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EUA - Confira a segunda parte da íntegra do discurso histórico de Barack Obama proferido nesta quinta-feira à noite durante a convenção democrata, realizada em Denver.
- América, não vivemos um momento de pensar pequeno. Chegou a hora de por fim cumprir nossa obrigação moral de oferecer a cada criança uma educação de primeira classe, porque isso é o mínimo necessário a concorrer na economia mundial.
- Como vocês sabem, Michelle e eu só estamos aqui hoje porque tivemos uma chance de obter educação. E não aceitaremos um país no qual algumas crianças não desfrutam dessa chance.
- Investirei na educação desde o início da infância, e recrutarei um exército de novos professores, a quem pagarei salários melhores e oferecerei mais apoio. E, em troca, solicitarei deles melhores padrões de desempenho e uma prestação de contas mais rigorosa.
- E cumpriremos a nossa promessa a todos os jovens norte-americanos: se vocês assumirem o compromisso de servir as suas comunidades ou ao país, garantiremos que tenham condições de arcar com os custos de uma educação superior.
- Agora chegou, enfim, a hora de cumprir a promessa de um sistema de saúde acessível e de preço justo para cada cidadão dos Estados Unidos.
- Se vocês já dispuserem de planos de saúde, o plano que estou propondo ajudará a reduzir suas mensalidades. Se não tiverem, vocês terão a oportunidade de obter uma cobertura de saúde de qualidade equivalente àquela que os membros de nosso Congresso concedem a eles mesmos.
- E, na condição de homem que assistiu à própria mãe brigando com operadoras de planos de saúde enquanto ela estava internada, morrendo de câncer, garantirei plenamente que essas empresas deixem de praticar discriminação contra as pessoas doentes, exatamente as mais necessitadas de tratamentos de saúde.
- Chegou a hora de ajudar as famílias, oferecendo licenças médicas remuneradas e um sistema melhor de férias familiares, porque não é certo que qualquer cidadão norte-americano se veja forçado a escolher entre manter o emprego ou tomar conta de um filho ou pai adoecido.
- Agora chegou a hora de mudar nossas leis de falência e concordata, de modo que as pensões dos trabalhadores sejam protegidas acima de tudo, e não as bonificações dos executivos, e a hora de proteger o sistema de seguro social, em benefício das futuras gerações.
- E agora chegou a hora de cumprir a promessa de igualdade salarial por trabalho igual, porque desejo que minhas filhas tenham exatamente as mesmas oportunidades que os filhos de vocês.
- Sabemos, claro, que muitos desses planos custarão dinheiro, e é por isso que expliquei claramente como cada centavo de custo será coberto: eliminando as lacunas tributárias que beneficiam empresas e os paraísos fiscais que não ajudam no crescimento dos Estados Unidos.
- Mas também pretendo estudar o orçamento federal linha a linha, eliminando todos os programas que deixaram de funcionar e fazendo aqueles de que precisamos funcionar melhor e a um custo menor, porque não podemos enfrentar os desafios do século 21 com uma burocracia do século XX.
- E, meus amigos democratas, é preciso que admitamos que cumprir a promessa dos Estados Unidos requererá mais do que simplesmente dinheiro. Requererá um senso renovado de responsabilidade da parte de cada um de nós, para recobrar aquilo que o presidente John Kennedy definiu como a nossa força intelectual e moral.
- Sim, o governo precisa liderar no esforço para promover a independência energética, mas cada um de nós precisa batalhar para tornar nossas casas e nossas empresas mais eficientes.
- Sim, devemos fornecer novos caminhos e mais caminhos para que os jovens que se deixam levar a uma vida de crime e desespero possam encontrar o sucesso. Mas precisamos admitir igualmente que programas governamentais não podem tomar o lugar de famílias, que o governo não tem poder para desligar o televisor e forçar uma criança a fazer sua lição de casa, que os pais precisam assumir mais responsabilidade em termos de oferecer amor e orientação às suas crianças.
- Responsabilidade individual e responsabilidade mútua, essa é a essência da promessa norte-americana. E da mesma maneira que cumpriremos essa promessa para a próxima geração em nosso país, devemos cumprir igualmente a promessa dos Estados Unidos ao resto do mundo.
