De carona na Lei 5.502/2009, em vigor desde 16 de julho de 2010 e que visa extinguir o uso de sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais, os supermercados estão vendendo sacolas retornáveis a preços entre R$ 2,99 e R$ 7,90. Mas, o JB apurou que, compradas do fabricante em grandes quantidades, a sacola sai até por R$ 1,60, como na Bag’s, de São Paulo. É o lucro ecológico.
Pela lei, o uso das sacolas retornáveis dá aos clientes um desconto de R$ 0,03 a cada cinco ítens comprados. Mas, o consumidor não está tão preocupado com o desconto.
– As bolsas estão caras e o material não é lá essas coisas – diz Eduardo Lage, 23 anos, após pagar R$ 2,99 por uma sacola num supermercado da Tijuca.
A japonesa Yoshie Shibuya também considera caras as bolsas e saiu do mercado com as sacolas de plástico mesmo.
– Elas deveriam custar, no máximo, R$ 1. Ainda mais porque o objetivo é preservar o meio ambiente.
A professora Carmem Ligardi comprou uma bolsa por R$ 2,99, mas também criticou o preço.
– Os mercados dão esse desconto irrisório e lucram muito mais com a venda das bolsas.
As sacolas retornáveis são feitas em lona, ráfia sintética, TNT e PET reciclado. Segundo a professora Débora Alencar, que ensina artesanato há 19 anos, com esses materiais o custo das bolsas deveria ser bem menor.
– São materiais baratos e, havendo uma produção em grande quantidade, o custo de cada bolsa fica ainda menor.
É o que diz Agenor Dantas, gerente da Bag’s, empresa paulista fabricante de sacolas.
– Já tivemos pedidos de até 15 mil unidades e cada uma saiu por R$ 1,60. Quanto maior a quantidade, mais barato.
O presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro, Aylton Fornari, disse que, “no futuro”, os supermercados darão as sacolas. Ele explicou que, mesmo compradas por atacado, não há como baixar o preço no varejo.
– O custo do material ainda é incompatível e fica inviável fixar um preço mais baixo. Mas, daremos as sacolas de graça, quando o custo delas para nós for igual ao da sacola plástica: R$ 0,03 cada – afirma Fornari.
Mercados se defendem
Já a Associação Brasileira dos Supermercados, em São Paulo, só informou que se compromete a reduzir em 40% o consumo das sacolas plásticas até 2015.
Desde 2005, a rede Pão de Açúcar registra a venda de mais de 3 milhões de sacolas retornáveis, mas não divulga o lucro. Só em 2010, foram 1,8 milhão vendidas. Do grupo fazem parte Extra, Sendas, ABC CompreBem e Assaí.
O Extra registra, desde 2008, mais de 1,2 milhão sacolas retornáveis vendidas em suas lojas por todo país. Os preços variam de R$ 2,99 a R$ 7,90.
Já o Assaí oferece dois tipos de sacolas retornáveis em TNT (R$ 3,90) e lona (R$ 7,90).
O Brasil deixou de produzir e consumir 3,9 bilhões de sacolas plásticas entre 2008 e 2010. Para 2011, a redução prevista é de 750 milhões de unidades. Os dados são do Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, do Instituto Nacional do Plástico.
O objetivo é acabar com o uso de produtos feitos de resina sintética como o polietileno, por não serem biodegradáveis e obstruírem a passagem da água nos rios.
Em 2010, o consumo de sacolas plásticas foi de 14 bilhões de unidades.
“O povo é porco”
O ambientalista Mário Moscatelli, da UFRJ, criticou a falta de consciência da maioria da população carioca pelo grande volume de sacolas plásticas jogado nos rios e na Baía da Guanabara.
– Infelizmente, nosso povo é porco e usa os rios e a baía como um grande depósito de lixo – afirma Moscatelli. – Administro o manguezal de Gramacho, de 1,3 milhão de m², há 14 anos, e o maior inimigo não é o plástico, mas o porco que joga o plástico nos rios e na baía.
Moscatelli comemora a redução de 750 milhões de sacolas prevista para este ano.
– Além de menos áreas impactadas, será uma considerável quantidade de lixo que já não vou precisar retirar futuramente – diz o ambientalista.
Sacolas retornáveis precisam ser lavadas
Apesar de serem um avanço ecológico, as sacolas reutilizáveis à venda podem trazer problemas à saúde, como mostra uma pesquisa de cientistas da Universidade do Arizona (EUA), com sacolas usadas por 84 pessoas de diferentes cidades.
O estudo mostrou que metade das sacolas apresentava as bactérias Escherichia Coli e Salmonela, presentes em coliformes fecais, podendo causar infecções intestinais e urinárias.
Descobriu-se que 75% das pessoas misturavam carne e vegetais na mesma sacola, e 97% não lavavam sua sacola retornável, o que propicia a proliferação das bactérias.