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Sábado, 10 de maio de 2025

Repórter fotográfico brasileiro escala Monte Fuji e relata experiência com fotos incríveis

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O repórter fotográfico Marcelo Hide escalou o Monte Fuji, a mais alta montanha do Japão, no último dia 10 de agosto, segunda-feira, e escreveu um relato da aventura, que segundo ele era um de seus sonhos, acompanhado de fotos incríveis do lugar. As imagens e a narração foram originalmente publicadas no site Foto Publicas e estão reproduzidos na íntegra, abaixo.

"O Monte Fuji, com suas consecutivas erupções vulcânicas e emissão de gases, sempre foi fonte de devoção e inspiração artística, o qual os japoneses acreditavam ser a casa dos deuses. Aos poucos, a prática venerável mudou e pioneiros decidiram escalá-lo. Subir por suas encostas é hoje um sinal de respeito.

O sonho de escalar não ficou restrito apenas aos japoneses. Turistas o desafiaram. Mas, os decasséguis que no Japão aportaram por um bom emprego sempre sonharam em chegar ao topo do monte sagrado, em suas férias ou mesmo em fins de semanas.

Sou um deles. E me preparei. A distância do apartamento onde moro, em Okazaki, até a fábrica onde trabalho é de 8 km. Comecei a fazer esse percurso a pé, no mínimo duas vezes por semana. Queria, com isso, entrar em forma para realizar o sonho de escalar o Monte Fuji. Em quase dois meses, fortaleci minhas pernas e convidei dois amigos para a aventura. Tsuyoshi Takahashi, da cidade de Iguape-SP, e Humberto Coga, de São Paulo-Capital. Dois apaixonados, como eu, por fotografia.

Saímos de nossa cidade, Okazaki, no dia 10 de agosto de 2015. Tempo de verão para os japoneses, quando milhares de pessoas planejam escalar o Fuji a fim de chegar ao seu topo e contemplar o nascer do sol, conhecido como “Goraiko”.

Nossa aventura, praticamente, começou na cidade de Fujiyoshida, estado de Yamanashi, onde chegamos às 5h30. Às 8h10, estávamos no Estação 5 Fuji Subaru Line, onde se inicia a escalada. Por recomendação, ficamos até as 10h com o intuito de acostumar o organismo com a altitude, que dali para a frente só aumentaria. Estávamos, nessa estação, a 2.300m acima do nível do mar.

Havia muita gente no início da escalada, o que comprovaria, pelo menos para nós, a estatística de 200 mil pessoas que anualmente desafiam a escalada do Monte Fuji.

A ida e vinda de pessoas era assustador. Mais ainda quando víamos o semblante de sofrimento naqueles que desciam a montanha. Cruzamos com dois brasileiros que nos informaram que nunca mais fariam a loucura de escalar o Monte Fuji. Eles fizeram algumas recomendações, como poupar energia corporal, subir devagar, já que uma força suplementar seria necessária antes de alcançar o topo da montanha.

Iniciamos a escalada às 10h e o nosso objetivo era chegar ao topo antes das 18h50, já que queríamos ver o pôr do sol.

Escolhemos para subir a trilha Yoshida, a mais popular. Por ela, são 7 km e 500 m, em terreno arenoso e com bastante pedra no caminho.

Assim que começamos a subir, percebemos que a dificuldade só aumentava. Chegamos à estação 6. A partir daí a trilha era sobre rochas que serviam de degraus, Deixamos para trás a trilha reta sobre a areia.

A bagagem ficava cada vez mais pesada. Levei na mochila um equipamento fotográfico, 3 flashes, transmissor de flash, lentes, a câmera, blusa grossa para baixas temperaturas, capa de chuva, tripé para câmera, luvas, gorro, protetor de pescoço, mantimentos, água e muita comida energética. Providencialmente levei uma lata de spray de oxigênio.

À cada subida, o ar ficava mais rarefeito. O peso da bagagem começou a incomodar e meus movimentos enfrentavam dificuldades.

O ritmo da subida era lento, com paradas para registrar a paisagem vista do alto.

O clima no Monte Fuji é instável e durante o trajeto usamos várias vezes a capa de chuva.

Depois de cinco horas de caminhada já sabíamos que não chegaríamos ao topo antes do pôr do sol. Falei várias vezes com minha esposa, que ficou em casa mapeando a nossa aventura.

A hora passou muito rápido, o sol se pôs e a noite chegou. As pessoas que estavam nas proximidades foram se acomodando em cabanas ao preço de US$ 90 para um cochilo de poucas horas. Como não tínhamos feito reserva nessas pousadas continuamos a caminhada.

A escuridão inibia até nossas lanternas. A temperatura caiu repentinamente. De repente, demos conta que éramos um dos poucos que ainda caminhavam pela encosta. O céu era limpo e estrelado. Era muita emoção.

Chegamos a uma placa que avisava que o topo do Fuji estava a 600m, ou seja, seis quarteirões. Fomos em frente. Foram os 600m mais longos da minha vida. A cada três passos, parava para respirar.

Comecei a rezar e agradecer a Deus, além de pedir forças para chegar ao topo.

À 0h00 chegamos ao portal do topo do Monte Fuji. Deparamos com várias lojinhas de recordações e de comida. Todas fechadas. Estávamos sozinhos no local. O monte Fuji era nosso.

Por volta das 2h, luzes de lanternas indicavam que muita gente tinha saído das cabanas e se dirigia ao topo. Em pouco tempo, o topo estava tomado por pessoas, que chegavam sem parar.

Esperamos o nascer do sol. A magia venceu nosso cansaço. Agradecemos a Deus por aquela vitória. Foi o nascer do sol mais lindo que vi e fotografei.

Após o amanhecer, iniciamos a descida, por um outro caminho. Uma trilha mais suave, mas também cansativa.

A impressão durante a descida era a de que nunca chegaríamos ao final da nossa jornada. No final, tínhamos a opção de concluir o trajeto a cavalo ou sobre uma charrete. O preço de US$ 20 pela charrete atraiu apenas o nosso companheiro de jornada, Humberto Coga.

Enfim chegamos de onde saímos. Ao todo, 19 horas entre subida e descida. O corpo estava dolorido e juramos que nunca mais faríamos aquela loucura. No entanto, em casa, ao ver as fotos produzidas, me deu uma vontade louca de retornar ao topo do monte Fuji"