- Caso John McCain deseje realizar um debate sobre quem tem o temperamento e o senso de julgamento mais adequado para o papel de nosso próximo comandante-em-chefe, eis um debate do qual eu adoraria participar.
- Porque, enquanto o senador McCain estava concentrando suas atenções no Iraque já alguns dias depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, eu preferi me erguer em oposição à guerra, sabendo que ela nos distrairia quanto às ameaças reais que o país enfrenta.
- Quando John McCain disse que podíamos simplesmente continuar tocando a situação no Afeganistão sem muitas mudanças, eu defendi o envio de mais recursos e de mais soldados ao país para concluir a luta contra os terroristas que realmente nos atacaram em 11 de setembro, e deixei claro que, se tivermos Osama bin Laden e seus lugares-tenentes em nossa mira, devemos abatê-los sem hesitação.
- John McCain, vocês sabem, gosta de dizer que ele seguiria Bin Laden até os portões do inferno, se necessário, mas na verdade não o segue nem mesmo até a caverna onde Bin Laden vive.
- E hoje, sim, hoje, depois que meus apelos por um cronograma para a retirada de nossas tropas do Iraque foi ecoado pelo governo iraquiano e até mesmo pela administração Bush, mesmo depois de termos descoberto que o governo iraquiano registra um superávit de US$ 79 bilhões enquanto estamos afogados em déficits, John McCain continua isolado em sua teimosa recusa quanto a pôr fim a uma guerra que jamais deveria ter sido travada.
- Não é desse tipo de juízo que precisamos; isso não manterá os Estados Unidos seguros. Precisamos de um presidente capaz de enfrentar as ameaças do futuro, e não de um que continue se agarrando às idéias fracassadas do passado.
- Não se derrota, não se pode derrotar, uma rede terrorista que opera em 80 países por meio da ocupação do Iraque. Não se pode proteger Israel e dissuadir o Irã de atos agressivos simplesmente por meio de retórica belicosa em Washington. Não se pode apoiar realmente a Geórgia quanto causamos severo desgaste às nossas mais antigas alianças.
- Caso John McCain deseje seguir nos passos de George Bush, que sempre fala duro e sempre opta por más estratégias, isso é seu problema, mas não é essa a mudança de que os Estados Unidos precisam.
- Somos o partido de Roosevelt. Somos o partido de Kennedy. Por isso, não venham me dizer que os democratas não defenderão o país. Não venham me dizer que os democratas não serão capazes de nos manter em segurança. A política externa de Bush e McCain desperdiçou esse legado que gerações de norte-americanos, democratas e republicanos, batalharam por construir, e estamos aqui para restaurá-lo.
- Como comandante-em-chefe, jamais hesitarei em defender o país, mas só enviarei nossas tropas em operações militares com uma missão clara e tendo assumido o sagrado compromisso de lhes dar o equipamento de que elas precisarão em combate e os cuidados e benefícios de que necessitarão quando voltarem para casa.
- Encerrarei a guerra no Iraque de maneira responsável e concluirei os combates contra a Al-Qaeda e o Talibã no Afeganistão. Reconstruirei nossas forças armadas para que antecipem as necessidades de futuros conflitos, mas também renovarei a diplomacia dura e direta que pode impedir que o Irã obtenha armas nucleares e conter a agressão russa.
- Construirei novas parcerias para derrotar as ameaças do século XIX terrorismo e proliferação nuclear, pobreza e genocídio, alterações climáticas e doenças.
- E restaurarei nossa posição moral de modo que os Estados Unidos estejam uma vez mais possam ser a última e a melhor das esperanças daqueles que se sentem compelidos a tomar a causa da liberdade, no anseio de uma vida de paz, e daqueles que desejam um futuro melhor.
- São estas as políticas que pretendo adotar. E, nas próximas semanas, aguardo ansiosamente pela oportunidade de debatê-las com John McCain. Mas o que não farei é sugerir que o senador assume as posições que assume por motivos políticos, porque uma das coisas que precisamos mudar em nossa política é a idéia de que pessoas não podem discordar em que isso resulte em contestações ao caráter e ao patriotismo uns dos outros.
