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Feliz ano velho

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É aniversário do Rio de Janeiro e véspera de carnaval. No entanto, o clima não é de comemoração. O ano de 2019 começou com péssimas notícias para a cidade e sensação de dejàvu. Enquanto ainda se recupera do incêndio do Museu Nacional, no ano passado, outro incêndio, desta vez, no Centro de Treinamento do Flamengo, comoveu a população e abreviou o sonho de dez jovens jogadores.

Se não há prevenção ou planejamento, nada é esperado. A qualquer hora a cidade pode ser surpreendida por outra tragédia que poderia ser evitada. Na semana anterior, outras vidas foram perdidas, mais uma vez, "por culpa das fortes chuvas". Uma das regiões mais atingidas foi a Rocinha, evidenciando a necessidade de urbanização real das favelas e não apenas da pintura de suas fachadas. Como resposta, o governo avaliou que é preciso combater a ocupação desordenada dos espaços. Contudo, de nada adianta esse combate se não há uma política habitacional capaz de reduzir o déficit de moradias.

No mesmo episódio, o terceiro trecho da ciclovia Tim Maia, que custou R$ 45 milhões aos cofres públicos, desabou após deslizamento de terra. Pela terceira vez ficou evidente a importância da contratação de obras públicas com base em projetos completos, em que a responsabilidade da construção e da fiscalização esteja sob a responsabilidade de diferentes atores. A contratação por meio do projeto executivo proporciona maior controle sobre materiais e custos da obra, evitando surpresas desagradáveis.

Em declarações recentes, Crivella atribuiu a queda do primeiro trecho da ciclovia a uma "hipótese super-remota": uma onda muito forte. O reforço da estrutura foi seguido de outro "improbabilíssimo" fator, o deslizamento da encosta. Ao se deparar com uma obra fadada ao fracasso, com custo adicional de R$ 10 a R$ 15 milhões para sua demolição, o prefeito pretende abrir uma consulta pública sobre o destino da ciclovia. A participação popular é louvável, mas está um pouco atrasada, já que a sociedade não foi questionada antes da construção da ciclovia.

Em meio aos desastres públicos e particulares deste começo de ano, o título que o Rio recebeu da Unesco, de Capital Mundial da Arquitetura, soa como um alento. No entanto, sua comemoração é sempre acompanhada de um "apesar". "Apesar dos problemas, nossa cidade é maravilhosa, paisagem cultural urbana, reconhecida internacionalmente, como patrimônio da humanidade".

O Rio foi escolhido porque sediará, em 2020, o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, promovido pela União Internacional dos Arquitetos, com organização do Instituto de Arquitetos do Brasil e apoio do Conselho de Arquitetura de Urbanismo do Rio. A expectativa é que o evento atraia entre 15 mil e 20 mil profissionais de todo o mundo, segundo informação dos organizadores do Congresso. Os desafios urbanos estão na pauta do congresso, com foco em quatro eixos temáticos: diversidade e mistura; mudanças e emergências; fragilidades e desigualdades; e transitoriedades e fluxos.

Os arquitetos e urbanistas têm papel fundamental para o planejamento e ocupação do território das cidades, para a conservação do patrimônio histórico-cultural, para a segurança dos espaços construídos. Possuem também as competências necessárias para a construção de cidades mais justas e seguras. Enquanto a sociedade e a esfera pública não pararem de negligenciar o planejamento e a prevenção, o Rio de Janeiro continuará sendo uma cidade de pesares e apesares.

No apagar das velinhas, o desejo é que o Rio de Janeiro se torne uma cidade para todos, inclusiva, com planejamento urbano, participação popular, sustentável, segura e que preserva seu patrimônio. Enfim, digna dos títulos que ostenta.

* Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ)