
Depois da repercussão negativa da indicação de que o presidente Jair Bolsonaro havia contraído pneumonia, o Planalto procurou minimizar, ontem, a gravidade do problema que levou o Hospital Albert Einstein a prorrogar a internação por tempo indeterminado. No final do dia, o perfil de Bolsonaro no Twitter expôs imagens dele em atividade no gabinete presidencial improvisado no hospital, sinalizando a sua melhora.
“Em sonda, alimentado, em recuperação plena, necessária e sem distorções. Agora despachando com o Ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes e com o Subchefe de Assuntos Jurídicos, Jorge Francisco de Oliveira. O Brasil não pode parar!”, dizia a legenda da imagem.
Minutos antes, ao relatar o dia do presidente, o porta-voz, General Otavio do Rêgo Bastos, havia comentado que o presidente estava tão animado com a repentina recuperação observada em 24 horas, que os médicos tiveram que colocar um freio. “Ele recebeu uma reprimenda do doutor. Depois que se sentiu bem, começou a falar. Há que haver por parte dele uma preocupação neste sentido”, disse o porta-voz.

Pela manhã, outra foto no perfil do Twitter mostrou Bolsonaro segurando uma colher com gelatina. O porta-voz confirmou que ele ingeriu na noite anterior um caldo de carne e, pela manhã, a gelatina, seguida de um caldo de galinha.
O boletim médico divulgado no fim do dia apontou que houve “boa evolução clínica nas últimas 24 horas”. O dreno colocado no abdome, há quatro dias, foi retirado pela manhã, assim como a sonda no nariz. “Devido à melhora do quadro intestinal e boa aceitação da dieta líquida, a sonda nasogástrica foi retirada. Permanece com os antibióticos e nutrição parenteral. Estão sendo mantidas as medidas de prevenção de trombose venosa, sendo realizados exercícios respiratórios, de fortalecimento muscular e períodos de caminhada fora do quarto”, dizia ainda o documento assinado pelos médicos que tratam do presidente no Einstein.
O diagnóstico mais otimista veio após o Planalto sofrer críticas por manter o governo paralisado, mesmo com o agravamento da situação de Bolsonaro, internado há quase quinze dias. Questiona-se porque o vice-presidente não assumiu interinamente o comando do país. Na quinta-feira à noite, o Twitter do presidente, ao comentar a descrição do seu estado de saúde pelo porta-voz, dizia “nosso estado de saúde comentado pelo porta-voz da Presidência da República, General Rêgo Barros. Cuidado com o sensacionalismo. Estamos muito tranquilos, bem e seguimos firmes”.
O fato de Mourão ser indemissível, eleito pelo voto popular, permite que ele exponha suas posições e até as do Bolsonaro sobre qualquer tema que seja perguntado. Isso vem dando notoriedade ao vice e arrancado a insatisfação dos núcleos político e familiar de Bolsonaro.
“Há um sentimento conspiratório que não permitiu ao presidente passar o bastão ao vice”, comenta uma fonte palaciana. Não é de hoje que os filhos de Jair Bolsonaro explicitam o clima de desconfiança na relação entre o pai e o vice-presidente. O vereador Carlos, não esconde o receio de que alguém muito próximo do presidente deseje a sua morte, como chegou a publicar no Twitter.
Até o escritor Olavo de Carvalho, espécie de guru dos Bolsonaros, passou a disparar comentários maldosos relacionando Mourão e uma suposta trama de golpe.
Segundo informou ontem Rêgo Bastos, o presidente e o vice conversaram por telefone. Mourão passou informações sobre como correu a semana e Bolsonaro o agradeceu por estar o representando em eventos como o que ocorreu ontem, promovido pelo conselho empresarial Brasil China.

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Anulação de multa é apurada
O Ministério Público Federal (MPF) no Rio abriu um inquérito civil para apurar a anulação da multa ambiental de R$ 10 mil aplicada ao presidente Jair Bolsonaro, então deputado federal em 2012, quando foi flagrado pescando em uma unidade de conservação.
De acordo com a 'Folha de S. Paulo', o inquérito, a cargo do procurador Igor Miranda da Silva, foi aberto no dia 11 de janeiro, dois dias após a anulação da multa ter sido divulgada pela imprensa. O MPF disse que não comentaria o caso neste momento.
No dia 20 de dezembro de 2018, a multa foi anulada pela Superintendência do Ibama no Rio, ainda no governo Michel Temer. A anulação ocorreu após parecer da AGU, segundo o qual Bolsonaro não teve amplo direito de defesa nem teve resguardada a garantia de contraditório.
Em ofício enviado a Bolsonaro em 4 de janeiro, três dias após a posse, a superintendência informou que as decisões contra ele tomadas na 1ª e na 2ª instância do órgão foram anuladas e que seu nome havia sido excluído da lista de devedores da União. O Ibama, via de regra, segue as recomendações da AGU, a não ser que haja conflito com outros posicionamentos da própria AGU ou de outras normas legais. O processo, então, voltou à estaca zero.
Bolsonaro foi flagrado em 25 de janeiro de 2012 em um bote inflável dentro da Estação Ecológica de Tamoios – área protegida que não permite a presença humana – em Angra dos Reis.
A defesa de Bolsonaro sobre a multa foi protocolada no Ibama em 22 de março de 2012. O Ibama afirmou que não havia sido notificado pelo MPF.