Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se referir a Paulo Freire (1921-1997) como "energúmeno", a Câmara Municipal de Salvador aprovou um projeto de lei que retira do nome do educador de uma escola municipal da capital baiana.
De autoria do vereador Alexandre Aleluia (DEM), o projeto prevê a mudança do nome da escola municipal Educador Paulo Freire para escola municipal José Bonifácio, em homenagem ao patriarca da Independência do Brasil. Fundada em 1997, a escola tem 264 alunos e fica no bairro do Arraial do Retiro, periferia de Salvador.
Para valer como lei, a proposta de mudança ainda precisa passar por sanção do prefeito ACM Neto (DEM). Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire é considerado um dos principais pensadores da pedagogia mundial e ganhou notoriedade ao desenvolver um de alfabetização que estimula a valorização do saber do aluno e o aprendizado como forma de transformação política.
Ao propor o projeto de mudança do nome da escola, o vereador afirmou que "graças ao método construtivista de Paulo Freire implantado nas escolas", o país ocupa hoje as últimas posições do mundo na questão da qualidade de ensino. "Afinal, que homenagem Paulo Freire merece?", questionou Aleluia, que defendeu a homenagem a José Bonifácio para homenagear "os verdadeiros brasileiros que realmente contribuíram para o desenvolvimento do país".
Mesmo filiado ao DEM, Alexandre Aleluia é um dos principais nomes do bolsonarismo na Bahia e deve migrar para o novo partido que está sendo formado pelo presidente, a Aliança pelo Brasil. Ele é filho do ex-deputado federal José Carlos Aleluia, que ocupa o cargo de assessor especial do ministério da Saúde na gestão Jair Bolsonaro, além de ter um assento remunerado no conselho de Itaipu Binacional.
A mudança do nome da escola foi criticada pela comunidade escolar, que afirma que em nenhum momento foi consultada sobre a mudança de nome. "Estamos surpresos e perplexos. Foi algo que aconteceu de repente, sem o nosso conhecimento. Não concordamos com esta mudança", afirma a diretora da escola Rose Tatiane Barreto, 45.
Também houve críticas de vereadores da oposição e da base do prefeito ACM Neto. Líder do PT na Câmara Municipal, a vereadora Marta Rodrigues afirmou que o projeto foi incluído na pauta de última hora e votado sem a explicação de que haveria a retirada do nome de Paulo Freire da escola. "A intenção do projeto de Aleluia é claramente perseguir Paulo Freire por causa do ódio que ele nutre pelo pedagogo, assim como o presidente Bolsonaro. [Ele quer] afrontar professores e todos aqueles que prezam pela diversidade e pluralidade na educação", afirma.
O vereado Téo Senna (PHS), que é aliado do prefeito e tem base eleitoral no bairro de Arraial do Retiro, também criticou a alteração do nome da escola. "É muito triste ver situações em que a mera questão ideológica vai de encontro com a vida das pessoas. Como uma pessoa que nunca pisou em Arraial do Retiro quer mudar aleatoriamente o nome de uma escola?", afirmou.
O educador Paulo Freire tem sido alvo de constantes críticas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Educação Abraham Weintraub. Na última segunda-feira (16), Bolsonaro criticou Freire ao defender o cancelamento de contrato do Ministério da Educação com a TV Escola. "Era uma programação totalmente de esquerda. Ideologia de gênero. Tem que mudar. Daqui 5, 10 anos vai ter reflexo disso aí. 30 anos em cima dessa ideologia aí desse Paulo Freire, desse energúmeno aí que foi ídolo da esquerda", afirmou o presidente. (João Pedro Pitombo/FolhaPress)
NOTA DA REDAÇÃO:
Caso sancione o projeto, o prefeito ACM Neto fará jus a seu apelido: "miúdo"