oitenta foi obrigado a se passar por Uday Hussein, filho mais velho de Saddam. O herdeiro do ditador era conhecido por sua conduta violenta, radical e sem limites. Em entrevista, o próprio Yahia disse que a produção só retrata 20% do que realmente foi vivido por ele enquanto estava sob domínio de Uday. “Se fôssemos mostrar tudo, o filme não poderia ser exibido. Testemunhei muitos estupros e torturas. Ele era absolutamente cruel”.

A situação de ser um prisioneiro ameaçado que ao mesmo tempo está inserido em uma atmosfera de riqueza, repleta de festas, mulheres, drogas, armas e roupas de grife, é uma das mais interessantes questões do filme. Em uma espécie de liberdade vigiada, acompanhada por inúmeras regalias, o sósia é obrigado a se desfazer de sua identidade, acatando regras e mergulhando no modo de vida de outra pessoa que é, no caso, um tirano de comportamento doentio.

Dirigido pelo neozelandês Lee Tamahori, responsável também por 007: Um novo dia para morrer (2002), O vidente (2007) e alguns episódios de Família Soprano, O dublê do diabo reconstitui com perfeição a situação do Iraque na época, fazendo uso de imagens de arquivo e cenas de ficção pra lá de fortes. Com um roteiro certeiro e sequências muito dinâmicas, o filme impressiona e embrulha estômagos com suas cenas de ação e violência.

A atuação do inglês Dominic Cooper, que faz tanto Latif quanto Uday, é destaque no elenco. Aliás, quem se lembra da participação do rapaz no musical Mamma Mia(2008) vai se surpreender com a evolução do ator. Ele está impecável no papel, representando de forma absolutamente singular ambos os personagens.

Talvez o maior pecado da grande produção seja usar o inglês como idioma. Isso afasta o espectador da imagem de que o filme é um retrato fiel dos acontecimentos vividos pelo oficial do exército. Além disso, talvez por estar acostumado a roteiros no estilo James Bond, o diretor tenha errado nas soluções mágicas que deu aos conflitos apresentados. Em alguns momentos, Latif é retratado como uma espécie de herói, corajoso e incorruptível, que só possui qualidades e de forma mágica consegue se livrar dos problemas. Essa característica faz o filme se igualar a qualquer “blockbuster” americano, onde necessariamente há um lado do bem e outro do mal.

Passando por cima dessas questões, o filme é uma ótima opção do Festival do Rio 2011 para quem gosta de se retorcer na cadeira, ficar com o coração acelerado e ainda assim não conseguir desgrudar os olhos da tela.