- O momento é sério demais, e há coisas demais em jogo, para que essa mesma tática das disputas partidárias do passado seja repetida. Portanto, permitam-me afirmar que o patriotismo não tem partido. Amo o meu país, como vocês amam, e como o senador John McCain ama.
- Os homens e mulheres que servem em nossas campos de batalha podem ser democratas, republicanos ou independentes, mas eles combateram juntos e sangraram juntos; muitos deles até mesmo morreram juntos em defesa da mesma orgulhosa bandeira. Eles não serviram aos Estados Unidos conservadores ou aos Estados Unidos liberais. Serviram aos Estados Unidos da América.
- Por isso, tenho uma novidade para você, John McCain: colocaremos o país em primeiro lugar.América, nosso trabalho não será fácil. Os desafios que enfrentamos requerem escolhas complicadas. E os democratas, bem como os republicanos, terão de abandonar as idéias e políticas desgastadas que herdamos do passado, porque parte daquilo que foi perdido nos últimos oito anos não pode ser medido em termos de queda de salários e de aumento dos déficits. O que também perdemos foi nosso senso de propósito comum, e é ele que precisamos restaurar.
- Podemos não concordar quanto ao aborto, mas decerto podemos concordar quanto à redução do número de gestações indesejadas em nosso país.
- A realidade da posse de armas pode ser diferente para os adeptos da caça na zona rural do Ohio e para as pessoas que estão sob o assédio da violência das gangues em Cleveland, mas não venham me dizer que é impossível defender a segunda emenda à constituição americana, que garante o direito ao porte de armas sem que para isso tenhamos de permitir a criminosos o acesso a fuzis de assalto AK-47.
- Sei que existem diferenças quanto ao casamento homossexual, mas certamente todos podemos concordar em que nossos irmãos homossexuais têm o direito de visitar a pessoa que amam em um hospital e a viver suas vidas livres de discriminação.
- A discussão quanto à imigração pode se tornar passional, vocês sabem, mas não conheço ninguém que seja beneficiado pelo fato de que uma mãe se veja separada de seu filho pequeno, ou por um empregador norte-americano que tente escapar às normas salariais do país contratando imigrantes ilegais.
- Mas isso tudo também é parte da promessa dos Estados Unidos, da promessa de uma democracia na qual podemos encontrar a força e a graça necessárias a superar as divisões que nos afastam e encontrar a união em nome de um esforço comum.
- Sei que existem muitas pessoas que descartam esse tipo de afirmação sob a rubrica de otimismo ingênuo. Alegam que a nossa insistência em algo de maior, algo de mais firme e mais honesto em nossa vida pública, representa apenas um cavalo de Tróia para impostos mais altos e para o abandono de nossos valores tradicionais.
- É de esperar que o façam, porque quando não existem idéias novas só resta recorrer à embolorada tática de assustar os eleitores.
- Caso você não tenha um histórico positivo para apresentar em sua campanha, então basta pintar o seu oponente como alguém de quem as pessoas deveriam fugir correndo. O tema central de uma grande eleição passa a ser uma sucessão de coisinhas irrelevantes.
- E, se vocês querem saber, essa tática funcionou no passado, porque se enquadra bem ao cinismo que todos sentimos com relação ao governo. Quando Washington não funciona, todas essas promessas parecem vazias. Caso as esperanças das pessoas tenham sido destruídas vezes sem conta, o melhor passa a ser deixar de esperar e aceitar aquilo que todos já conhecemos. Eu entendo. Percebo que não sou o mais provável candidato a esse posto. Não me enquadro na descrição típica, e não passei minha carreira nos salões do poder em Washington.
- Mas estou ocupando esta posição diante de vocês, na noite de hoje, porque algo está despertando nos Estados Unidos. O que as pessoas de visão negativa não compreendem é que esta eleição jamais girou em torno de mim: gira em torno de vocês.
- Gira em torno de vocês.Por longos 18 meses vocês se ergueram, um a um, e disseram "basta! - diante das políticas do passado. Vocês compreendem que, na atual eleição, o maior risco que podemos assumir é o de tentar de novo as velhas políticas, com os mesmos e velhos jogadores, na expectativa de que isso traga resultado diferente.
