O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira que "obviamente" os economistas liberais acreditam em mercados com a menor intervenção possível quando questionado sobre controle artificial de preços, mas destacou não estar falando sobre caso específico.
A jornalistas em Washington, ele disse não haver risco de uma volta no Brasil de política de represamento de preços administrados, a exemplo do que foi feito no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Campos Neto, contudo, não comentou a decisão da Petrobras de recuar na elevação do preço do diesel após pedido do presidente Jair Bolsonaro. A decisão fez as ações da estatal despencarem, sob o temor de ingerência política nos negócios a despeito do time econômico do governo empunhar a bandeira do liberalismo econômico.
"Sobre Petrobras, eu estou no BC. Não tenho nenhum comentário", disse Campos Neto.
"Não tem a menor possibilidade de um dirigente que é presidente do Banco Central falar sobre prática de preços da Petrobras. Acho que isso vai ser esclarecido, o presidente já esclareceu, muito provavelmente outras pessoas do governo vão falar sobre isso. Eu prefiro me ater ao tema do BC", afirmou.
Nesta sexta-feira, Bolsonaro admitiu que telefonou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por causa do reajuste de 5,7 por cento inicialmente anunciado pela estatal no preço do diesel e afirmou que terá de ser convencido do percentual em uma reunião que convocou para a terça-feira com representantes da petroleira.
Quando perguntado sobre o fato de o controle de preços no passado ter exigido do BC uma postura mais dura em relação aos juros, Campos Neto afirmou que o que está na mesa para a autoridade monetária é o resultado líquido de tudo que acontece e o quanto isso impacta no canal de transmissão da inflação.
"O importante para o Banco Central é analisar no somatório todos os fatores, como é que isso se transforma em inflação. Não tenho como comentar um fator isolado", afirmou Campos Neto.
Após encontro com investidores em sua viagem aos Estados Unidos, o presidente do BC também ressaltou que quer priorizar uma ligação mais forte com o investidor estrangeiro, diante de avaliação de que "falta um ponto focal no Brasil no governo" para fazer essa interlocução.
POLÍTICA MONETÁRIA
Sobre a condução da política monetária, Campos Neto apontou que o BC está num período de "esperar para ver", após a economia ter sofrido choques no ano passado.
Há mais de um ano a Selic está estacionada em sua mínima histórica de 6,5 por cento. Apesar da fraqueza na retomada econômica, o BC tem dito em suas comunicações que precisa de tempo para analisar a fundo a atividade antes de eventual mudança de rota nas decisões sobre os juros básicos.
Campos Neto ressaltou nesta sexta-feira que a missão do BC é manter inflação sob controle, e que a autoridade não tem meta de crescimento econômico.
"A parte de crescimento para o BC é um input como outros inputs na tomada de decisão dos juros".