Agência JB
NOVA YORK - A reunião deste ano da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi ofuscada pelo recrudescimento da crise política em Mianmar (a antiga Birmânia).
A crise no país do Sudeste Asiático se fez presente primeiro no discurso de abertura feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou um endurecimento das sanções econômicas de seu país contra o governo militar, e um encontro ministerial entre americanos e 27 países da União Européia pediu uma ação do Conselho de Segurança da ONU.
O Conselho de Segurança realizou logo depois uma reunião de emergência, em Nova York, na qual ouviu um breve relato sobre a crise do enviado especial da ONU, Ibrahim Gambari, pouco tempo antes de ele partir para a região.
Gambari foi enviado a Mianmar pelo secretário-geral, na esperança de que possa entrar no país e conversar com todos os lados envolvidos na crise.
No entanto, apesar do registro da preocupação e do descontentamento com a situação em Mianmar, é difícil ver que tipo de impacto prático essas medidas poderão ter.
Os Estados Unidos e a União Européia já decretaram há tempo diversas sanções contra o regime militar de Mianmar. No entanto, paradoxalmente, isso significa que esses países têm relativamente poucas cartas na manga para influenciar a junta militar que governa o país.
Os países mais importantes para Mianmar são a Índia e a Rússia, que mantêm relações comerciais com o regime militar.
A Rússia planeja até mesmo vender um reator de pesquisa nuclear para Mianmar.
Mas é o maior vizinho de Mianmar, a China, que tem o papel principal e, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, pode ajudar a limitar o relativo isolamento em que vive o regime militar.
Tanto a China quanto a Rússia vetaram, em janeiro, uma resolução do Conselho de Segurança que criticava o governo de Mianmar.
A China tem fortes laços com o país vizinho e interesses estatégicos na estabilidade de Mianmar.
Isso fez com que o governo da Índia buscasse fortalecer seus próprios laços com a junta militar, para contrabalançar a crescente influência chinesa.
São os recursos energéticos de Mianmar - petróleo e gás - que tornam o país um parceiro tão atraente para empresas russas, chinesas, indianas e até mesmo sul-coreanas.
Essa competição pelos recuros energéticos de Mianmar torna quase impossível isolar o regime militar que governa o país.
Na verdade, à medida que os laços de Mianmar com Estados Unidos e União Européia se enfraqueceram, aumentaram as ligações do país com a China, a Rússia e a Índia.
A China tem o papel principal, mas o governo de Pequim enfrenta pressões conflitantes.
O govero chinês precisa adequar seus interesses no setor de energia e também estratégicos - como, por exemplo, o acesso ao Oceano Índico - com o desejo de estabilidade e a preocupação com a sua própria reputação no Exterior, especialmente com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Pequim, que serão realizados em 2008.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU realizada na quarta-feira serviu em parte para avaliar a posição atual do governo de Pequim.
O embaixador da China na ONU, Wang Guangya, reafirmou a previsível posição de seu país de que essa crise não é uma ameaça à paz internacional e de que as sanções não iriam ajudar em nada.
Ação formal é uma coisa. Mas será que a preocupação da China com a estabilidade regional deve encorajar o governo de Pequim a sussurar algumas palavras duras aos generais de Mianmar? É isso que os diplomatas ocidentais claramente esperam do governo chinês.
No curto prazo, sanções podem não ter um grande impacto sobre a junta militar que governa Mianmar.
No entanto, estão em andamento esforços para dar aos militares de Mianmar a impressão de que pode haver conseqüências de longo prazo caso a crise saia de controle.
O embaixador britânico nas Nações Unidas, John Sawers, ao ecoar um comentário do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, lançou um alerta aos generais de Mianmar afirmando que, como ele mesmo disse, "a era da impunidade acabou".
Isso é uma ameaça explícita para os governantes militares do país de que eles serão responsabilizados por suas ações.
Com informações da BBC Brasil.