Agência AFP
MONTEVIDÉU - Durante muito tempo considerada uma região indisciplinada em termos de endividamento, a América Latina aparece melhor armada contra a crise financeira, depois de ter acertado suas contas e prevenido seus bancos contra os créditos de alto risco, na origem do caos.
Depois de ter arrancado os cabelos para resolver seu problema de endividamento, a região é hoje um exemplo por não ter cedido à folia dos empréstimos hipotecários que limaram o setor bancário nos EUA e na Europa.
- É pouco provável que os países latino-americanos sejam atingidos pela bolha imobiliária, afirmou Pablo Kornblum, professor de economia internacional da Universidade John F. Kennedy em Buenos Aires, em entrevista à AFP.
Segundo ele, as instituições bancárias foram mais prudentes em sua política de crédito e não concederam empréstimos a clientes com pouca capacidade de solvência, nesta região caracterizada por fortes desigualdades.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Moreno, comemorou esta "ausência de ativos tóxicos", em encontro com investidores semana passada em Montevidéu.
- O fato de não ter ativos tóxicos representa uma vantagem que contribui para a solidez dos sistemas financeiros e os distingue do que aconteceu nos EUA e na Europa, confirmou à AFP Silvio Campos Neto, economista do Banco Schahin do Brasil.
- Por seu passado desorganizado, a região limitou seu recurso ao circuito financeiro internacional, o que a preservou da contaminação atual, segundo Kornblum.
O secretário-geral da Cúpula Ibero-americana, que reúne na sexta-feira em El Salvador os dirigentes da América Latina, da Espanha e de Portugal, Enrique Iglesias considera que a região - está preparada como nunca e constituiu suas próprias defesas.
Suas reservas triplicaram em quatro anos, chegando a 460 bilhões de dólares, um dado totalmente inédito para este continente que dispõe de contas equilibradas e de um sistema financeiro sólido, destacou à AFP.
Diante da falta de liquidez, a região já começou a recorrer às suas reservas, como o Brasil e o México, cujo banco central desbloqueou mais de 15 bilhões de dólares para sustentar sua divisa.
Testemunho deste bom momento financeiro, o México, ex-símbolo da falência latino-americana por ter declarado moratória nos anos 80, anunciou terça-feira ter obtido um empréstimo de 5 bilhões de dólares do BID e do Bird (Banco Mundial). Outro sinal positivo, nenhuma falência bancária de envergadura foi anunciada até agora na América Latina.
- Será que os bancos podem quebrar na região. Ainda é cedo para dizer, mas acredito que a América latina pode superar esta tempestade, declarou à AFP Fernando Pozo, presidente da Federação latino-americana dos bancos (Felaban), que reúne 500 estabelecimentos em 19 países.
Tudo deve depender do contragolpe da recessão mundial que pesa sobre a região através da queda dos preços das matérias primas, pilar de um crescimento superior a 5% em mais de cinco anos.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que depende das Nações Unidas, advertiu segunda-feira que seu crescimento não esperava os 3% em 2009, em razão da queda das exportações e das remessas, as transferências do dinheiro dos emigrantes.
- A boa saúde financeira da América Latina pode ao menos permitir-lhe enfrentar os impactos sobre a economia real e tentar reduzi-los ao máximo, concluiu Pozo.