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A versatilidade de um ator é característica quase unânime dentre as mais desejadas por aqueles que trabalham com a arte da interpretação. Mas, além da multiplicidade na hora de 'vestir' um personagem, é interessante também acompanhar um artista que passeia por diferentes canais, como TV, teatro e cinema.
Veronica Debom, carioca de 27 anos, acabou de deixar as telinhas, após viver a professora Cris, na novela 'Rebelde', mas já está em cartaz nas telonas com o filme 'Astro', de Paula Trabulsi, que já teve exibição no Festival do Rio, este ano.
Formada em publicidade pela PUC, Veronica, no teatro, é íntima do riso: escritora assídua de textos de humor, sonha preparar um espetáculo solo de stand up comedy, gênero que conhece bem, já que participa com frequência do sucesso 'Comédia em Pé'. Uma mente pensante e atuante com a qual a coluna bateu um papo bem bacana. Leia a seguir:
Pedro Willmersdorf - Você já teve a experiência do teatro, da TV e do cinema: o que você leva de mais importante para sua profissão de atriz de cada uma destas frentes de trabalho?
Veronica Debom - Bom, cada trabalho é um trabalho e estamos lidando com interpretação e percepção, que são coisas abstratas, mas de maneira geral eu acho que consigo diferenciar o que levo de cada um. O teatro pra mim foi onde eu aprendi o que eu sei do ofício em si. Acho que quem faz teatro faz os outros dois, é só uma questão de adaptação ao tamanho e ao tempo mas o contrário, apesar de possível, não é necessariamente verdadeiro. As três modalidades, por assim dizer, tem características muito particulares tanto em relação a execução do trabalho quanto em relação ao convívio com o grupo. Falo do grupo porque atuar depende sempre de mais de uma pessoa (ainda que a outra pessoa seja um espectador) e isso influencia o resultado todo e levo muito dessa convivência. Passar por um processo em que você acessa suas emoções de todos os tipos e se conecta a uma fonte de imaginação que te tira do seu local cotidiano é o denominador comum. Ou pelo menos o objetivo, na minha opinião. Na TV, por exemplo, você aprende a fazer isso de maneira mais rápida e menos concentrada, o que é um exercício fantástico. No teatro e no cinema geralmente você pode despender mais tempo na preparação e concentração. O teatro não tem possibilidade de corte então suas ações devem obedecer a um fluxo que você tem de manter acontecendo. Você aprende a lidar com imprevistos e se manter no seu "estado de potência" durante um longo tempo ininterruptamente, o que é bem difícil. No cinema, por sua vez, o desafio geralmente é retornar aquele estado depois de interrupções justamente porque provavelmente a cena será feita mais de uma vez. Outra característica do cinema é que, pela tela ser muito grande, tudo já fica automaticamente hiperbólico, por isso você aprende a atuar numa dimensão mais minimalista e de tempos mais longos.
Pedro Willmersdorf - Como você encarou a trajetória de 'Rebelde', que começou como aposta da Record e depois se tornou uma dor de cabeça para a emissora, por conta da queda de audiência?
Veronica Debom - Talvez isso seja errado da minha parte mas eu sinceramente não acompanho a audiência. Fico sabendo como estão os números pelos comentários de corredor. No último dia de gravação a entrada principal da Record teve que ser fechada devido as milhares de crianças que foram até lá se despedir da gente. Ganhei ao longo da minha temporada na novela presentes, cartas e toneladas de amor e agradecimentos vindo de crianças do Brasil todo. A reação das crianças e dos adolescentes quando gostam de algo é realmente incrível e tocante. Acho que as mudanças, algumas delas forçadas, de horário e alguns pequenos problemas podem ter prejudicado o produto mas não tenho dúvida, pelo menos até onde me toca, que Rebelde foi um sucesso. Lamento essa queda da audiência exatamente porque sei que a aposta inicial da Record foi acertada e a novela foi um enorme fenômeno.
Pedro Willmersdorf - O stand up comedy ainda sofre com preconceito no meio teatral?
Veronica Debom - Nunca sofri preconceito por conta disso, mas eu acredito que seja uma expressão artística realmente diferente do que se costumava fazer no meio teatral. O que quero dizer é que não acho que fazer stand up seja igual a fazer teatro mas isso não faz com que seja nem inferior nem superior. Sei com certeza que é um tipo de arte e se encaixa nas diferentes modalidades das artes cênicas.
Pedro Willmersdorf - Falando de 'Astro': quem é Alice? Conte-nos sobre sua personagem.
Veronica Debom - Eu descreveria a Alice como livre. Livre de repressões, de depressões, de preconceitos, de conceitos, livre até de realidade. Alice é uma enorme molécula quântica de movimentação energética e imprevisível. Tudo nela que se assemelha a uma moça normal só existe em medida suficiente para não levantar suspeitas (nos outros e nela mesma) de que talvez ela não exista de fato. Por ser tão livre, seu comportamento por vezes se assemelha ao das crianças e ela e é infinitamente solar. Ela é uma Gabriela urbana pós moderna só que com uma conexão um pouco mais filosófica e metafísica com o universo que a cerca. Não dá pra saber os limites da Alice porque ela é justamente a ausência de limites. Ela é a nova visão de mundo que a Astro precisa desenvolver.
Pedro Willmersdorf - E para 2013, algum plano engatilhado?
Veronica Debom - Em 2013 pretendo continuar fazendo stand up pois o show muda continuamente conforme eu vou escrevendo textos novos e portanto não tem data definida pra acabar. Gostaria muitissimo de fazer uma tragicomédia no teatro. Além disso, continuo contratada na Record então espero que eles também me botem pra trabalhar bastante em 2013.