Os países ocidentais membros da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) apresentaram um projeto nesta terça-feira para dar a esta instância o poder de designar os responsáveis de ataques com armas químicas, um projeto ao qual a Rússia se opõe.
A reunião começou nesta terça-feira em Haia, onde fica a sede da Opaq, e acontece enquanto se espera que os inspetores desta organização publiquem um esperado relatório sobre o suposto ataque com gás sarin e cloro em 7 de abril em Duma, perto de Damasco.
"Queremos reforçar a organização", afirmou a delegação britânica na Opaq no Twitter. "Queremos permitir que a Opaq identifique os responsáveis por ataques químicos", acrescentou.
Essa sessão especial do mais alto órgão da Opaq, Prêmio Nobel da Paz em 2013, foi convocada a pedido da Grã-Bretanha, que será representada por seu ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson.
Londres tomou esta iniciativa poucas semanas depois do envenenamento, com agente neurológico, do ex-duplo agente russo Serguei Skripal e sua filha em Salisbury (sudoeste da Inglaterra). Um ataque químico, o primeiro ocorrido na Europa em décadas, que o Reino Unido atribuiu à Rússia.
A questão das armas químicas foi durante muito tempo tabu desde sua aparição nos campos de batalha durante a Primeira Guerra Mundial, mas as recentes utilizações de gases tóxicos nos conflitos iraquiano e sírio, ou de agentes neurotóxicos em Kuala Lumpur e na Inglaterra, alarmaram o mundo.
A causa: a ausência de métodos eficazes para que os culpados tenham que responder por seus atos.
- 'Opiniões divergentes' -
"Os responsáveis devem ser punidos sobre a base de provas autênticas e fortes", declarou o presidente da sessão, o marroquino Abdeluahab Belluki, no começo dos debates.
A Rússia, entretanto, criticou a organização dessa reunião. O chefe da delegação, Georgy Kalamanov, indicou que Moscou vai se opor ao projeto britânico e apresentará uma versão alternativa, indicou a agência russa RIA Novosti.
"Estimamos que os poderes que a Grã Bretanha quer dar à OPAQ pertenecem ao Conselho de Segurança da ONU e é o único órgão que tem o direito de tomar essas decisões", disse.
França e Estados Unidos estimam, no entanto, que é hora de dar um novo papel à Opaq.
Uma fonte diplomática francesa declarou que "o mandato e os meios da Opaq devem se adaptar aos desafios do século XXI".
"Foram projetados em um contexto completamente diferente, para comprovar de forma independente que as grandes potências da Guerra Fria destruíam seus arsenais de armas químicas", indicou a fonte. "Já não estamos nesse contexto, é preciso que adaptar as estruturas e as missões da Opaq à situação atual", destacou.
- A portas fechadas -
Os debates de terça-feira são públicos. Na quarta-feira eles serão a portas fechadas e poderão se estender até a quinta, quando se votará o projeto britânico.
O projeto deve somar uma maioria de dois terços dos votantes. Cento e cinquenta e três países dos 193 Estados-membros da OPAQ disseram que participarão da reunião.
No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia exerceu no ano passado seu direito a veto para pôr fim ao mandato da missão de investigação comum ONU-Opaq, o Joint Investigative Mechanism (JIM), na Síria.
Antes de que seu mandato expirar em dezembro, o JIM determinou que o regime sírio utilizou cloro ou gás sarin pelo menos em quatro ocasiões contra seu próprio povo, e que o grupo Estado Islâmico (EI) usou gás mostarda em 2015.
Tecnicamente, a Opaq é capaz de identificar os responsáveis de um ataque com armas químicas, apontou Uzumcu, que advertiu a comunidade internacional contra a passividade: "não se pode colocar em prática uma cultura da impunidade em torno da utilização de armas químicas".
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