A Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito para apurar se Paulo Guedes, futuro ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro (PSL), cometeu irregularidades na gestão financeira de fundos de investimento. A PF atendeu pedido do Ministério Público Federal (MPF), que havia requisitado o inquérito no início do mês de outubro.
Chamado de "Posto Ipiranga" pelo presidente eleito e indicado como ministro da Economia por Bolsonaro, Guedes é suspeito de cometer crimes de gestão fraudulenta e temerária à frente de fundos de investimentos (FIPs) que receberam R$ 1 bilhão, entre 2009 e 2013, de fundos de pensão ligados a empresas públicas. Também será apurada a emissão e negociação de títulos imobiliários sem lastros ou garantias.
Entre os fundos de pensão que repassaram valores aos FIPs administrados por Guedes estão a Funcef, da Caixa, Postalis, dos Correios, Previ, do Banco do Brasil e BNDESPar, este fundo de investimento do BNDES. À época dos fatos apurados, os fundos eram geridos por pessoas indicadas pelo PT e PMDB.
A investigação foi aberta com base em relatórios da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) que apontam indícios de fraudes nos aportes feitos pelos fundos de pensão em dois fundos de investimentos criados pela BR Educacional Gestora de Ativos, empresa de Paulo Guedes.
Segundo os relatórios da Previc, os aportes nos FIPs podem ter gerado ganho excessivo a Guedes. Em um dos FIPs, que recebeu cerca de R$ 400 milhões, Guedes ganhou 1,75% sobre o valor aportado pelos fundos de pensão logo após o investimento.
Esse mesmo FIP, segundo a Previc, aplicou os valores recebidos dos fundos de pensão em uma empresa: a HSM Educacional, que era controlada pelo próprio Guedes.
A Previc também viu indício de irregularidades no fato de a HSM Educacional, logo após receber os valores, ter adquirido de uma empresa argentina 100% da companhia HSM Brasil, voltada a projetos educacionais e palestras. Como não era uma empresa listada na Bolsa, o investimento foi feito tendo como base um laudo produzido por outra empresa.
Mesmo com laudo apontando a viabilidade do investimento, a empresa que recebeu o aporte registrou prejuízo, principalmente, por causa da remuneração de palestrantes. Somente com o pagamento desse tipo de serviço, entre 2011 e 2012, a empresa gastou R$ 11,9 milhões. Na mesma época, Guedes viajou o País realizando palestras. O MPF quer descobrir se ele recebeu parte desses valores.
Em nota ao G1, a defesa de Paulo Guedes "reafirma a lisura de todas as operações do fundo que, diga-se de passagem, deu lucro aos cotistas, incluindo os Fundos de Pensão. Espera também que a investigação – agora corretamente conduzida no âmbito da Polícia Federal – apure as incoerências do relatório irregular produzido na Previc".