PARIS - Além da inocência ou culpa de Dominique Strauss-Kahn, a imprensa francesa questiona nesta terça-feira o tratamento que o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) recebeu em Nova York e o "silêncio" dos meios locais ante os excessos de seus políticos.
No jornal de esquerda Libération, o analista Nicolas Demorand afirma que a queda de Dominique Strauss-Kahn, conhecido na França como DSK, "prossegue a uma velocidade vertiginosa e em uma atmosfera de naufrágio, de debacle".
Para o La Charente Libre, a "foto terrível (de DSK algemado) é certamente o primeiro cravo pregado no caixão político do chefe do FMI". Um espetáculo que "dá vertigem e náuseas", segundo o Courrier Picard.
No campo político, o conservador Le Figaro afirma que o "destino trágico de Dominique Strauss-Kahn afetará as primárias do Partido Socialista". Mas o comunista L'Humanité não concorda e afirma que, independente da conclusão do caso, o Partido Socialista terá candidato presidencial em 2012.
Vários jornais criticam ainda a tradicional discrição da imprensa francesa a respeito das elites dirigentes do país em nome da proteção à vida privada.
O Les Dernières Nouvelles d'Alsace opina que "o mundinho político-midiático parisiense poderia se questionar sobre sua irritante tendência a minimizar ou tolerar os comportamentos fora dos limites (com dinheiro, sexo, ou ambos) de suas elites".
"Há anos, os políticos e muitos jornalistas estavam perfeitamente a par das 'pequenas fragilidades' de DSK", completa.
Para o Le Républicain devem ser questionados a "omerta" (silêncio da máfia), "sua relação obsessiva com as mulheres, que não era segredo para ninguém".
"Todo mundo percebe que este silêncio complacente levou DSK - e nossa reputação - ao lugar em que se encontra".