Ao final de uma audiência de quase quatro horas na Comissão de Direitos Humanos do Senado, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, disse a senadores e deputados que os conservadores ocupam o poder agora e que é preciso deixá-los mostrar ao país o que eles querem fazer. Segundo ela, se não der certo, eles sairão em quatro anos
"Democracia é alternância de poderes. Estão no poder agora os conservadores. Então, deixa a gente mostrar para o Brasil o que os conservadores querem fazer. Se não der certo, a gente sai daqui a quatro anos. Mas isso é democracia", explicou a ministra aos parlamentares.
Ela defendeu que "o que nos une é maior do que o que nos separa" e garantiu que sua pasta e o governo do presidente Jair Bolsonaro estão abertos ao dialogo. Damares foi convidada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, a expor ao colegiado a perspectiva atual e para os próximos anos da execução das políticas de direitos humanos do governo.
Durante a audiência, a ministra também afirmou aos parlamentares que eles não encontrarão "vertente religiosa" em suas falas como ministra. "Em um mês como ministra, acho que os senhores não conseguiram ver em nenhum momento eu fazer proselitismo. É ministra lá, não uma pastora, mas uma ativista de direitos humanos."
Damares fez a ressalva após a senadora Leila Barros (PSB-DF) demonstrar preocupação com a possibilidade de a ministra, que é evangélica, tomar decisões influenciadas por sua religião. Leila afirmou ser necessário que a ministra avalie os temas de interesse da pasta "de forma efetiva, sem grandes paixões, mas tecnicamente".
"Em nenhuma das falas como ministra, a senhora vai encontrar uma vertente religiosa. A senhora pode ter ouvido muitas falas minhas que foram pinçadas dentro do templo, pregações em que eu nem sabia que estava sendo filmada", rebateu Damares.
Em sua intervenção, a senadora Leila fez questão de destacar que dará voz dentro do Senado às mulheres e à população LGBTI. E disse estar preocupada com políticas públicas voltadas a defender a comunidade, que, de acordo com ela, está sendo dizimada.
Damares respondeu que é "uma mulher que conhece a necessidade da mulher, que está na rua há muitos anos com as mulheres, com travestis, as lésbicas e as crianças". Ela afirmou que o primeiro grupo com o qual o ministério se reuniu foi a comunidade LGBTI. "Nosso ministério está trabalhando muito na proteção dos direitos do LGBTI. A diretoria ficou intacta, inclusive quem eles indicaram. Essa ministra é uma ativista na defesa dos direitos da comunidade LGBTI."
A ministra ponderou, no entanto, ter restrições com relação ao que chama de doutrinação ideológica em escolas. "A ideologia de gênero, da forma como ela foi implantada no Brasil, não trouxe respaldo na proteção do direito da comunidade LGBTI", avaliou.
"Quando os ideólogos de gênero falam que ninguém nasce homem, que ninguém nasce mulher, está mandando o recado também que ninguém nasce gay, que ninguém nasce lésbica, que isso é uma construção social e isso me preocupa muito. Ser travesti, gay é uma construção social, cultural? Me preocupa muito o discurso dos ideólogos", disse a ministra.
Ela disse que os números sobre violência contra a mulher no País "apavoram". "Inadmissível uma nação que se autodeclara cristã ter tanta ocorrência e tanta violência contra a mulher. Não é só violência doméstica. A mulher sofre violência em ônibus, em ponto de ônibus, dentro de avião, nós precisamos entender o que está acontecendo."