Marsílea Gombata, Jornal do Brasil
MUMBAI - O governo paquistanês se recusa a extraditar para a Índia os suspeitos detidos na segunda-feira dentro da investigação pelos atentados de Mumbai. No lugar disso, argumenta que as julgará em território paquistanês caso se confirmem as suspeitas de suposto envolvimento nos ataques.
Estas detenções aconteceram dentro de nossa própria investigação observou o ministro das Relações Exteriores paquistanês, Shah Mehmood Qureshi. Mesmo se forem comprovadas as acusações contra eles, não os entregaremos à Índia e os julgaremos dentro da lei paquistanesa.
Resultado das tensões acirradas entre o Paquistão e a Índia depois dos atentados do fim do mês passado em que mais de 170 pessoas morreram o governo civil do país afirmou querer paz com seu vizinho, mas não descartou entrar em confronto com o vizinho se julgar necessário. Caso a Índia o ataque, fez questão de deixar claro, está pronto para a guerra.
Nesta terça-feira, a polícia indiana identificou um quinto suspeito dos ataques e divulgou os nomes e fotos dos nove homens armados mortos no confronto. O indiano, reconhecido como Sabauddin, já esteve preso antes. No último domingo, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, voltou atrás na afirmativa americana que isentava o Paquistão de alguma ligação nos ataques e afirmou que não há duvidas que os atentados foram planejados no país.
O governo indiano garante que militantes do grupo paquistanês Laskhar-e-Taiba são os responsáveis pela tragédia. O governo de Islamabad nega que os ataques tenham qualquer relação com a inteligência de seu país, mas não descarta que os militantes sejam paquistaneses e chegou a oferecer cooperação à Índia para as investigações.
Em artigo publicado no New York Times, o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari viúvo da ex-premier assassinada Benazir Bhutto propôs que o Paquistão e a Índia colaborem na luta antiterrorista. Que sigamos avançando em nosso processo de paz , pediu Zardari.
- Os atentados eram dirigidos não só contra a Índia, mas também contra o novo governo democrático do Paquistão e contra o processo de paz com a Índia que empreendemos - escreveu o presidente.
Zaradai disse, ainda, que a ofensiva contra o campo de treinamento do Lashkar-e-Taiba representa uma prova do comprometimento de seu governo contra o terrorismo e pediu para que a Índia faça uma pausa e tome fôlego antes de culpar o Paquistão pelos ataques contra a cidade de Mumbai.
Confrontos indicam fragilidade e falta de controle paquistanesas
Os recentes ataques na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, além de ameaçarem o estabelecimento das forças da Otan na região, evidenciam a fragilidade interna e a falta de controle no Paquistão.
O terror cresce e aumenta o debate em torno da conduta do governo civil do país, que tem subestimado a estabilidade e perdido controle sobre importantes áreas tribais e cidades avalia Richard Bennett, analista em inteligência britânico. Rotas vitais para o reabastecimento estão vulneráveis e com o crescimento do terrorismo na fronteira, oficiais de Washington e Londres reclamarão a Islamabad sobre a falta de proteção crônica.
O Pentágono minimizou o impacto dos ataques contra depósitos militares da Otan no Paquistão. Analistas, entretanto, têm dúvidas sobre o futuro das tropas estrangeiras. No total, 80% do abastecimento das forças no Afeganistão provêm do Paquistão principalmente combustível e a entrega é feita por Khyber, que une ambos países.
O alto nível de insurgência poderia ser, em outros tempos, suficiente para motivar George Bush a ordenar ofensiva no país. A questão atual, no entanto, é sobre qual posição Barack Obama assumirá.
Não vejo Obama articulando uma guerra contra o Paquistão prevê Kirk Buckman, da Universidade Franklin Pierce, em New Hampshire. Se alguma coisa deve ser feita no Paquistão, os EUA se engajarão apenas em ataques a elementos que vivem na fronteira. Os EUA costumam ser vistos como quem apoiou o regime corrupto de Pervez Mussharraf. Por isso, Obama começará a se distanciar para ser mais neutro entre Índia e Paquistão.
Na semana passada, o relatório do Congresso americano chegou a dizer que a maior ameaça de ataques terroristas aos EUA vem do Paquistão. No documento, o país foi citado repetidamente devido aos grupos locais, as armas nucleares e a recorrente instabilidade política.
Potencialmente, o Paquistão é o mais perigoso dos Estados islâmicos avalia Bennett. População militante cada vez maior, serviço de inteligência agressivo, temíveis forças militares, armas nucleares e possível capacidade para combate químico. Tudo correndo o risco de cair nas mãos de grupos islâmicos extremistas ligados à Al Qaeda.