Confira também o nosso blog.
Nos anos 80, ela esteve envolvida em dois momentos marcantes para a cultura musical brasileira e, particularmente, decisivos para a construção da memória da década em questão. Katia Bronstein, ou melhor, Katia B. fez parte da turma que deu partida ao Circo Voador, palco alternativo que trouxe nova brisa à cena alternativa, em Ipanema, e até hoje é sinônimo de boa música, com sua lona na Lapa. E também foi uma das 'louraças-belzebu' de Fausto Fawcett, líder de uma trupe inesquecível.
Hoje cantora com reconhecimento internacional, lembrada com carinho em países como Alemanha e França, elogiada por jornais do naipe do britânico 'The Guardian' e dona de um estilo sofisticado que muito bem faz ao cenário brasileiro, Katia B. se prepara para o lançamento de seu quarto álbum, 'Pra mim você é lindo', cujo show de lançamento rola terça (20), na casa de shows Miranda, na Lagoa, dentro do projeto PatuÁ, organizado pela jornalista Fabiane Pereira.
A coluna, fã do som que versa entre a bossa nova e o hip-hop criado por Katia, bateu um papo com a cantora, em uma entrevista sobre parcerias, inspirações e a necessidade de repensar o espaço dado a novos e interessantes artistas na cidade do Rio.
Pedro Willmersdorf - Há 30 anos você estreava como bailarina em 'A Chorus Line'. Parece que foi ontem?
Katia B. - Parece muito, sinto que é só abrir uma porta que vou encontrar a linha do coro!
PW - O que ficou (e ainda permanece vivo em seu trabalho) do contato intenso que teve com Fausto Fawcett?
Katia - No trabalho com o Fausto eu firmei minha identidade como artista. Naquele momento fiz uma passagem para esse universo da música que é cantar e contar a própria estória. Coragem, atitude, personalidade, agradecimento por estar perto do Fausto, que é um poeta da vida.
PW - Você é uma das fundadoras do Circo Voador, lá no Arpoador. Hoje, a casa de shows que é apontada por muitos como a melhor do Rio: sente orgulho de ter feito parte do nascimento do Circo?
Katia - Sinto orgulho até não poder mais. Eu sou filha e mãe do Circo Voador do Arpoador.
PW- Você ainda percebe a carência de espaço (físico mesmo) na cidade onde novos artistas possam se apresentar? Ou esta situação, dos anos 80 pra cá, melhorou muito?
Katia - Melhora, piora...mas falta, falta lugar com mais estrutura pra acolher o artista, acaba ficando pesado levantar toda estrutura para tocar.
PW - Você vivencia a experiência de ser uma artista internacionalmente reconhecida, mas ainda distante do grande público em seu próprio país. Isso a incomoda?
Katia - Nada me incomoda. Não me sinto distante do público do meu país, sinto que tenho um público específico.
PW - O que você oferece a seu público em 'Pra mim você é lindo', seu novo CD? A faixa carro-chefe é cantada em iídiche, não é mesmo?
Katia - A faixa em iídiche não é propriamente a carro-chefe, é uma das canções do disco que acabou dando nome a ele. Pra Mim Você é Lindo é a tradução de Bai Mir Bistu Shein (que se escreve de várias formas). Essa canção tem uma variedade enorme de regravações, até a grande Ella Fitzgerald fez uma. Me interessei por fazer dela uma canção minha... Ofereço também parcerias com Rubinho Jacobina, Jam da Silva, Teresa Cristina, e regravações de Caetano Veloso, Lamartine Babo entre outras. Ofereço uma música delicada e densa, cheia de pequenos mistérios.
PW - Teresa Cristina é sua parceira no novo álbum e estará presente em seu show: Kátia B. já visitou a quadra da Portela ao lado de Teresa?
Katia - Contando os dias para isso!
PW - São 12 anos e quatro álbuns lançados, o que demonstra que você não se rende ao toque de caixa do mercado. Dá mais prazer trabalhar assim, sem essa pressão mercadológica?
Katia - Não sei, pressão às vezes é bom. Acho que agora estou pronta pra trabalhar com mais pressão. Estou com dois projetos paralelos ao trabalho do meu disco e um deles já em fase de gravação. Conto mais em breve...