Lúcia Jardim, Portal Terra
PARIS, FRANÇA - Com uma taxa de duas crianças para cada mulher em 2006 e na contramão das estatísticas européias, os franceses encabeçam a lista de natalidade no continente, divulgou nesta semana uma pesquisa do Insee (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos). Fazia 26 anos que nenhum país europeu chegava a esse índice - hoje a média no continente é de 1,52 criança por mulher.
A Irlanda segue de perto a França, com 1,92 de taxa de fecundidade por mulher. A Alemanha é o país que tem o menor índice, de 1,33. Os números provisórios para 2007 apontam para a mesma tendência, de fecundidade de 1,98 bebês por mulher na França e 1,37 na Alemanha.
Ao mesmo tempo, e contraditoriamente, o número de casamentos na França está em queda - 274 mil uniões celebradas em 2006, contra 266,5 mil no ano seguinte - e a população está cada vez mais velha. Em 1º de janeiro do ano passado, 10,3 milhões de pessoas tinham mais de 65 anos no país, o que representa 16,4% da população - contra 15% em 1994. Do lado oposto, dos jovens, acontece o fenômeno contrário: apesar do aumento do número de nascimentos, a taxa de jovens baixou de 26,7% em 1994 para 25% no primeiro dia de 2007.
A esperança de vida entre as mulheres também impressiona: liderando a lista européia ao lado das espanholas, as francesas vivem em média até os 84,5 anos. Já entre os homens a esperança de vida é de 77,6 anos, índice mediano na escala do continente e semelhante ao dos alemães, gregos ou irlandeses. Com 61.538 milhões de habitantes, a França é responsável por 13% da população da União Européia, composta por 27 países.
Os números indicam um retrato da mulher francesa moderna: elas casam mais tarde, trabalham fora, vivem mais, e nem por isso deixam de ter mais filhos. É o caso da jornalista Delphine Rigaud, de Paris. Aos 25 anos e membro de uma família composta por cinco irmãos, ela planeja ter "pelo menos três filhos". "Mas nenhum antes de me casar!", adverte a jovem, para quem matrimônio é uma instituição incontornável. Antes de formar sua família, Delphine ainda planeja já estar com a vida profissional bem-encaminhada e conta com a ajuda do Estado francês para poder oferecer as melhores condições de vida possíveis aos filhos.
- Em diversos outros países da Europa, ter mais do que dois filhos é inviável financeiramente - avalia.
O fator religião pouco influencia nas escolhas das francesas, avalia o chefe da Divisão Demográfica do Insee, Stéphane Jugnot.
- É normal que a Irlanda esteja logo atrás da França na taxa de fecundidade, mas as razões são completamente diferentes. Enquanto o catolicismo influencia bastante a vida das irlandesas, na França são as políticas de auxílio financeiro do Estado que impulsionam as mulheres a terem quantos filhos desejam -explicou Jugnot ao Terra.
No que diz respeito ao casamento, hoje as francesas optam por oficializar a primeira união aos 30 anos, enquanto que em 1997 elas diziam o "sim" aos 27,4 anos. A pesquisa ainda aponta que é entre o terceiro e o sexto ano de casamento o período de maior risco de separação entre os casais.
Convidada a comentar os números em um programa de televisão, a secretária de Estado para a Família, Nadine Morano, disse esperar que os índices de fecundidade sejam ainda mais positivos nos próximos anos, graças a uma política estatal de auxílio às famílias.
- Nós ainda podemos melhorar essa taxa de fecundidade. É claro que podemos fazer melhor - disse, lembrando que o governo francês gasta por ano 83 milhões de euros (R$198,8 milhões) em política familiar.
Os investimentos vêm em boa hora. Também nesta semana, uma outra pesquisa, realizada pela da Eurostat, apontou que em sete anos o número de óbitos será superior ao de nascimentos na União Européia, e a porcentagem de idosos será de 30% em 2060 - quase o dobro dos atuais 17%.
Para Jugnot, essa má notícia não deve influenciar no plano demográfico francês.
- Este estudo mostra a situação média européia num aspecto em que a França desempenha um papel particular, no lado oposto ao dos demais países. Felizmente, nosso país sempre esteve entre os com maiores taxas de fecundidade e por isso com um saldo positivo no balanço mortes-nascimentos - conclui.