Liderada por Juan Guaidó, a oposição venezuelana tenta neste sábado fazer com que alimentos e remédios armazenados na Colômbia superem as barreiras de fronteira impostas pelo governo de Nicolás Maduro, que considera a ajuda humanitária um pretexto para uma intervenção militar americana.
Guaidó, de 35 anos e reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, estará à frente da operação do lado colombiano da ponte internacional de Tienditas, que está bloqueada desde o início do mês por contêineres e outros obstáculos posicionados por soldados venezuelanos.
Guaidó mobilizou um exército de voluntários para transportar os alimentos e remédios doados pelos Estados Unidos e seus aliados.
A ajuda está do lado colombiano da ponte internacional de Tienditas, que desde o início do mês está bloqueada por contêineres e outros obstáculos montados por soldados venezuelanos.
Maduro ordenou na sexta-feira o fechamento temporário de mais três pontes que ligam os países pelo estado de Táchira (oeste), incluindo a Simón Bolívar, a principal passagem binacional de pedestres.
Neste sábado, militares venezuelanos dispersaram com gás lacrimogêneo e balas de borracha dezenas de pessoas que tentavam chegar à Colômbia por uma ponte fronteiriça em Ureña (Táchira).
"Queremos trabalhar", gritava a multidão diante de oficiais da Guarda Nacional que bloqueavam a ponte Francisco de Paula Santander, uma das quatro que ligam o estado venezuelano de Táchira ao departamento colombiano Norte de Santander.
"Em 23 de fevereiro, um mês depois de ter assumido as competências como presidente encarregado, todo o povo da Venezuela estará nas ruas exigindo a entrada da ajuda humanitária", afirmou Guaidó, que entrou em território colombiano apesar de uma restrição anunciada pela justiça ligada ao chavismo que impedia sua saída do país.
O jovem opositor, que se autoproclamou presidente encarregado por ser presidente do Congresso venezuelano, apareceu de modo surpreendente no grande show organizado em Cúcuta para arrecadar fundos para as vítimas da dramática crise econômica da Venezuela.
Ele atribuiu aos militares, base de apoio de Maduro, sua chegada na sexta-feira à cidade colombiana de Cúcuta, onde fica a ponte de Tienditas, centro de coleta de 600 toneladas de alimentos, kits de higiene e mediamentos enviados principalmente pelos Estados Unidos.
"Estamos aqui justamente porque as Forças Armadas também participaram neste processo", disse.
Horas antes do início da operação humanitária, quatro militares venezuelanos desertaram depois de atravessar duas pontes na fronteira com a Colômbia.
Guaidó desafiará o bloqueio da fronteira acompanhado pelos presidentes da Colômbia, Iván Duque, do Paraguai, Mario Abdó, do Chile, Sebastián Piñera, além do secretário-geral da OEA, Luis Almagro, e do representante especial dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliott Abrams.
Apoiado pela Rússia, Maduro considera a entrada de ajuda o ponto de partida de uma intervenção militar de Washington. O presidente americano, Donald Trump, afirmou que todas as opções estão sobre a mesa no caso da Venezuela.
O líder opositor, entretanto, deve anunciar o procedimento para a entrada de ajuda de Tienditas, centro de coleta de 600 toneladas de alimentos, kits de higiente e insumos médicos enviadas principalmente pelos Estados Unidos.
Outras toneladas de material estão no Brasil e em Curaçao.
O governo chavista fechou durante a semana a fronteira com o Brasil, onde na sexta-feira morreram dois indígenas e 15 ficaram feridos em confrontos com militares venezuelanos.
Dois caminhões com quase oito toneladas de ajuda humanitária saíram neste sábado de uma base aérea de Boa Vista (Roraima) rumo à fronteira com a Venezuela, informou a equipe que organiza a iniciativa.
O comboio, que deve percorrer 215 km até a linha que divide os dois países, está composto por caminhões venezuelanos dirigidos por cidadãos do país, com escolta da polícia brasileira.
Tanto Guaidó como Maduro convocaram seus simpatizantes para manifestações nas ruas neste sábado. O primeiro para acompanhar as caravanas, o segundo em apoio a seu governo e contra a "intervenção militar".
A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica, com um salário mínimo equivalente a apenas 6 dólares. Quase 2,7 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015, segundo a ONU.