Agência Brasil
BRASÍLIA - Depoimentos de experiências em busca da superação do preconceito e da discriminação racial marcaram hoje (15) o último dia do I Seminário Nacional de Empoderamento das Mulheres Negras.
O encontro reúne 120 mulheres desde a quinta-feira (13). Empoderamento é a tradução da palavra inglesa empowerment, que significa dar poderes de decisão, participação e autonomia a uma pessoa, dentro de uma empresa por exemplo.
Segundo a gerente de projetos da Subsecretaria de Ações Afirmativas da Secretária Especial de Política de Promoção de Igualdade Racial da Presidência da República, Valéria de Oliveira, o encontro buscou reunir diferentes "atores sociais" que organizam mulheres negras, como partidos e outras entidades da sociedade civil para discutir os mecanismo de "empoderamento" desse segmento social.
- Como a gente sabe a diferença , reflete duramente a desigualdade do país. Se você pegar todos os dados relativos à educação, saúde e oportunidade de trabalho vê que os negros estão na parte inferior da pirâmide e as mulheres são mais discriminadas e mais afetadas por essa desigualdade - disse.
No encontro, foram apresentadas diversas experiências. Uma delas, a da reitora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Aurina Oliveira Santana. Em 2001, após ser escolhida pela comunidade acadêmica, em primeiro lugar em uma lista tríplice, para dirigir o Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-BA), Aurina foi preterida por outro nome.
A decisão provocou uma série de protestos e a paralisação das aulas. A questão só foi resolvida com a renúncia do professor, considerado imposto na época e a escolha de um diretor pro tempore.
Outra experiência apresentada no encontro foi a da vereadora quilombola do Partido dos Trabalhadores , Maria Rosalina Santos, de Queimada Nova (PI). Rosalina é considerada pelo portal Observatório Quilombola com um dos expoentes na luta pela regularização fundiária e serviços básicos nas áreas de saúde, educação, trabalho e renda das comunidades remanescentes de quilombos.
- Além de muito emocionante, o depoimento dessas pessoas possibilitou também o retrato de diversas experiências que revelaram dificuldades, mas também experiências exitosas - disse Valéria Oliveira.
Até o final do encontro, hoje à noite, serão tiradas propostas entre os grupos participantes do evento para serem encaminhadas aos órgãos públicos ligados à temática e como forma de subsídio para as políticas públicas voltadas para esse segmento. Valéria admite um certo avanço, atualmente no Brasil, em relação ao respeito às mulheres negras, mas alerta que o espaço para a igualdade é muito grande.
- Sem dúvidas temos avançado, mas como se trata de uma desigualdade secular fruto da abolição inacabada, nós temos ainda muito que avançar - disse.
Ela citou, ainda, a experiência de Creusa Maria Oliveira, considerada por Valéria emblemática. Presidente da Federação das Trabalhadores Domésticas, Creusa é autora de uma conquista vista como coletiva, e não individual, já que a dirigente está à frente de uma categoria que é composta por quase 99% por mulheres negras.
"É uma categoria completamente alijada dos direitos que as outras categorias profissionais possuem. Mas já foi recebida pelo presidente da República e disso derivou uma diretriz para que as políticas públicas atendessem esse segmento. No Congresso Nacional, atualmente tramita um Proposta de Emenda Constitucional relativa aos direitos trabalhistas dessa categoria. "Então, é fruto de muita luta, de muita organização e muita dificuldade, mas já com avanços significativos".