O papa Francisco condenou a presença de "bizantinistas" na Igreja Católica em uma reunião com cerca de 500 participantes da Assembleia Geral do Movimento dos Focolares. O encontro com a organização, que é ecumênica e prega a vida em comunidade, ocorreu nesta sexta-feira (26).
"Dói o coração quando, perante a Igreja, há uma humanidade mas também uma Igreja tão ferida, com tantas feridas, feridas morais, feridas existenciais, de guerras puras, todos os dias isso dói. Dói ver quando os cristãos começam a criar bizantismos filosóficos, teológicos e espirituais. A espiritualidade de ir, que pede para essa espiritualidade fechada a quatro chaves. Isso é bizantinismo e a Igreja não pode ser isso. Já falei várias vezes que a Igreja é como um hospital de campo e a primeira coisa é curar as feridas, não fazer a dosagem de colesterol", disse Francisco se referindo ao termo que significa uma propensão para intrigas e conspirações. Ele ressaltou ainda que o diálogo é uma "arte que não se aprende em um mercado e que não pode utilizar as mesmas medidas".
Segundo ele, a existência do diálogo "se espera nas provas e no sofrimento de nossos irmãos e nas interrogações sobre a cultura de nosso tempo". Citando as "novas operações e atividades" do Movimento, que teve um "crescimento" considerável, Francisco disse que eles estão arrancando sorrisos "também na cúria romana". Aos representantes, o Pontífice pediu que eles se empenhem na evangelização, valorizando as características específicas ligadas à fundadora Maria Lubich. Ao recordá-la, Bergoglio disse ter uma lembrança de "afeto e reconhecimento", definindo-a como uma "extraordinária testemunha".
Segundo o líder da Igreja Católica, Lubich tinha o "dom" de levar o "perfume de Jesus em tantas realizações e em tantas partes do mundo". A "nova etapa da evangelização" que a Igreja está sendo chamada a percorrer "a 50 anos do Concílio Vaticano II" é um "anel de comunhão e unidade com o Espírito Santo suscitou em nosso tempo" e pede a testemunha do "amor de Deus a cada pessoa, a começar pelos mais pobres e excluídos". Ele sugeriu aos focolares uma reflexão em três pontos "contemplar, sair e fazer escola". Ele ainda insistiu sobre a "criatividade" dos cristãos e a afirmou que "a contemplação que deixa fora os outros é um engano, um narcisismo". Insistiu ainda "sobre a gratuidade da redenção". "A redenção é gratuita porque o perdão de pecados não é algo que se possa pagar, Cristo o pagou para todos. A gratuidade da redenção deve ser feita por nós com nossos irmãos e irmãs".
Francisco mandou também uma mensagem para que os jovens sejam formados na fé e sejam envolvidos no projeto de construção de uma nova humanidade. "Sem uma operação adequada de formação das novas gerações é ilusório pensar que se pode fazer um projeto sério e duradouro à serviço da nova humanidade", destacou Bergoglio.
"Chiara Lubich tinha, em seu tempo, criado uma expressão que permanece atual. Ela dizia que hoje é preciso criar 'homens-mundo', homens e mulheres com alma, coração e mente de Jesus e para isso é preciso ser capaz de reconhecer e interpretar as necessidades, as preocupações e as esperanças que habitam os corações de cada homem", finalizou o Pontífice.