O presidente americano Barack Obama deve pedir um novo reforço a seus aliados no Afeganistão na cúpula da Otan que será inaugurada nesta sexta-feira em Lisboa.
O encontro de sexta-feira entre Obama e seus sócios servirá principalmente para oficializar o apoio da Otan a um plano do presidente afegão Hamid Karzai de dar por terminadas as missões de combate em seu país até o final de 2014, segundo a Casa Branca.
Há um ano Obama decidiu aumentar o contingente no Afeganistão a 100.000 homens, mas prometeu que começaria a transferir responsabilidades às forças afegãs a partir de julho de 2011.
O governo americano continua defendendo esta data, mas agora afirma que o ritmo da transferência ainda está para ser definido. Alguns acham que, na realidade, está se adiando a decisão até 2014.
"Quando tínhamos uma estratégia contra a insurreição, no momento em que tínhamos tropas extras no terreno, o que precisávamos mais do que tudo era de mais tempo para fazer funcionar essa estratégia", declarou Lisa Curtis, do centro de análise conservador Heritage Foundation.
Além disso, caso os americanos terminem efetivamente sua missão de combate em 2014, a partir da estratégia implementada no Iraque - classificada de bem sucedida pela administração Obama -, a necessidade de uma presença estrangeira de apoio continuará presente.
Obama deve pedir à Otan que forneça mais treinadores e forças logísticas, algo que o Canadá acaba de apoiar com o anúncio do envio no próximo ano de 950 homens para substituir o contingente militar que abandonará o país.
Mais de nove anos depois do início do conflito, "a data de 2014 constitui uma tentativa de tranquilizar os europeus mais céticos e os americanos mais céticos ainda", considerou Curtis.
O momento também é crítico, já que este ano foi o mais violento para as forças da Otan no Afeganistão.
Por outro lado, o presidente russo Dmitri Medvedev participará na cúpula com o objetivo de melhorar as relações com o antigo inimigo da Guerra Fria, cujo projeto antimísseis na Europa continua irritando Moscou, apesar de a Rússia ter sido convidada a se unir a ele.
A cúpula, a qual o chefe de Estado russo assiste pela primeira vez desde a guerra russo-georgiana de agosto de 2008, oferece a possibilidade de eliminar os "fantasmas do passado", segundo o secretário-geral da Aliança, Anders Fogh Rasmussen.
"Acho que conseguiremos virar uma página de nossas relações e terminar com as acusações mútuas e avançar", comentou um alto funcionário da Otan que não quis ser identificado.
Para o especialista russo Viktor Kremeniuk, "ao participar nesta cúpula, Medvedev assume riscos, mas leva em conta que, para ampliar suas relações com o Ocidente, não bastam os contatos bilaterais com Obama, Merkel ou Sarkozy".
"Ele tem dois objetivos: reduzir o número de votos contra a Rússia dentro da Otan e obter um apoio para sua política de modernização da Rússia", acrescentou Kremeniuk, diretor adjunto do Instituto EUA-Canadá.
O chefe da diplomacia russa Serguei Lavrov destacou que Moscou já não considera a Otan uma ameaça.
"Se a Rússia e a Otan puderem enfrentar com sucesso os desafios que enfrentam, todos que querem melhorar a segurança de Vancouver a Vladivostok sairão ganhando", destacou.
Apesar dessas declarações tranquilizadoras, a vontade americana de instalar um sistema de defesa antimísseis nos ex-países comunistas da Europa impede uma melhoria das relações entre a Rússia e a Otan, à medida que Moscou considera esse projeto como um perigo.
Para acabar com esta desconfiança, Rasmussen propôs associar a Rússia a este projeto.
Medvedev também se dispôs a estudar esta oferta, mas vários dirigentes russos advertiram que não esperam que haja avanços sobre este tema em Lisboa.