EFE
ADIS-ADEBA (Etiópia) - O antigo ditador etíope Mengistu Haile Miriam, julgado à revelia por um tribunal de Adis-Abeba, foi condenado nesta terça-feira por genocídio, pelas atrocidades cometidas durante seu regime militar (1977-1991), que ficou conhecido como 'Terror Vermelho'.
Mengistu e outros onze processados, todos membros do Conselho Administrativo Provisório Militar, organismo executivo da ditadura etíope conhecido também como Dergue, foram condenados pelo Tribunal Federal Superior da Etiópia, pelas acusações de genocídio, homicídio, encarceramento ilegal e confisco ilegal de propriedade privada.
- Os acusados são considerados culpados de todas as acusações, declarou o juiz Medhin Kiros, ao término de uma audiência de mais de seis horas.
O veredicto contra os doze homens foi unânime. Outros 60 processados também foram considerados culpados de genocídio, mas por maioria de 2 a 1.
- Os membros do Dergue que se encontram presentes nesta corte, e aqueles que foram julgados à revelia, conspiraram para destruir seus rivais políticos e matá-los impunemente, disse Kiros.
Dos 73 acusados por genocídio e crimes contra a humanidade durante os 17 anos do brutal regime militar liderado por Mengistu, 34 estiveram presentes hoje no julgamento, ao tempo que 25 estiveram ausentes. Outros 14 morreram desde que o julgamento teve início.
O processo teve início em 13 de dezembro de 1994, mas nos doze anos transcorridos desde então, as audiências vinham sendo adiadas.
Em maio, após aceitar novas provas apresentadas pela defesa, a corte fixou 23 de janeiro de 2007 como a nova data na qual emitiria seu veredicto. Na semana passada, no entanto, o dia foi antecipado para esta terça-feira, sem nenhuma explicação oficial.
Mengistu, de 69 anos, que vive exilado no Zimbábue, era um dos líderes do levante militar que depôs, em setembro de 1974, o imperador Haile Selassie, e em fevereiro de 1977 ocupou pessoalmente a chefia do Estado, após eliminar seus rivais dentro do Dergue.
Durante o sangrento expurgo lançado por Mengistu nas fileiras do Exército, e também entre os membros da oposição política civil, calcula-se que tenham sido assassinadas cerca de 2 mil pessoas. Outras 200 desapareceram, e nunca foram encontradas.
Durante o 'Terror Vermelho', cujo período mais brutal foi entre 1977 e 1978, milhares de pessoas foram torturadas e os cadáveres de centenas de outras apareceram jogados nas ruas de Adis-Abeba e outras cidades etíopes.
O imperador Haile Selassie foi estrangulado em sua própria cama, e 60 funcionários, ministros e membros da família real etíope foram fuzilados publicamente.
Mengistu se manteve no poder graças ao apoio econômico e militar da União Soviética, mas fugiu para o Zimbábue em 1991, após a queda do regime comunista, e diante do avanço de grupos rebeldes liderados pelo hoje primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi.
O julgamento do ex-ditador etíope e dos demais acusados deve ser concluído no próximo dia 28, quando os juízes deverão ditar a sentença final. Especula-se que os acusados serão condenados à pena de morte