Um terço dos registros eletrônicos de roubo e furto de celular é rejeitado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Praticamente um terço de todas as queixas de roubo e furto de celulares feitas em São Paulo pela internet, registradas na Delegacia Eletrônica na Secretaria da Segurança Pública, é reprovado pelo governo paulista.
Segundo dados oficiais obtidos pela reportagem via Lei de Acesso à Informação, entre janeiro de 2015 e junho deste ano, foram rejeitados 305.202 registros (uma reprovação por minuto) contra 675.571 aprovados nesse período.
A maior porcentagem de reprovações ocorreu desde o início do ano passado (chega a 34%). Nesse período, as estatísticas de roubo e furto em geral tiveram sequências de queda --especialmente os roubos (25 meses seguidos).
De acordo com o governo, 23,3% de todos os roubos registrados no estado em 2018 envolveram telefones celulares. Os roubos são cometidos com violência ou grave ameaça. Os casos de furtos, não.
Para se ter uma dimensão das reprovações, foram registrados no estado nos primeiros meses deste 394.202 furtos e roubos em geral, incluindo celulares e outros objetos (com exceção de veículos).
Além dos boletins reprovados pelo estado, há, ainda, outras 13.307 tentativas de comunicação de crime não finalizadas pelo cidadão, desde 2018, parte delas porque é exigido o fornecimento do Imei (uma espécie de número do chassi do aparelho celular).
Os boletins são reprovados por motivos variados como o não fornecimento de dados até a comunicação de crime que necessita de exame pericial --nesse caso, apenas a delegacia física pode atuar.
Não é possível dizer, pelos dados fornecidos pelo governo paulista, quantos registros reprovados pela internet foram, posteriormente, refeitos pelo mesmo sistema digital ou elaborados em um distrito.
Também não é possível afirmar, pela falta de informação, se as desistências ocorreram por decisão do reclamante, por falta de dados (como o Imei) ou por falha do sistema. Pessoas ouvidas pela reportagem reclamam de falhas de sistema.
As estatísticas do estado não passam por auditoria externa. Para o especialista em segurança pública Rafael Alcadipani, professor de segurança da FGV, é preciso fazer uma discussão sobre a credibilidade das estatísticas dos estados, incluindo São Paulo.
"Estão de fato de caindo ou o sistema não está funcionando de forma a conseguir registrar bem esses crimes?", diz ele, que também critica a exigência do número de Imei para permitir o registro pela internet.
O Instituto Sou da Paz, que tem um acordo de cooperação com o governo para aprimorar a produção de informação e divulgação de estatísticas, diz desconhecer se a Delegacia Eletrônica tem "auditoria interna ou externa feita", o que considera importante.
Entra as pessoas que não conseguiram registrar queixa pela internet está o desenvolvedor de software Francisco Hugo Siqueira Rosa, 27, de Mauá, na Grande SP, que foi furtado em junho deste ano em uma estação de trem.
Na mesma noite, ele foi pessoalmente a um distrito, mas não havia delegado de plantão e, assim, segundo os funcionários de lá, não havia como fazer o registro. Ao tentar registrar a queixa pela internet, mesmo com os dados necessários, uma falha do sistema impediu a finalização. Desistiu após uma série de tentativas.
Com a gerente de loja, Lindiane Souza da Silva, 30, a situação foi ainda pior. Vítima de um roubo em frente à própria casa em Itapevi, ela foi a delegacia registrar o crime, mas foi informada que deveria fazer o pedido pela internet.
Uma mensagem de "erro inesperado" não a permitiu fazer o registro. Ela continuou tentando durante dois dias, até que seu boletim foi finalmente enviado.
Cinco dias depois, porém, veio a informação de que deveria comparecer a uma delegacia para registrar a queixa no prazo de cinco dias. "Aí eu falei: 'não é possível uma coisa dessas, eu to viajando e que atraso...' Acabei desistindo. É como se não entrasse nas estatísticas que eu fui roubada, porque eu não fui validada."
Outro lado: Estado diz que falhas ocorrem por erros de usuários do sistema A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que a Delegacia Eletrônica, desde 2000, quando foi criada, fez mais de 11 milhões de boletins de ocorrência --1,3 milhão só em 2018.
Quanto a reprovação de um terço dos registros eletrônicos de roubo e furto de celulares, o estado diz que pode ocorrer por inúmeros motivos, todos por falha do usuário, e que há ferramentas de orientações.
"Eles podem acontecer em razão do preenchimento incorreto dos dados, de narrativas divergentes à natureza criminal informada, descrição de fatos --roubo ao invés de furto-- histórico sem fatos detalhados do ocorrido, narrativa de fato diverso às naturezas permitidas para registro pela internet, entre outros."
"Caso a dúvida persista, o usuário poderá contatar a Polícia Civil pelo telefone ou email para orientações. A página da delegacia eletrônica conta ainda com uma central de dúvidas frequentes para que os usuários possam se orientar para o preenchimento das ocorrências."
Segundo a Polícia Civil, está em desenvolvimento uma ferramenta para melhorar os atendimentos. A ideia é que os dados preenchidos pela internet no pedido indeferido sejam reutilizados na delegacia física para agilizar o atendimento.
Sobre a exigência do Imei, informa que tem como "objetivo de evitar fraudes no relato do BO e inibir ação de criminosos facilitando a identificação do aparelho, se recuperado, e possibilitando o bloqueio do dispositivo e da linha junto às operadoras".
O governo diz ainda que as auditorias dos dados são disciplinadas por portarias de 1999 e 2001.
Sobre os casos mencionados na reportagem, a pasta diz que foram registrados e estão sendo apurados.
Como fazer um B.O. eletrônico e achar o Imei de seu aparelho Acesse delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br e tenha em mãos o Imei do aparelho
Para descobrir o Imei
Disque, no celular, o código *#06# Caso seu aparelho tenha sido roubado, é possível consultar na nota fiscal ou acessar os sites google.com/android/find (se o sistema operacional for Android) e appleid.apple.com (se for Iphone)