A maior dificuldade para nomear mulheres para o alto escalão do governo parece vir dos próprios partidos políticos. de acordo com a secretária nacional de mulheres do pt, laisy moriére, apenas o partido dos trabalhadores indicou mulheres para assumir cargos de destaque no governo de dilma rousseff. para ela, a maioria dos partidos não tem compromisso com a participação feminina no governo.
– há 20 anos o pt estipulou a cota partidária com 30% de mulheres na chapa. atualmente somos maioria no país e não é justo centralizar o poder nas mãos dos homens.
Trata-se de uma questão política e social que tem como vantagem a implantação da democracia – defende.
Entre as mulheres já confirmadas para assumir cargo no primeiro escalão do governo está a jornalista helena chagas, que assumirá a secretaria de comunicação social. entre as cotadas, tereza campelo, assessora da casa civil, poderá assumir o ministério do desenvolvimento social (mds).
E apenas duas mulheres figuram entre os 12 nomes que podem permanecer no governo: graça foster, diretora de gás e energia da petrobrás deve assumir a presidência da estatal e a ministra do meio ambiente, izabella teixeira, poderá permanecer à frente da pasta.
Sem profissionalização eucimara teles, cientista política da ufmg, acredita que as dificuldades vividas pela presidente eleita são fruto do pouco incentivo da participação feminina em partidos políticos. para ela, as mulheres dependem da profissionalização na política, que leva anos para ser conquistada.
– a maioria dos partidos políticos não apóiam a participação das mulheres no poder e por isso temos um pequeno grupo feminino na política brasileira. o que precisa ser feito é a capacitação das mulheres que exercem mais funções legislativas do que executivas – afirma.
Para a diretora do centro feminista de estudos e assessoria (cfemea), guacira oliveira, o critério fundamental para ocupação dos cargos no primeiro escalão é a distribuição entre os partidos que “já mostraram do que são capazes em termos de promoção de igualdade no poder”. ela defende que a questão não é apenas de preconceito ou machismo, mas também de homens que querem se perpetuar nos cargos públicos.
– partidos políticos nunca conseguiram cumprir a cota obrigatória de reserva para mulheres. existe uma estrutura patriarcal em manter homens no poder e, por isso, mulheres com competência técnica perdem espaço na política.
É preciso determinação e vontade política para desocupar cargos tomados por homens – desabafou.
Maria ermínia tavares, cientista política da usp, explica que a presidente eleita terá dificuldades por que os partidos da coligação têm preferências por homens.
– no sistema brasileiro há negociação de cargos entre os partidos coligados. se mais parlamentares fossem eleitas aumentariam as chances de mulheres em cargos no primeiro escalão – avalia.