JFK. Todos conhecem essa sigla e logo a associam a uma das imagens mais marcantes da história: John Fitzgerald Kennedy, presidente americano assassinado em 1963, em Dallas, ao tomar um tiro na cabeça no banco traseiro de um conversível. Mas há outra inicial, menos célebre, mas igualmente poderosa (ou até mais, defendem alguns), que também marcou época e teve seu promissor futuro destruído por uma bala. Há 50 anos, em 6 de junho de 1968, RFK, ou Robert Francis Kennedy, foi morto em atentado cometido após vencer as primárias do Partido Democrata na Califórnia, o que provavelmente o levaria a se tornar o candidato da legenda à Casa Branca.
Nascido em 1925, o sétimo de nove filhos de Joseph e de Rose Kennedy teve papel de destaque em momentos importantes dos Estados Unidos. O sobrenome exerceu enorme influência em sua vida. De família rica, para os detratores Robert era apenas um playboy, assim como os irmãos, criado em mansões, iates, viagens e a na alta roda da sociedade. Mas a política também estava no sangue dos Kennedy.
Bobby, como era mais conhecido, participou ativamente da campanha que levou seu irmão John à presidência americana, em 1960, após apertada vitória contra o republicano Richard Nixon. Depois do triunfo dos democratas, ele foi nomeado procurador-geral dos Estados Unidos. Advogado de formação, havia trabalhado anteriormente como assistente do senador Joseph McCarthy, responsável pelas investigações de qualquer indivíduo que fosse considerado comunista ou simpatizante. A caça às bruxas, conhecida como macartismo, tornou-se uma mancha no currículo de RFK, que no futuro negou compactuar com as perseguições.
Como procurador-geral, o período não poderia ser mais turbulento. Bobby atuou no combate à máfia e precisou lidar com a luta pelos direitos civis. A época também era de Guerra Fria. Bobby e John estiveram juntos na crise dos mísseis de Cuba, em 1962, quando durante duas semanas o mundo prendeu a respiração temendo uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética.
No início, sua relação com o movimento negro foi conflituosa. Robert Kennedy e seu irmão presidente eram acusados de negligenciar, e até mesmo reprimir, os protestos contra o segregacionismo. Aos poucos, porém, ele se tornou um aliado na briga por direitos iguais. Em 1963, Bobby atuou ativamente para garantir o ingresso de dois estudantes negros em uma universidade do Alabama - numa época em que o ensino era dividido, vencendo o ódio e a pressão contrária do então governador do estado, Geoge Wallace.
Um ano depois, graças à briga da população negra, com ajuda dos Kennedy, a Lei dos Direitos Civis acabou com a segregação racial nos Estados Unidos. O texto histórico, porém, foi assinado por Lindon Johnson. JFK tinha sido assassinado um ano antes. A partida do irmão abalou Bobby profundamente, mas ele mergulhou na política e se candidatou a senador por Nova York. Apesar de novato, aprendeu rápido a falar para as massas. Por onde passava, arrastava multidões. Em novembro de 1964, Robert F.Kennedy foi eleito para o Congresso, onde desempenhou dura oposição à guerra do Vietnã, além de criticar a desigualdade social e defender os direitos humanos. Em 1965, o senador visitou o Brasil em plena ditadura e apoiou o direito à livre manifestação no país.
Em poucos anos, Bobby se tornou o queridinho da América. Ou pelo menos da metade democrata da nação. Seus atributos encarnavam a alma americana. Era extremamente ambicioso, católico, bom pai e trabalhador. E ainda carregava o legado inconcluso de seu irmão. Não demorou para almejar o maior dos sonhos de todo político do país: a Casa Branca.
Em 1968, Bobby iniciou campanha para se tornar candidato à presidência pelo Partido Democrata. Mas 1968, todos sabem, não foi um ano qualquer. Foi o ano que assistiu aos protestos de maio na França, à morte do líder Martin Luther King, à Primavera de Praga, na Tchecoslováquia, e ao AI-5, no Brasil. E que assistiria ainda mais um evento fatídico.
Em 5 de junho, no dia em que foi confirmado vencedor das primárias democratas da Califórnia, Robert Kennedy foi gravemente ferido por três disparos desferidos pelo palestino Sirhan Bishara Sirhan, no momento em que atravessava a cozinha do Ambassador Hotel, em Los Angeles. Bobby comemorava um resultado que certamente desembocaria na oficialização de sua candidatura, e possivelmente em sua eleição para o cargo mais importante do mundo.
O motivo do crime seria o apoio que os EUA deram a Israel na Guerra dos Seis Dias (1967). O assassino foi condenado à câmara de gás em 1969, mas sua pena foi alterada para prisão perpétua. Sirhan vive até hoje numa prisão da Califórnia. Assim como no caso de JFK, dezenas de teorias conspiratórias foram elaboradas para explicar o atentado.
O tiro certeiro que matou John espatifou seu cérebro e o matou instantaneamente. Bobby ainda agonizou por algumas horas, morrendo no dia seguinte, com apenas 42 anos, no hospital Bom Samaritano. Pequena diferença de um destino comum, que levou os irmãos da glória à tragédia, do sonho ao pesadelo.