A Petrobras afirmou que não se pronunciará sobre as acusações do governo argentino, a respeito de um suposto cartel, do qual a empresa faria parte, e que, segundo a Casa Rosada, inflaciona o preço do diesel vendido no país. Também estariam envolvidas no esquema as companhias Repsol-YPF, Shell, Esso e Oil.
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Nesta segunda-feira (16), o ministro do Planejamento argentino, Júlio De Vido, afirmou que o combustível vendido no atacado está com o preço até 30% superior aos cobrados no varejo.
Com isso, as petrolíferas estariam lucrando anualmente cerca de R$ 1,4 bilhão, o que produz um forte impacto sobre as tarifas dos transportes públicos no país. Segundo o secretário nacional de transportes, Juan Pablo Schiavi, o consumo mensal de óleo diesel oriundo do mercado atacadista chegaria a 315 milhões de litros.
O vice-presidente interino do país, Amado Boudou, ironizou a situação.
"É como alguém cobrar mais pelo alfajor dentro de uma caixa de uma dúzia do que pelo produto sozinho. Não tem nenhuma lógica econômica, além de afetar o poder de compra e a competitividade no país", disse.
Na entrevista, o governo argentino criticou principalmente a Repsol-YPF e a Shell, responsáveis, respectivamente por 65% e 20% do mercado de combustíveis no país. A segunda, inclusive, foi tachada pelo ministro Júlio de Vido como inimiga da Argentina.
“No caso da Shell, apelamos para as autoridades regionais e mundiais, porque Juan José Aranguren, presidente da Shell na Argentina, foi um sistemático opositor de todas as políticas deste governo”, declarou.
A Shell Argentina divulgou nota oficial contestando todas as acusações. Segundo a empresa, o óleo diesel vendido para grandes consumidores é, atualmente, cerca de 0,8% mais barato do que o comercializado no varejo. Além disso, a Shell garante que “sempre cumpriu e sempre cumprirá todas as suas obrigações legais” e que está à disposição das autoridades para esclarecer o caso.
A Repsol Brasil informou que "não tem autonomia ou mesmo conhecimento das ações realizadas pela Repsol YPF ou qualquer outra companhia pertencente ao grupo Repsol que atue fora do país".
Também procurada pelo Jornal do Brasil, a Esso não se manifestou. O porta voz da Oil não foi localizado.
A assessoria de imprensa do Ministério de Minas e Energia, órgão governamental ao qual a Petrobras está vinculada, informou que o ministro Edson Lobão só chega de viagem na quarta-feira (19), e só deve se manifestar, se assim o fizer, após seu retorno.
O Ministério das Relações Exteriores informou que acompanha o caso, mas por se tratar de uma companhia privada em atuação em outro país, a situação não pede intervenção diplomática. O Itamaraty confirmou que não há mudança nas relações do Brasil com a Argentina.
A reportagem do JB também entrou em contato com a embaixada argentina no Brasil, mas os responsáveis não foram encontrados para se pronunciar sobre a situação.
Diesel e Transportes
As denúncias do governo argentino se apresentam em um momento de cortes de subsídios às tarifas dos serviços públicos. O poder executivo do país vem fazendo movimentos para diminuir as despesas com os transportes, e não quer que isso provoque um aumento exacerbado no preço das passagens.
Em suas declarações nesta segunda-feira (16), De Vido afirmou que são realizadas 400 milhões de viagens mensais pelo transporte público no país. O preço cobrado em Buenos Aires, por exemplo, gira em torno de 1,10 a 1,25 pesos argentinos (R$ 0,45 a R$ 0,50) graças aos subsídios estatais. Sem esta intervenção, a tarifa seria mais alta. As empresas de transporte querem que as petrolíferas cobrem menos pelo diesel, pois assim a eliminação do auxílio do Estado não se refletiria em aumento no preço das passagens.
Segundo o jornal argentino El Clarín, periódico considreado oposicionista ao governo de Cristina Kirchner, o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, pediu às empresas de petróleo, no final de 2011, o balanço de todas as suas atividades, detalhando os custos e as margens de lucro de todos os seus produtos. Ele admitiu que o preço do diesel para uma empresa de transporte em massa pode ser maior do que para uma estação de serviço porque existem os custos com a entrega do material.
Importação
A produção argentina de petróleo e gás decaiu desde a última década. Embora o combustível que vai para o transporte seja feito no país, a importação é crescente e atingiu US$ 3,4 bilhões de dólares entre janeiro e setembro no ano passado. Esta saída de dólares, principalmente para a Venezuela, não é vista com bons olhos por Moreno.
No entanto, quem controla a importação de combustíveis é o departamento dirigido por De Vido. Por isso, segundo o jornal argentino, especialistas apostam em um confronto entre Moreno e De Vido sobre o tema.
Apuração: Luciano Pádua