- Demonstramos o que a História nos ensina: que, em momentos de definição como o atual, a mudança não vem de Washington. A mudança vai a Washington.
- Mudanças acontecem - acontecem porque o povo dos Estados Unidos exige, se ergue e insiste em novas idéias e novas lideranças, uma nova política para uma nova era. América, estamos vivendo um desses momentos.
- Acredito que, por mais difícil que venha a ser, a mudança de que precisamos está a caminho, porque nós a vimos e a vivemos. Porque eu a vi no Illinois, quando oferecemos assistência a mais crianças e tiramos mais famílias da assistência social e as colocamos no mundo do emprego.
- Eu a vi em Washington, onde superamos divisões partidárias para abrir o governo e tornar os profissionais de lobby mais diretamente responsáveis pelos seus atos, para oferecer melhor assistência aos nossos veteranos de guerra e impedir que terroristas viessem a ter acesso a armas nucleares.
- E o vimos ao longo desta campanha, nos jovens que estavam votando pela primeira vez e nas pessoas de coração jovem, que voltaram a se envolver em política depois de longos hiatos; o vimos nos republicanos que jamais acreditavam que votariam também nas primárias democratas, mas acabaram por fazê-lo.
- Eu o vi - eu o vi nos trabalhadores que decidiram reduzir suas jornadas diárias de trabalho, ainda que isso fosse prejudicá-los economicamente, para evitar que seus colegas fossem demitidos; nos soldados que voltam a se alistar mesmo depois de perder um membro; nos bons vizinhos que acolhem um desconhecido quando chegam os furacões e as águas da inundação recobrem um bairro.
- Este nosso país tem mais riqueza do que qualquer outra nação, mas não é isso que nos torna ricos. Temos as mais poderosas forças armadas do mundo, mas não é isso que nos torna fortes. Nossas universidades e nossa cultura são a inveja do mundo, mas não é isso que faz com que o mundo continue a nos procurar.
- Em lugar disso, é o espírito americano, a promessa dos Estados Unidos, que nos propele, mesmo quando o caminho é incerto; que nos mantém unidos a despeito de nossas diferenças; que nos faz ter em vista não aquilo que podemos ver, mas aquilo que ainda não podemos, o lugar melhor que deve surgir logo que dobrarmos a curva.
- Essa promessa é a nossa maior herança. É uma promessa que faço às minhas filhas quando as ajeito para dormir e uma promessa que vocês todos fazem aos seus filhos, uma promessa que trouxe imigrantes através dos oceanos, levou trabalhadores a formar piquetes e as mulheres a lutar pelo voto.
- E foi essa promessa que, há 45 anos, levou norte-americanos de todos os cantos do país a se unirem no Mall de Washington, diante do memorial de Lincoln, para ouvir um jovem pregador da Geórgia falar sobre o seu sonho. Os homens e mulheres que estavam reunidos lá poderiam ter ouvido muitas coisas. Poderiam ter ouvido palavras de ira e discórdia. Poderiam te sido aconselhados a sucumbir diante do medo e das frustração de tantos sonhos irrealizados.
- Mas o que as pessoas ouviram, em lugar disso - pessoas de todos os credos e cores, de todas as profissões - foi que, na América, nosso destino está inextricavelmente ligado ao dos demais cidadãos, e que, unidos, podemos ter um sonho comum.
- Não podemos caminhar sozinhos", exclamou o pastor. "E, ao caminharmos, devemos assumir o compromisso de que sempre marcharemos adiante. Não podemos recuar".
- América, nós não podemos recuar.
- Não quando ainda resta tanto a fazer; não com tantas crianças a educar, tantas veteranos de guerra a atender; não com uma economia a reparar e cidades a reconstruir e fazendas a salvar; não com tantas famílias a proteger e tantas vidas a retificar.
- América, nós não podemos recuar. Não podemos caminhar sozinhos.
- Neste momento, nesta eleição, devemos prometer uma vez mais marchar em direção ao futuro. Cumpramos essa promessa, a promessa dos Estados Unidos, e, nas palavras da Bíblia, que "nos apeguemos firmemente e sem hesitação à esperança que confessamos.
- Obrigado. Deus os abençoe. E Deus abençoe os Estados Unidos da América.