CARACAS - Os confrontos entre as forças armadas venezuelanas e as caravanas comandadas por Juan Guaidó para buscar a ajuda humanitária estocada na Colômbia e no Brasil já deixaram suas primeiras vítimas fatais. Dois indígenas morreram e outros 17 venezuelanos ficaram feridos após os enfrentamentos. Guaidó e Nicolás Maduro não pensam em mudar seus planos.
Ontem, caminhões comandados pela oposição começaram a se deslocar para a fronteira com o objetivo de buscar a ajuda humanitária enviada para o país e bloqueada pelo presidente Nicolás Maduro. O autoproclamado presidente interino Juan Guaidó definiu que hoje será o dia da entrada dos suprimentos "sim ou sim".
Com objetivo de fortalecer o bloqueio das fronteiras, alguns blindados militares se encaminharam até a fronteira com o Brasil e houve alguns pontos de confronto com populações indígenas contrárias ao governo Maduro. Em Kumarakapay, localizada a 70 km da cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, o enfrentamento deixou dois mortos e 12 feridos. "Quando os voluntários tentaram bloquear a passagem dos veículos, os soldados começaram a disparar suas espingardas de assalto, ferindo pelo menos 12 pessoas, quatro com gravidade. Uma mulher de 42 anos, Zorayda Rodríguez, foi assassinada", relata o jornalista americano Anthony Faiola, do "The Washington Post". Um desses feridos graves, Rolando Garcia (esposo de Zorayda), veio a falecer.
O grupo de Kumarakapay era formado por cerca de 30 pessoas, em sua maioria indígenas da etnia pemón. A comunidade dos pemóns se divide entre Brasil, Venezuela e Guiana e descende de tribos das Caraíbas. Os pemóns vivem numa sociedade que se proclama igualitária e descentralizada e financia atividades por meio dos lucros do petróleo e do ecoturismo. A Guarda Territorial Pemona deteve 27 oficiais e um veículo das forças armadas.
Outros cinco feridos foram registrados e encaminhados ao Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, por meio de ambulâncias venezuelanas, permitidas a adentrar no território brasileiro. Os feridos foram inicialmente encaminhados ao Hospital de Pacaraima, na fronteira, mas logo foram transferidas para a capital. O líder opositor Juan Guaidó, que decretou via Twitter a reabertura da fronteira com o Brasil fechada por Maduro, cobrou mais uma vez cooperação dos militares para que a ajuda humanitária entre no país: "Decidam de que lado estão nessa hora definitiva. Entre hoje e amanhã vocês definirão como querem ser lembrados"
Ontem, Maduro anunciou que vai receber a oferta humanitária feita pela União Europeia "devido à criação do Grupo Internacional de Contato (GIC)", além de uma remessa de medicamentos advindas da Rússia. Ele prometeu "pagar cada centavo". O chavista, que participou ontem de comício no Estado do Amazonas, convocou uma "super mobilização popular contra o intervencionismo" em resposta aos atos de hoje da oposição.
Os planos de Guaidó de "sufocar" Maduro com uma "aliança humanitária" sofreu uma baixa: Curaçao recuou e afirmou que apenas vai enviar suprimentos ao país se Maduro permitir. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ontem voltou a criticar a "politização" da ajuda humanitária e fez um "chamado forte para evitar a violência".