Jornal do Brasil
LIMA - Milhares de pessoas saíram ás ruas ontem no Peru em solidariedade aos povos nativos da Amazônia, em uma demonstração de rechaço à posição do governo em relação da polêmica lei da selva, sobre a exploração florestal do nordeste amazônico. O decreto-lei foi pivô de uma crise com as comunidades indígenas que teve início na semana passada e fez pelo menos 34 mortos.
Lima foi palco de enfrentamentos entre a polícia e envolvidos nas manifestações, que foram convocados por organizações sindicais, universitárias e civis. A marcha convocada na capital teve início pacífico, mas mudou de tom quando um grupo de jovens rompeu o cerco policial que o impedia de cercar o Palácio do Governo e começou a correr em direção ao Parlamento.
Hastes de bandeiras que até então levavam frases de protesto como a selva não se vende e Alan assassino converteram-se em projéteis e armas contra os policiais. Forças de segurança responderam aos ataques com bombas de gás lacrimogêneo, provocando reações dos manifestantes, que responderam com novos lançamentos de pedras, garrafas de vidro e coquetéis molotov.
No restante das outras principais cidades do país, as marchas também foram numerosas, mas não resultaram em episódios violentos.
Camponeses bloquearam a pista de pouso de um aeroporto da província de Andahuaylas e as estradas que ligam a região de Apurímac, no sul, com Lima e outras zonas.
Ontem, o governo do Peru cancelou a permissão de difusão da rádio La Voz de Bagua, emissora responsável pela transmissão de informação extraoficial sobre os enfrentamentos.
Polêmica
O decreto 1.090 conhecido como lei da selva, que modifica a Lei Florestal de 2000, foi aprovado em 28 de junho de 2008 como parte de um pacote de leis propostas pelo Executivo peruano com o objetivo de se adequar às condições do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. O governo alega que a norma pretende regulamentar e supervisionar a gestão e o aproveitamento sustentável de recursos florestais, incluindo concessões para ecoturismo e conservação, através de uma autoridade independente do Ministério da Agricultura peruano.
Os indígenas da Amazônia peruana temem que tais decretos abram a porta a investimentos privados descontrolados, e denunciam que a norma foi aprovada sem o consentimento dos povos nativos, como prevê a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Na quarta-feira, o Congresso peruano decidiu suspender durante 90 dias a lei, com o objetivo de estudar possíveis modificações e encontrar uma saída aos problemas com os povos nativos da Amazônia.
Há dois meses, cerca de 5 mil pessoas de mais de 60 tribos peruanas, reuniram-se na Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesesp) e se pronunciaram contra possíveis decretos. Além disso, obstruíram estradas e vias fluviais, e bloquearam operações de petrolíferas na região, o que levou ao desabastecimento de alimentos e corte de energia em diversas cidades do país.
O episódio mais violento ocorreu no fim de semana passado, quando 34 pessoas morreram durante os choques entre nativos e a polícia, que tentava acabar com os bloqueios nas estradas e oleodutos. Os piores enfrentamentos ocorreram perto de Bagua Chica, a cerca de 700 quilômetros ao norte de Lima.
Para o líder boliviano, Evo Morales, os violentos protestos no Peru servirão de grande lição para entender as demandas ambientais dos povos nativos. Anteriormente, o presidente peruano, Alan García, sugerira que Morales primeiro presidente indígena do país vizinho estaria por trás dos protestos.
Com agências.