Nesta quinta-feira (24) o Clarín publicou a segunda parte da entrevista exclusiva que o presidente Mauricio Macri concedeu ao jornal. O tema interessa diretamente ao Brasil: a economia.
- Quando a população argentina vai sentir as melhoras econômicas?
- Todos os economistas dizem que o país vai crescer no ano que vem, após cinco anos de estagnação e recessão. Eu também sou otimista. Nós vamos crescer. As melhoras vão ir se estendendo. Hoje é tudo muito assimétrico, há lugares onde já se vê a nova atividade e outros onde ainda não. Isso vai emparelhar.
- O investimento parece não engatar e o consumo foi deixado de lado pelos argentinos...
- Como você faz para o consumo aumentar? Você volta a imprimir dinheiro e a aumentar a inflação? O governo anterior deixou um nível de consumo alto porque encheu a Argentina de pesos e a inflação tem um efeito atrasado. O que eles fizeram, focados em uma campanha política, sem nenhum tipo de responsabilidade, foi uma festa de emissão monetária que gerou esse salto na inflação.
Nós vamos estimular o consumo, mas a única maneira de fazer isso é colocar mais dinheiro no bolso das pessoas. E se não tivermos dinheiro? Tomamos mais dívida? É ruim. Para ter mais inflação? É ruim. Então quer dizer que não é possível.
O governo anterior sustentou um nível de consumo queimando futuro e isso é gravíssimo. Isso não pode acontecer nunca mais na história.
- Existem setores do governo que querem reduzir as taxas mais rapidamente para reativar a economia...
- Eu estou entre os que pensam que a inflação é pior para as pessoas humildes e a minha prioridade é cuidar dos que não podem se defender. Eu não estou disposto a mentir para as pessoas provocando mais inflação. Penso resolver o assunto da inflação e começar a debater seriamente quais são os problemas mais importantes: aí é onde eu quero ver a coragem dos dirigentes para dizer o que é nós vamos mudar.
- A qual nível de inflação é preciso chegar para dizer que já é possível pensar na recuperação?
- Eu insisto: eu quero pensar e não vão tirar o meu otimismo, que no ano que vem nós vamos crescer. E nós vamos conseguir isso tendo diminuído a inflação para menos de 20%. Mas temos que continuar. No ano que vem, menos de 20%. E em 2018 espero que a gente esteja perto de um dígito.
- O senhor se sente mais perto do ministro da Fazenda Alfonso Prat-Gay quando diz que é preciso reativar o mais rápido possível ou do presidente do Banco Central Federico Sturzenegger que antes quer baixar a inflação?
- Eu me sinto mais perto de quem integra a minha equipe de forma direta, que é o ministro da Fazenda. Eu tenho um enorme respeito pelo Federico e estou orgulhoso de tê-lo proposto para o Banco Central. Mas ele administra um órgão independente, que tem que cuidar do valor da moeda e ela está fazendo isso muito bem. São papéis totalmente diferentes. A minha tarefa é tentar reativar a economia e gerar condições para a criação de novos empregos. Alfonso está nessa tarefa. Mesmo assim, o valor de dois pontos mais ou menos de taxas a respeito da situação atual foi exagerado.
- O tarifaço foi o principal erro do seu primeiro ano de gestão?
- Eu diria que a ansiedade leva a que de repente... eu também sinto o que vocês me transmitem: que queremos já estar melhor. A gente quer dar um passo mais longo do que o que a sociedade pode dar para acompanhar. Eu sinto que não foi tarifaço, para mim essa é um nome péssimo. Aumentamos as tarifas para um terço do que elas valem. E penso que a sociedade acompanhou muito mais do que os dirigentes, porque 83% da sociedade pagou o aumento e 84% tinha pago a tarifa anterior. A sociedade disse, “sim, dói, nós não gostamos”.
Mas é razoável que a energia não possa ser tão barata, porque a força elétrica cai. E a política montou tudo o que montou. Foi um erro não ter conseguido um acordo dentro da política para que eles não colocassem obstáculos.