Os advogados de Milão boicotaram nesta terça-feira (7) a aula magna do Palácio de Justiça local que celebrava os 25 anos da Operação Mãos Limpas na Itália. A audiência, que contava com os promotores de Justiça que lideraram a operação, Antonio Di Pietro e Piercamillo Davigo, ficou praticamente vazia.
Mostrando seu "desapontamento" com a sala vazia, Di Pietro ressaltou que mesmo 25 anos após o fim da "Mãos Limpas", a "tangentopoli ainda está aqui". A palavra é usada pelos italianos para se referir aos esquemas de pagamento de propinas em obras públicas, muitas vezes ligados à máfia, e que ainda são revelados pela Justiça italiana nos dias atuais.
Segundo Di Pietro, a única coisa que mudou daqueles tempos para hoje "é que há a desolação por parte da opinião pública, que já não acredita mais que possa mudar qualquer coisa e que me faz olhar com tristeza essa aula magna vazia".
A operação italiana atingiu os mais altos níveis políticos, econômicos e institucionais do país e provocou o desaparecimento ou redimensionamento dos principais partidos da época, como a Democracia Cristã e o Partido Socialista Italiano, fundando a Segunda República. Ao todo, os promotores milaneses obtiveram 1,2 mil condenações por corrupção e crimes correlatos e provocaram um terremoto na Itália. Os três anos da investigação inicial provocaram uma desconfiança generalizada nos partidos e também foram marcados por uma grave crise econômica, prisões em sequência e atentados da máfia. Ao mesmo tempo, havia uma grande esperança - mais tarde despedaçada - de que a "Mãos Limpas" levasse mais transparência e honestidade ao poder público. Falando sobre a operação, o ex-promotor da "Mãos Limpas" destacou que a investigação "criou os organismos resistentes aos antibióticos". "Se você faz um tratamento pela metade, estes são os resultados e nós, infelizmente, paramos a cura na metade", ressaltou sobre os frequentes escândalos na Itália.
Sobre o boicote, os advogados informaram que não participaram do evento "porque não concordamos com alguns dos convidados", sem citar nomes, informaram a Ordem dos Advogados e a Associação de Jovens Advogados (Aiga).
De acordo com fontes, a Ordem dos Advogados não patrocinou o evento porque não havia uma esfera de "formação profissional" na programação e, após solicitar essa inclusão, os organizadores teriam respondido que era peara pedir a utilização de outra sala para o evento. Já a Aiga de Milão não teria gostado que a aula tinha como um dos organizadores estava a Aiga de Roma.