Com a direita rachada, as manifestações pró-governo Bolsonaro realizadas neste domingo (26) pelo país exaltaram projetos encampados pelos ministros Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) e concentraram críticas não só no centrão, alvo já esperado, como no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Os atos foram impulsionados pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL), que, apesar das recomendações de integrantes do governo para que mantivesse distanciamento, estimulou a mobilização ao espalhar imagens em redes sociais e dizer que ela era um "recado àqueles que teimam com velhas práticas".
Ao levar milhares de pessoas às ruas em ao menos 140 cidades, as manifestações superaram a expectativa de aliados do governo em meio ao racha de grupos de direita e ao temor de fracasso devido ao desgaste popular de Bolsonaro nos primeiros meses de mandato.
Nos principais pontos de encontro, como a avenida Paulista, em São Paulo, os participantes ficaram espalhados por quarteirões, e não concentrados, sendo possível se deslocar sem dificuldade.
De modo geral, porém, os atos não foram muito diferentes dos protestos do último dia 15 contra bloqueios de recursos da educação pelo governo Bolsonaro, quando houve mobilizações em ao menos 170 cidades.
Em Brasília, congressistas destacaram que Bolsonaro deu demonstração de força em algumas cidades de Sudeste e Sul, mas que, em uma análise mais ampla, as mobilizações foram aquém dos protestos anti-governo.
As aglomerações deste domingo também não chegaram perto dos principais atos políticos dos últimos anos, como os que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Principalmente em São Paulo, a mobilização pró-reformas teve mais destaque do que a defesa do presidente Bolsonaro.
As reivindicações pela reforma da Previdência, encampada pelo ministro Paulo Guedes, e do pacote anticrime, a cargo do ministro e ex-juiz federal Sergio Moro, constavam da pauta desde que os atos foram gestados, em abril.
Alguns grupos, porém, também enfatizavam mensagens a favor do fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso -temas que afastaram parte dos grupos de direita e acabaram em segundo plano nos principais atos deste domingo.
Parte da bancada do próprio PSL chegou a se opor à mobilização devido às reivindicações dispersas e ao temor que ela insufle a crise política enfrentada do governo para conseguir avançar com suas pautas no Congresso.
O centrão (grupo informal com cerca de 200 deputados de partidos como PP, DEM, PRB, MDB e Solidariedade) demonstrou sua força na última semana, ao colocar em risco a medida provisória da reforma administrativa do governo Bolsonaro que estabeleceu a redução de 29 para 22 ministérios.
O bloco acabou aprovando a MP na Câmara, mas tirando da pasta de Sergio Moro as atribuições do Coaf, órgão que relata transações financeiras suspeitas, que é considerado pelo ministro como estratégico no combate à corrupção e que foi repassado para a alçada da pasta da Economia.
O texto deve ser votado nesta semana no Senado -se não passar até 3 de junho, ele expira, levando à retomada da estrutura do governo vigente na gestão Michel Temer (MDB).
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já teve diversos embates com Bolsonaro e é um dos críticos da desarticulação política do governo.
Por outro lado, é um dos principais articuladores da reforma da Previdência no Congresso -e, após troca de farpas inicial, passou a encampar também as propostas do plano anticrime de Moro. Procurado, ele não quis comentar os protestos deste domingo, dos quais também foi alvo.
No Rio, manifestantes levaram até mesmo um boneco inflável do presidente da Câmara, posicionado ao lado de um pixuleco -como ficou conhecido o boneco "presidiário" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os cartazes contra Maia foram vistos "Não elegemos Maia presidente do Brasil" e "Rodrigo Maia inimigo do Brasil, funcionário do centrão".
A retórica agressiva usada por organizadores dos protestos afastou os movimentos que tradicionalmente mobilizaram atos de direita, como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua.
O PSL liberou seus filiados a participarem. O presidente da sigla, Luciano Bivar, disse não ver sentido nas manifestações.